domingo, 28 de abril de 2013

Eu caminho, tu caminhas...



Tenho um amigo que costuma dizer que não faz caminhada porque caminhar engorda. “Pelo menos, eu só vejo gente gorda fazendo caminhada”, brinca ele, que, ao contrário do que diz, é adepto do esporte e faz longos percursos no seu tempo livre.
Brincadeiras à parte, “caminhar é a mais simples de todas as atividades físicas e uma forma surpreendentemente eficaz de emagrecer e tonificar o corpo”, conforme estudos realizados em centros de pesquisas de vários países.
Até eu, que prefiro me exercitar girando o controle da TV ou movendo o mouse do computador ou folheando um livro ou ficando à toa, esparramada numa cadeira de fio, na cama ou no sofá, estou aderindo à prática. Os meus motivos são: não enferrujar, consumir as calorias presentes nas minhas porções diárias de chocolate, capuccino e docinhos diversos e – insisto – não enferrujar, porque, convenhamos, é chato, senão trágico, quando você começa a ouvir “crec” cada vez que movimenta a perna, o braço, ou mexe o pescoço. Parece que vai começar a quebrar.
Pois nessas caminhadas que, no meu caso, acontecem de manhã cedo, no parque, a gente vê um pouco de tudo; gente feia, gente bonita, gente nova, gente velha, gente magra, (muita) gente gorda, gente vestida adequadamente, gente que parece que esqueceu de tirar o pijama, gente charmosa, gente espalhafatosa e, o pior de tudo: quanta gente mal humorada!
Não sei os motivos que tiram o humor dessas pessoas, se acordar cedo, se o próprio exercício de caminhar, se a natureza delas. O que sei é que elas estão no contraponto de outras, que transpiram alegria que sorriem, que dão bom dia, que parecem ter mais leveza no andar.
Caminhar virou quase uma obrigatoriedade. Por trás do compromisso, geralmente está uma ordem médica, enérgica e implacável. É claro que também tem os que gostam de aderir aos modismos, os que querem impressionar alguém, os que “vou porque o fulano está indo”. Mas, que a moda pegou, pegou.
E o melhor da festa vem depois, quando a gente faz uma parada na padaria para comprar pão quentinho. Afinal, ninguém é de ferro, né?

domingo, 21 de abril de 2013

O tomate faz o show



Na esquina de casa, a caminho da padaria, lá estava ela, esparramada no chão sujo da rua: uma rodela de tomate. Para ser bem precisa, era uma bela rodela de tomate, vermelha e suculenta, daquelas que a gente coloca com gosto no prato e tem o maior prazer em degustar.
Inquiri meus botões sobre aquele desperdício e não cheguei a outra conclusão senão o fato de que aquela fatia de tomate havia escorregado para fora de um sanduíche ou de uma salada mal acondicionada para viagem. Sequer me ocorreu a ideia de que alguém pudesse cometer o disparate de jogar fora. Sim, porque isso seria uma heresia nesses tempos em que o preço do tomate está pela hora da morte.
Aliás, o tomate virou inimigo público número 1, uma glória para esse vegetal que vive a nos confundir se é fruta, verdura ou legume e que tem um histórico de passar despercebido pelas cozinhas e feiras. Nem lendário como a maçã, ou afrodisíaco como o morango, ou glamouroso como a pitaia, ou ainda popular como a banana, o tomate sempre viveu longe dos holofotes.
Agora é sua vez de brilhar, no noticiário econômico, nas piadas dos internautas, nas promoções dos supermercados e até nas propagandas de ketchup. Tem até um concurso de rádio que promete ao ouvinte ganhador uma cesta de tomates fresquinhos.  
É, o tomate está virando a mesa. E se tornando a atração principal do show.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O colar



Adoro fábulas. Entre os meus escritores de fábulas favoritos está Jean de La Fontaine, com sua cegonhas, sua raposas, seus ratos e seus cordeiros cheios de moral. Mas a minha fábula preferida é A Revolução dos Bichos, do escritor inglês George Orwell, uma sátira que retrata, através da figura de animais, a sedução do poder e as fraquezas humanas.

O que transcrevo a seguir não é exatamente uma fábula, é um texto para reflexão, de autor desconhecido pelo que consegui apurar, mas cujo conteúdo gostaria de compartilhar:

 

“O homem por detrás do balcão olhava a rua de forma distraída, enquanto uma garotinha se aproximava da loja. Ela amassou o narizinho contra o vidro da vitrine e seus olhos da cor do céu brilharam quando viu determinado objeto.
Ela entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesas azuis.
– É para minha irmã. Você pode fazer um pacote bem bonito?
O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:
– Quanto dinheiro você tem?
Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão e, feliz, disse:
– Isto dá, não dá?
Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.
– Sabe – continuou – eu quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que morreu nossa mãe, ela cuida da gente e não tem tempo para ela. Hoje é aniversário dela e tenho certeza que ela ficará feliz com o colar que é da cor dos olhos dela.
O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.
– Tome – disse para a garota – Leve com cuidado.
Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo.
Ainda não acabara o dia, quando uma linda jovem de maravilhosos olhos azuis adentrou a loja, colocou sobre o balcão o embrulho desfeito e indagou:
– Este colar foi comprado aqui?
– Sim senhora.
– E quanto custou?
– Ah! – falou o dono da loja – o preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o freguês.
– Mas minha irmã somente tinha algumas moedas. E esse colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagar por ele.
O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem:
– Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar. Ela deu tudo o que tinha!
O silêncio encheu a pequena loja, e lágrimas rolaram pela face da jovem, enquanto suas mãos tomavam o embrulho e, emocionada, ela retornava ao lar.”