Dia desses a filha de uma amiga minha, prestes a
completar seis anos de idade, me pediu uma boneca de presente. Quase enfartei!
Que menina com mais de quatro anos quer ganhar uma boneca? Ainda dentro das
fraldas, as meninas já estão desejando celular, tablet, câmera, filmadora, sapato
de salto, maquiagem, roupa da moda e, entre outras coisinhas, jogos de
computador, principalmente os que envolvem moda, maquiagem e dicas de beleza.
Tanto que encontrei na Internet alguns vídeos em que garotinhas
de 6, de 7, de 8 anos ensinam outras garotinhas a se maquiarem, usando
inclusive base e rímel, que eu pensava que fossem de uso exclusivo de gente
adulta. E elas não fazem isso para ir a uma festa, para participar de um
espetáculo ou para um evento de gala, mas principalmente para ir à escola.
Para essas meninas, fazer maquiagem não é uma
brincadeira de criança. É a satisfação de uma vaidade a meu ver extremamente
precoce. Que começa dentro de casa, sob aplausos e incentivo das próprias mães,
orgulhosas da prematuridade de suas “mocinhas”. Com esse aval, as “mocinhas”
estão indo muito mais além: marcam hora no salão, esticam os cachinhos com
escova progressiva, fazem as unhas e – pasme – depilam as pernas.
Ao contrário dessas mães “antenadas”, não acho isso
uma gracinha e não me incomodo nem um pouco de passar por quadrada, por careta
ou por qualquer coisa que seja. O fato é que acho um absurdo esse estímulo à erotização
infantil, que coloca em risco, inclusive, a vida das próprias garotas, vítimas
frequentes de gravidez na adolescência, de distúrbios alimentares como bulimia
e anorexia, e de cirurgias plásticas em corpos ainda em desenvolvimento.
Ouvi de um psicólogo que pular a infância é o mesmo
que querer ler antes de começar a falar. E a infância é uma fase em que as
crianças deveriam estar preocupadas em brincar, de boneca, de bola, de pular
corda, de pega-pega, de qualquer coisa, e não em seguir os padrões da moda e se
tornar adulta antes da hora. Mesmo que a mídia teime em vender sexualidade 24
horas por dia. E cabe principalmente aos pais impedir que essa ousadia invada sua casa.
Quanto à garotinha lá do início, a filha da minha
amiga, quer saber se atendi o desejo dela? É claro que sim. Comprei uma boneca
lindona, ao estilo do que ela havia pedido. Só que quatro ou cinco dias depois,
ela se saiu com essa: “e um tablet, tia, você pode comprar pra mim?”