domingo, 22 de fevereiro de 2009

O peso da cor


Tenho uma amiga que está tentando seguir carreira no mundo da moda. Ela é bonita, corpo enxuto, desfila superbem, porém é morena. Esse “porém” está lhe criando uma dificuldade medonha para entrar no mercado. Preconceito velado? Não. Preconceito declarado. “Você é muito morena”, disseram-lhe. Com todas as letras. E ninguém ficou vermelho ao dizer isso.
Essa história não aconteceu na Alemanha, nem na Itália, nem na Áustria. Foi aqui no Brasil mesmo, um país que tem na miscigenação um aspecto tão peculiar de sua cultura. Um país onde, desde a época colonial, se misturam brancos, índios e negros, originando tipos étnicos como caboclos, mulatos, mamelucos e cafuzos. Tipos que não estão só nas páginas dos livros de história. Tipos que estão na ruas, que são nossos vizinhos, nossos colegas, nossos parentes. Tipos que são, na verdade, quase a metade da população brasileira.
É lamentável, mas o preconceito racial ainda é uma coisa tão forte que assusta. “Só eu sei o que passei por conta de ser negro”, contou-me um amigo que sente na pele, até hoje, o peso da cor. E eu, branca que sou, me surpreendo. E penso que a elevação moral da sociedade é tão lenta que permite fomentar a crença de que a matriz racial torna alguns seres superiores aos outros. E isso me entristece. E me faz concluir que Hitler não morreu. Um pedacinho dele reina no coração de muitos de nós.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Só pra FIFA ver


Passei cedo pela avenida, em direção ao centro da cidade, e... Que grata surpresa! A avenida estava repleta de policiais. Em cada esquina, dois, três, quatro policiais, às vezes acompanhados de um carro, às vezes, de uma moto. “Ufa – pensei – até enfim os nossos apelos foram ouvidos. Pelo jeito, está começando hoje uma cruzada contra a violência em Cuiabá. E já não era sem tempo”. Fiquei imaginando a cara das pessoas que não estavam vendo essa cena quando eu contasse para elas. Vi seus risos. E me vi rindo. Junto com elas. Mas, a sensação durou pouco. Quando retornei, as faixas na rua me acordaram. Do sonho. O policiamento não era para nós, cidadãos cuiabanos. Os policiais não estavam ali para proteger a mim. Nem a você. Nem aos nossos filhos. Eles estavam ali de enfeite. Foram recrutados para ornamentar a rua. Para impressionar os técnicos da equipe FIFA/CBF que vieram verificar as condições de Cuiabá ser subsede da Copa de 2014. E talvez eles se surpreendam. Como eu me surpreendi. Mas, se eu tivesse chance, lhes diria, bem ao pé do ouvido: “voltem amanhã, ou depois, ou um dia qualquer. Para ver a Cuiabá real. A Cuiabá que não tem um policial na rua. A Cuiabá que nunca tem efetivo para combater o crime. A Cuiabá com a qual a gente convive com a violência. Todo dia”.