A “veinha” tocou a campainha em casa.
Depois de atendê-la, minha filha falou: – Ela está com o cachorrinho (que a
segue pra todo lado, onde quer que ela vá). Você poderia escrever sobre isso.
Sinceramente, não sei o que escrever sobre
o cachorrinho, mas posso escrever um pouquinho sobre a dona dele, a “veinha”,
na verdade, uma senhorinha muito simpática que é nossa vizinha e vive às voltas
de recolher lata ou fazer pequenos servicinhos aqui e ali. Não é tão velha
quanto é maltratada, a pele riscada pelo sol e um tanto acho que pela dureza da
vida. Pequenininha, tem os cabelos branquinhos e os mantém num coquinho, às
vezes debaixo de um boné vermelho.
Nem tão velhinha, nem tão pobrezinha. Ela
recebe aposentadoria como viúva e por isso mesmo não se aposentou – “para não
perder o outro benefício”. Tem casa própria e a está ampliando. Nem por isso
recusa uma oferta de algum alimento ou de uma roupa usada. E mantém sua rotina
de ficar andando, sempre sob o sol forte, apanhando lata de casa em casa, no
posto, no bar, na rua.
De vez em quando, as sacolas com latinha
são tantas que ela pede para a gente guardar até ela concluir o recolhimento.
Mais tarde volta e, então, num cabo de vassoura, encaixa sacola por sacola e,
com o fardo sobre os ombros, retoma o caminho de casa. Isso quando não chega
com o carrinho de mão carregado de latinhas e nessas ocasiões ele me parece
ainda mais pequena.
Às vezes nos encontramos na feira do
bairro e ela se aproxima, contente, para um abraço. Já contou que tem um filho
e uma nora, embora nossas conversas girem mais sobre o tempo, sobre o preço das
coisas, sobre a corrupção – e ela tem opinião bem formada sobre isso. O que me
faz admirar ainda mais essa grande mulher que é essa miúda “veinha”.
Ah, o nome dela é Maria.
Queria ver o cachorrinho... =~
ResponderExcluirAinda preciso dizer que adorei o texto ou já é óbvio? =)