A mulher alisava a mancha escura situada na
extremidade da face esquerda, no pé do cabelo na região da costeleta.
– Tem dias em que a coceira é insuportável – falou,
expondo, para quem quisesse ver a nódoa, segundo ela de nascença – minha mãe
passou vontade de comer ameixa na minha gravidez – explicou – e eu nasci assim,
com a marca da vontade dela.
As garotas em volta riram, menos uma, a que estava
grávida e que a partir de então passou a viver obcecada, com medo de imprimir
na pele do filhote que carregava no ventre a mancha de suas vontades, que eram
tantas e as mais extravagantes possíveis.
Ainda naquele dia amanhecera com desejo de comer abacate.
Mal o formulou e já chegava o marido carregando uma meia dúzia de abacates que
tratou de ir logo servindo – com leite, querida? Não quero que nosso filho
venha ao mundo com cara de abacate – ele falou, antes de dar uma sonora
gargalhada.
Assim que chegou em casa falou ao companheiro que
essa coisa de gestante passar vontade era coisa séria e que tinha visto uma
prova disso na cara de uma mulher que carregava uma mancha por conta do desejo
da mãe de comer ameixa. Aos prantos, disse que estava morrendo de medo do filho
sair com cara de fruta. Ele riu e a tranquilizou de que tudo não passava de
superstição popular.
Pois quanto mais ela refletia sobre o acontecido,
mais vontades lhe eram despertadas. Tanto que o marido – coitado! – vivia
correndo atrás de atender seus desejos que não se restringiam mais ao campo das
frutíferas. Além de carambola, pêssego e uva, a futura mamãe incrementou seus
pedidos: chocolate, torta de morango, sorvete de tamarindo – não pode ser de maracujá?
–, risoto de camarão, leitão à pururuca.
Num domingo de setembro, a futura mamãe
anunciou ao futuro papai que desejava ardentemente comer rã. E à provençal. – Rã? Onde vou encontrar
rã? Se você quiser saber, mamãe faz um frango à provençal que é um luxo! – ele
insistiu, alegando, inclusive, que o sabor da rã é muito parecido com o do
frango.
Mas ela não queria saber nem de frango nem de nada
que não fosse rã.
E o pobre marido saiu em busca de satisfazer o desejo
da mulher. Porém, todas as suas tentativas foram em vão. Não havia carne de rã
disponível no mercado. Havia carne de jacaré.
– Jacaré tem gosto de peixe! – ele ponderou ao
vendedor.
– Mas tem a consistência do frango e se temperar bem,
não dá para perceber – considerou o astuto vendedor.
Vencido, ele comprou uma generosa porção de jacaré e
levou para sua mãe preparar como se fosse
rã. O prato ficou delicioso e a gravidazinha, satisfeita.
Quando o bebê
nasceu, uma menininha de narizinho arrebitado tal qual a mãe, o pai foi o
primeiro a ver o desenho feito uma tatuagem na panturrilha da filha. Assombrado,
ele constatou que o desenho retratava uma gorda e vistosa rã.
Já ouvi muita estória de grávida com desejo. Ainda bem que a minha Amélia não teve essas vontades.
ResponderExcluirhehehehe
ResponderExcluirVai sobrar pra ele...