domingo, 8 de março de 2009

Mulher sofre...


Estou há uma semana tentando resolver o problema de um controle de um aparelho de ar condicionado que parou de funcionar. Já fui cinco vezes até a loja e continuo sem o controle e sem poder ligar o aparelho. Fora as ligações telefônicas, mais de quatro vezes só hoje. Ora o técnico saiu, ora não pode atender, “mas, fique tranquila que ele vai ligar para a senhora”. E eu me tranquilizei. Tanto que, quando me dei conta, o dia tinha terminado e não restava mais nada a fazer.
Agora, pensando aqui com meus botões, a ficha caiu: é claro que isso acontece porque eu sou mulher. Com certeza, se fosse um homem, o tratamento seria outro. Acho que um homem não se sujeitaria a isso. Ele já teria “quebrado o pau”, por telefone ou pessoalmente. E as pessoas sabem disso. Então, os abusos sobram para nós, mulheres. Tenho visto muito disso por aí. Aliás, tenho sido alvo constante dessas diferenças. Posso citar vários exemplos: um dono de empresa de comunicação visual que segura o pagamento de comissões de serviços, outro que paga abaixo do combinado, um prestador de serviço que faz o trabalho pela metade, e por aí afora.

É sério, gente! Tão sério que às vezes penso que o melhor seria contratar um homem para cuidar de tudo para mim e, por extensão, me defender da discriminação. É claro que tem as exceções. E elas lavam a alma da gente. E servem para indicar que nem tudo está perdido. Que ainda é possível construir um mundo de maior respeito para com as mulheres. Para o bem delas. E dos homens também.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Legal é ser ilegal


Precisei ir ao cartório ontem e, não fosse a urgência do documento a ser autenticado, teria voltado embora da porta. O estabelecimento estava lotado. Para minha surpresa, o número da senha não correspondia com o movimento e quase que imediatamente fui atendida. O amigo que me acompanhava comentou que as pessoas estavam ali por outros motivos, provavelmente para regularizar escrituras. “É a crise”, disse ele, e ainda fez uma brincadeira: “acabei de ver um senhor que estava até branco com o documento nas mãos, decerto que pensando que agora não tem mais jeito, a posse já está mudando de mãos”.
Mas não é esse era sobre isso que eu queria falar e sim de que um dia desses um amigo precisava fazer uma procuração em nome de seu pai, que estava hospitalizado, transferindo poderes para que o filho fizesse uma transação comercial. Fui com ele ao cartório, que exigia, para fazer o documento, a assinatura de três testemunhas e um atestado médico confirmando a capacidade mental do doente, além de uma cópia de seus documentos, incluindo a certidão de casamento.
De posse desses papéis, um funcionário do cartório iria até o hospital, não para pegar uma assinatura, porque o doente estava incapacitado para tal, e sim para fazer uma confirmação in loco. Obviamente que isso não poderia ser feito na mesma tarde, porque teria que agendar a ida ao hospital para o dia seguinte.
Enquanto se agilizava as providências para o tal procedimento, inclusive o arrolamento de testemunhas, o meu amigo descobriu um outro caminho que resolveu seu problema com muito mais agilidade. Alguém lhe indicou uma pessoa que por R$ 300,00 obteve o documento que ele precisava naquele mesmo dia.
Eu vi a natureza da procuração e não havia nada de lesivo nela, era simplesmente uma autorização para movimentar uma carga. Mas fiquei sabendo que, por um pouco mais, meu amigo poderia ter conseguido uma procuração com plenos poderes.
Então, é assim que as coisas funcionam: a legalidade é só para uns, para quem insiste em trilhar o caminho do certo, do correto. Para quem não quer se desviar da rota da moralidade. E esse caminho é burocrático, repleto de exigências a serem cumpridas. Já o outro não. Desde que se pague o preço, portas se abrem, assinaturas são concedidas, documentos deixam de ser necessários e tudo fica “legal”.
Nada extraordinário, num país onde as leis são descumpridas por decreto e a corrupção e a impunidade são marcas registradas da sociedade. Um país onde as pessoas se envergonham de se declarar honestas. Um país onde ter vergonha na cara é sinônimo de caretice.