domingo, 24 de junho de 2012

Pula a fogueira Iaiá, pula a fogueira Ioiô!



A fogueira era o principal ingrediente das nossas festas de São João, que, no Sul do país, aconteciam sob um frio medonho, “frio de renguear cusco”, como se diz por lá. Além de calor, a fogueira proporcionava claridade, dispensando a instalação de muitas lâmpadas no campinho que servia de local para a festa.

Os preparativos demoravam o dia inteiro, embora as bandeirinhas a gente confeccionasse uns dias antes, usando papel de seda colorido e barbante para prender. Elas, as bandeirinhas, ficavam lá tremulando, dependuradas de um lado a outro do campinho, em várias voltas, garantindo o clima alegre e festivo.

Com a ajuda das mães, cozinhávamos o pinhão, torrávamos o amendoim, assávamos a batata doce. A pipoca era estourada na hora da festa e chegava fumegando. Por causa do vinho, o quentão, cheirando à canela, fornecia um calorzinho especial e tingia de vermelho nossas bochechas.

Numa dessas ocasiões, depois de tudo arranjado no campinho, lá pelo final da tarde, cada qual foi pra sua casa se preparar para voltar à noite, no horário combinado para começar a festa. Mal chegamos em casa e alguém gritou que a fogueira estava acesa. O que parecia um trote era real. Pois não é que o Bugrão, como era conhecido o menino mais levado da redondeza, acendeu a fogueira?  Então, foi aquele atropelo, com todo mundo correndo para o campinho. O jeito foi antecipar a festa. Para aproveitar o calor da fogueira.

domingo, 17 de junho de 2012

Fuja do shopping!



Quer coisa mais desgastante do que ir ao shopping em véspera de datas especiais, tipo Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados...? É um verdadeiro teste de resistência! Os problemas começam no estacionamento. Dependendo de onde você mora, é mais cômodo deixar o carro estacionado em casa.

Tem fila para tudo: para o caixa eletrônico, para a Lotérica, para os caixas das lojas, para o sorvete... Os corredores ficam lotados e não sobra um banco vago para você descansar as pernas. Se conseguir um lugarzinho no quiosque para tomar um café, vai ter que aguentar o olho de um monte de gente torcendo para você desocupar logo a cadeira. O que tira a graça de degustar qualquer coisa que seja.

Experimente usar o elevador junto com mamães empurrando os carrinhos com seus bebês, enquanto os maiorzinhos se agarram as suas pernas. “Larga! Solta! Segura! Espera! Não grita! Não chora!”. E você ali, espremido no picadeiro, torcendo para não lambuzarem tua roupa, não pisarem nos teus calcanhares, não te estraçalharem.

Haja paciência para suportar as longas esperas na praça de alimentação e disputar uma mesa para fazer um lanche, em meio a um alarido que, mal comparando, parece o setor de produção de uma serraria. Conversar, nem pensar. Você nem come. Engole a comida. E trata de sair dali. Correndo.

Na saída, mais uma fila. Para liberar o ticket do estacionamento. Então, basta andar até o carro e torcer para que as pessoas não tenham tido, também, a ideia de ir embora. Para que as guaritas de saída estejam liberadas. Então... qualquer coisa depois disso é o paraíso.

Quer um conselho? Em datas comerciais, fuja do shopping. Inverta o ditado e “deixe para amanhã o que você poderia fazer hoje”!

terça-feira, 12 de junho de 2012

A rua era das crianças



Quando eu era menina a rua era, sim, das crianças. A rua – eu me lembro muito bem disso – era o nosso palco de diversões. Ali formávamos uma roda imensa que tomava toda a largura da rua e então ficávamos girando, cantando nossas cantigas favoritas:

“Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar”

“Terezinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão”

E logo aparecia uma bola e a brincadeira mudava para um jogo, que podia ser queimada ou vôlei. E já estávamos pulando corda, jogando amarelinha, brincando de estátua, de passa-anel, de pega-pega...

Quando chovia, nos divertíamos nas enxurradas, deslizando junto com a água, fazendo diques de pedra nas sarjetas e tentando equilibrar barquinhos de papel na correnteza.

As brincadeiras varavam a tarde, entravam na noite, até que as mães enfiavam as cabeças para fora das portas para nos chamar para jantar. Nenhuma delas se preocupava, porque sempre havia uma delas de olho.  

A violência, o trânsito, o isolamento das pessoas e todos os perigos das cidades enxotaram as crianças das ruas. E tiraram um tanto da graça de ser criança.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pobres crianças!



Como dói ler esses relatos de abuso sexual contra crianças. E como são comuns. E o pior: a maior parte deles acontece dentro de casa, no lugar onde supostamente as crianças deveriam estar protegidas.
As pesquisas mostram o seu lado mais cruel quando identificam que 38% dos abusadores são os pais das crianças, ou seja, justamente aqueles a quem compete o papel de proteger a família. Em segundo lugar, vêm os padrastos e na sequência, irmãos, avôs, tio, primos... E muitas vezes o crime acontece sob o beneplácito das mães.
Pobres crianças! Sem ter para onde correr, se fecham em seu próprio mundo, um mundo povoado de medo, de dor, de culpa e de vergonha, sentimentos que passam a carregar vida afora. Fantasmas que as assombram e atormentam. Feridas que muitas vezes jamais cicatrizam.
A violência sexual contra meninos e meninas acontece desde sempre, não se sabe em que proporção, pois que eram acobertadas pelo manto da obscuridade, diferentemente de hoje, quando começam a vir à tona e seus autores punidos pela legislação recente de proteção aos direitos da criança.

Mas ainda se tem um longo caminho a percorrer. E eu acredito que poderíamos ajudar muito se nos esforçarmos para promover o resgate dos valores morais e espirituais que nos diferenciam dos animais. Embora às vezes a gente não tenha tanta certeza de quem são, na verdade, os animais. Se nós ou eles.