Nunca me dei muito bem com as panelas. Na divisão de
tarefas, sempre me couberam melhor a vassoura, o balde e o pano de chão. Provavelmente
pela reconhecida falta de habilidade com elas, as panelas.
Com o passar do tempo, às vezes pela necessidade e
gradativamente pelo prazer, fui me afeiçoando a elas e exercitando, com elas,
meus acanhados dotes culinários. Um macarrãozinho aqui, um arrozinho ali, um
bifinho acolá e... uma lacuna imensa no cardápio: o feijão.
Por conta de um acidente doméstico que eu não cheguei
a presenciar, mas que me traumatizou em razão do rombo provocado no teto de
casa em decorrência de uma explosão, a panela de pressão sempre me amedrontou.
E se transformou numa barreira entre eu e o feijão (cozinhar feijão em panela
comum, não dá, né?).
Os anos foram passando e sempre que colocar a comida
na mesa dependia de mim, a lacuna estava lá, gritando nos meus ouvidos a
bendita ausência do feijão. Vez ou outra pedia a minha cunhada ou à vizinha que
cozinhassem o feijão para mim, o que elas faziam na minha própria panela de
pressão.
E assim foi até que um belo dia eu decretei que
estava na hora de mudar isso. “Depois de superar tantos desafios, não será uma
panela de pressão que irá me vencer”, filosofei e meti a mão na massa, digo no
feijão. E deu certo, tão certo que nunca mais faltou feijão na mesa. Até sobrou
ousadia para preparar um prato que amo de paixão: lagarto de panela de pressão!