segunda-feira, 30 de maio de 2011

Livros, escritores e leitores


Neste fim de semana li A vida sexual da Mulher Feia, da gaúcha Claudia Tajes. Ta estranhando o título? Pois eu também estranhei. Mas, saiba que o livro reflete exatamente o título que tem. E é hilário. Às vezes, um tanto patético, cruel até. O que não é nenhuma surpresa nesses tempos em que se cultua tanto a beleza física.

Falando de literatura, tive o prazer de assistir a uma palestra com o jornalista, escritor e cronista Ignácio de Loyola Brandão. O maravilhoso escritor é também um magnífico orador. E que veia cômica! Virei sua admiradora.

Como parte do programa, participei de uma oficina de leitura, onde ficou evidenciada a presença maciça de pedagogas – ai, esse termo pedagoga carrega um charme, uma elegância, um não sei o quê de sofisticação.

Pois, então, as pedagogas que lá estavam, praticamente todas elas desempenhando o ofício de ensinar, são, a maioria delas, péssimas leitoras. Com uma ou outra exceção, descobriram a necessidade – não o prazer – de ler somente quando chegaram à universidade. É óbvio que seus alunos serão, também, péssimos leitores, afora um ou outro que receba estímulos dos pais ou de algum amigo dos livros.

É lamentável essa falta de interesse pela leitura, que produz levas de estudantes que escrevem absurdamente mal. E que também são pouco criativos. Além de que deixam escapar a oportunidade de embarcar nas deliciosas viagens e aventuras que os livros proporcionam a quem a eles se entrega.

E, voltando à oficina, uma experiência relatada lá me fascinou: a de uma mulher que tomou gosto pela leitura através de sua babá, que, curiosamente, não sabia ler. “A babá me contava histórias e me mostrava os livros onde – dizia – eu poderia descobrir muito mais, o que ela não podia fazer, pois não sabia ler”, contou. Dá para imaginar o tamanho da capacidade inventiva dessa babá, caso soubesse ler?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O homem da cobra

Há quanto tempo eu não via um “homem da cobra”, aquele artista-vendedor de medicamentos que se apresenta nas praças das cidades e que popularizou a expressão “fala mais que o homem da cobra”. Pois bem, o homem da cobra estava lá, numa barraquinha na feira de domingo, polarizando a atenção das pessoas e prometendo mostrar uma tal cascavel que, embora eu tenha permanecido um tempo por ali, cansei de esperar para ver. Também não confirmei se ele serviu a poção que estava sendo preparada num pilão onde de pouco em pouco ele acrescentava uma pitada de diferentes tipos de ervas, e que prometeu compartilhar gratuitamente com quem quisesse.

Com um cocar na cabeça e se passando por índio – embora de índio ele não tivesse nada mais do que o enfeite no cocuruto – o sujeito falava tanto quanto o homem da cobra e ilustrava sua conversa com figuras estampadas em folhas amareladas e puídas que despertavam a atenção dos passantes. Fotografias e desenhos de partes do corpo humano tomadas de úlceras, para cujos males ele indicava o remédio, povoavam aquelas páginas. Algumas fotografias de índios nus também faziam parte do acervo mostrado, com a indicação de que se tratava de parentes seus. “Esta é minha sobrinha, aquele é meu irmão”, apontava nas fotos desgastadas, atribuindo a boa forma física da “parentela” aos costumes indígenas e ao uso constante das ervas.

Enquanto desfiava um rosário de doenças que podem acometer o ser humano, o homem exibia uma coleção de vidros contendo vermes, lombrigas e outros bichos extraídos, segundo ele, de pessoas doentes. E o povo se acotovelava para ver aquele espetáculo de horror. É assombroso como as pessoas têm prazer diante da visão do que é sinistro.

Bem, como não fiquei para o chá, não vi a cobra. E nem o que esse marketing todo rendeu ao dono da cobra. Quem sabe num outro domingo...