De manhã cedo – cerca de 7 horas – uma senhora pediu um copo d’água no portão de casa. Achei isso muito estranho e mil pensamentos vieram-me à cabeça – ninguém pede água na casa dos outros a essa hora da manhã –, mas, embora receosa, alcancei-lhe a água por entre as grades do portão. Assim que levou o copo à boca e tirou uns três goles, ao mesmo tempo em que segurava o celular como se estivesse falando com alguém, a mulher despencou no chão. Levei um tremendo susto, mais por medo de uma encenação do que pelo fato em si da mulher estar ali caída, possivelmente precisando de ajuda. Corri de volta pra dentro de casa, chamando mais gente e quando retornei, um vizinho já estava socorrendo a mulher.
Assim que acordou do desmaio, ela explicou que é do interior, está doente e faz tratamento de saúde em Cuiabá. Estava procurando a casa onde iria se hospedar, mas acabou se perdendo. O próprio vizinho ligou para uma amiga dela e combinou de deixá-la em um ponto de referência. E eu fiquei ali, condoída, morrendo de remorso e pensando: que mundo é este em que a gente fica com medo de alcançar um copo d’água ou de socorrer uma pessoa que desmaia no portão de nossa casa?
Mas, depois de refletir um pouquinho, concluí que o mundo em que estamos vivendo é esse mesmo. E não combina com a nossa bondade, com o nosso sentimento de compaixão, com o nosso desejo de ajudar.
O perigo está morando cada vez mais perto e bate na nossa porta com a cara mais deslavada do mundo. E, sem qualquer escrúpulo, aposta justamente no nosso coração mole e dele se aproveita para promover o mal.
Então, ainda convém ter cautela. Mesmo que – e isso é muito triste – ao custo de perder uma oportunidade de fazer o bem.