Quando entrei no banco para fazer um depósito em
pagamento a um serviço, ele estava na porta. Quando saí, ele continuava lá,
apoiado sobre as muletas com seu ar desconsolado. Percebi que as pessoas
passavam por ele indiferentes ou lançavam-lhe um olhar de enfado. Pensei comigo
que aquele homem velho deveria estar em sua casa amparado pela previdência e
não ali, na porta do banco, mendigando. Cheguei perto dele e perguntei de sua
aposentadoria e ele me respondeu que estava aguardando a liberação. Estendi-lhe
um trocado e segui em frente.
Cerca de 10 minutos depois, na porta dos Correios,
uma mulher pedia dinheiro, não com a boca, com os dedos apontados, enquanto
emitia um som estranho, como quem não consegue falar.
E logo, uma outra situação: sentado numa cadeira alta
sobre o canteiro da praça, o malandro chamava a atenção das pessoas, com seu
discurso: “ei, meu rei, ei minha rainha! Paga um café aí, dá um troco aí!”. –
Cínica essa majestade, pensei.
Não precisei de mais do que meia hora e nem de andar
dois quarteirões para ver essas cenas e, de volta para pegar o carro, comentei
o fato com o dono do estacionamento, que riu, e me perguntou:
– E a mulher das receitas, que pede dinheiro pra
comprar remédio, não encontrou com ela, não? E nem com a moça bem vestida que
perdeu a bolsa e não tem como voltar pra casa?
E, então, eu entendi a indiferença das pessoas com o
velho do banco, que é, na verdade, como os demais, um velho conhecido da gente que circula
todos os dias por ali.
A propósito, ele é perfeitamente normal e a muleta é
só um enfeite. Um enfeite que enfeita a cena e funciona, pelo menos para os que
passam por ali a primeira vez.