Uma
plaquinha pendurada na frente da casa anunciava: Vende-se esta linda casa. Isso não é coisa de imobiliária, pensei,
porque senão o anúncio seria seco: VENDE-SE. E assim mesmo, com caixa alta
(letra maiúscula), frio e impessoal.
Estava
com pressa, mas por pouco não parei o carro. Tive vontade de conhecer aquela
casa que estava sendo oferecida de uma forma tão carinhosa. Sim, porque foi
isso mesmo que me pareceu. Por trás daquele anúncio, imaginei uma pessoa que
estava se desfazendo de uma coisa muito preciosa, de um bem muito caro, não no
sentido monetário e sim no sentido emocional.
Fiquei
imaginando a dona daquela casa refletindo sobre tudo o que a casa tinha
representado na sua vida. As coisas que haviam partilhado juntas. O nascimento
das crianças e as brincadeiras delas no jardim. As festas de aniversário e os
pedaços de bolo espalhados pelo chão. As roupas estendidas no varal recolhidas
às pressas diante da ameaça de chuva. A roseira se abrindo em flor. As leituras
na varanda inundada de sol.
E
quase posso ver essa mulher coberta de tristeza concordar em se separar da casa
que lhe traz tantas recordações. Vejo-a se despedindo, roçando as paredes com
os dedos finos e percorrendo cada quarto, cada corredor, cada canto. Vejo-a
fechar todas as portas e janelas e, ao final, conferir a placa onde ela própria
escreveu vende-se esta linda casa.