Quase não acreditei quando a vi, passando por uma rua num
bairro da cidade: uma casa com cerca de madeira, quintal de chão batido,
florezinhas amarelas e vermelhas e... uma saudade medonha!
Assim eram nossas casas nos meus tempos de guria. Com
portõezinhos fechados na tramela que podiam ser abertos pelo lado de fora,
enfiando-se a mão pelos vãos. E que às vezes rangiam por falta de graxa.
E me lembrei da Dona Filhinha, que em meio as flores
do seu quintal tinha um poço artesiano, de manivela, daqueles que o balde desce
cantando e sobe transbordando de água.
E me lembrei dos bolos feitos de terra, das
fazendinhas com gado de osso, das incursões pelos quintais alheios à cata de
“preciosidades” que pudessem incrementar as brincadeiras.
E dos pés de caqui, onde nos pendurávamos para
brincar de circo.
E das frutinhas de sinamomo que os meninos usavam nos
bodoques.
E dos pés de pitanga que adoçavam ainda mais os
nossos piqueniques.
E dos nossos próprios pés no chão.
E não tive como não me lembrar das prisões em que
transformamos nossas casas, atrás de altos muros e grossas grades de ferro, com
pátios inteiros de concreto e sem uma única árvore para fazer sombra, colher
uma fruta ou fazer um balanço pra criança brincar.