terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Aparências


Uma vez, um amigo me perguntou se eu havia observado que o carro dele e o meu eram os mais velhos no pátio da empresa em que trabalhávamos. De fato eu não havia me dado conta disso, mas também não me incomodei nem um pouquinho porque, embora rodando com um carrinho já meio passado do ponto, minha geladeira estava cheia, minhas filhas estudavam em escola particular e eu dormia com o ar condicionado ligado. Não era o caso de todos os proprietários de veículos novos daquele local, mas eu sabia que uma boa parte deles comia mal, vivia mal e andava sempre com a corda no pescoço, sem um tostão no bolso. Quando não tinha que deixar o carro em casa por falta de combustível ou documentação em dia.
E continuo vendo muito disso por aí, gente que vive de aparências, que prefere andar no auge da moda ou desfilando grifes fora do alcance dos seus recursos ou ostentando coisas que seu salário não paga, enquanto se ressente de conforto e qualidade de vida para si e para a família.
Pra mim, por exemplo, conforto é sinônimo de ar condicionado, chuveiro quente, comida farta, casa que não chove dentro, combustível para ir e vir, boa educação, entre outras coisas que auxiliam as pessoas a ter uma boa noite de sono, a manter a saúde e a promover bem estar e desenvolvimento.
É claro que isso tudo tem muito a ver com as prioridades que cada qual estabelece para si, mas essa história me lembra muito aquilo que se diz do camarada que come sardinha e arrota camarão.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Falando de pão


Eu me criei comendo pão caseiro, pão rechonchudo, pão farto, pão gigantesco, quase de metro, na altura e no comprimento. Minha mãe, minha vó, minhas tias, todo mundo fazia um pão que dava gosto só de olhar. E que era até difícil de fatiar. Saído quentinho do forno, daqueles fornos de lenha que compunham a paisagem de qualquer quintal, o pão, era só o tempo de esfriar um tiquinho, já era distribuído em fatias, coberto de manteiga e mel, nata e geleia, ou mesmo puro, com um naco de queijo e um pedaço de salame.
Com o tempo, os fornos do quintal foram sendo substituídos pelo fogão à gás e o pão virou coisa de se comprar, virou pão d’água, pão de sal, pão francês ou pão cacetinho, como é conhecido no Rio Grande do Sul. E virou o pão consumido por, creio que, 10 em cada 10 brasileiros.
Pois esse pãozinho nosso de cada dia, em razão de seus altos índices de carboidratos, parece estar com os dias contados. Virou o vilão das dietas e da saúde de seus consumidores. Médicos em massa desaconselham seu consumo e tá assim de gente torcendo o nariz pra ele.
Em seu lugar, são indicados o pão preto, o pão integral, o pão de centeio, o pão light, o pão de aveia, o pão 7 grãos, o pão 13 grãos... Todos eles com sua dose de gostosura, alguns nem tanto, porém, uns mais, outros menos, todos sinônimos de alimento saudável.
Mas, convenhamos, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, pois, conforme andei me informando esse bandido do pão francês tem lá seus atenuantes. Em primeiro lugar porque os carboidratos são erroneamente classificados como os responsáveis pelo ganho de peso e substituídos por gorduras nos alimentos industrializados, contribuindo para que as dietas sejam ainda mais calóricas, mesmo sem a presença deles. Também há o fato de que os carboidratos são recomendados por todas as associações internacionais de Nutrição e Saúde, devendo compor em torno de 50% das calorias ingeridas diariamente em dietas balanceadas.
A vantagem decorrente do consumo do pão integral é pela simples razão de que, enquanto a farinha de trigo utilizada no pão branco passa por um processo de clareamento e refinamento, a outra mantém a casca do trigo, muito rica em fibras que, entre outros benefícios, ajuda a regular o intestino e a controlar o colesterol ruim.
Mas, segundo alguns especialistas, engana-se quem pensa que o pão integral é o menos calórico. Por ser feito com a farinha integral, ele contém mais calorias que o branco. Porém, uma fatia de pão integral sacia mais que duas de pão branco.
Quer saber? Chega de história, tô indo ali comer um pãozinho da hora, com margarina (light) e mortadela, que isso é bom demais!


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Peça de museu



“É do disque água?”. Essa pergunta a gente ouve várias vezes por dia aqui em casa quando atende o telefone. O nosso número residencial consta em uma lista de distribuidores de água mineral, o que justifica o engano. Eu já nem me incomodo mais. Aproveito para fazer propaganda do serviço de entrega de água de um amigo. Acho até que preciso discutir com ele um percentual a título de comissão.
Bem, tirando o primeiro motivo que faz a campainha do telefone fixo disparar, vamos ao segundo, que é a venda de serviços da Net. A Net liga dia sim e outro também. E não adianta explicar e nem xingar os vendedores porque é sempre uma pessoa nova ligando, de posse, provavelmente, de uma lista com os nomes de quem ainda não adquiriu o produto. Já implorei para tirar o número da lista, mas não adianta. Cheguei ao ponto de pensar em assinar o dito serviço, desde que parem de ligar.
O telefone também é acionado por outras companhias de telefonia, por bancos e por associações assistenciais (A senhora está bem? Que bom, não é? Queremos lhe convidar para participar da nossa campanha do leite...). Tem também os trotes, as tentativas de golpe (Tudo bem, tia? Quem está falando é o seu sobrinho que mora mais longe...) e os “desculpe, foi engano”.
De vez em quando – e muito de vez em quando, mesmo – atendemos uma ligação de algum amigo ou parente que deseja falar com algum de nós.
O telefone fixo está caindo totalmente em desuso. Já nem sei mais se vale a pena mantê-lo funcionando. A sua melhor função que era facilitar o acesso principalmente dos parentes que estão longe está perdendo para a popularização dos celulares, que permitem falar horas num interurbano pelo preço de uma ligação local.
E pensar que possuir um telefone fixo era coisa para poucos. Ficava-se anos na fila aguardando a liberação de uma linha. Além de que o seu uso era limitado à troca de informações importantes. Tempo em que o telefone servia só e unicamente para isso.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Fumaça solitária


Ainda bem que eu já parei de fumar!
Com certo alívio, por já não fazer mais parte desse grupo, tenho acompanhado o quanto está sendo difícil para um fumante pitar o seu cigarrinho em paz. Praticamente não se pode fumar mais em lugar algum. E o fumante está sendo sufocado, não pela fumaça do cigarro e sim pela ferrenha cruzada contra o fumo, que fecha portas aos fumantes até onde não existem portas.
Não se fuma mais nos escritórios, nas salas de espera, nos supermercados, nos shoppings centers, nos restaurantes. E nem nos barzinhos, que perderam sua atmosfera esfumaçada temperada pelo odor forte do fumo.
Acho que, com isso, ganhamos todos, fumantes e não fumantes, mais saúde, mais disposição física, mais facilidade para respirar, menor incidência de doenças como câncer de pulmão, infarto e derrame cerebral, entre outros benefícios.
Mas, como ex-fumante, posso garantir que um gole de chopp ou de cerveja tem outro sabor quando acompanhado de uma longa e arrebatadora baforada de cigarro. A gente até se acostuma a degustar uma bebida sem ela, como é o meu caso e de tantos outros ex-fumantes e apreciadores de um chopp gelado. Mas, que de vez em quando bate uma saudade, isso bate.
Mesmo assim, prefiro essa nova condição, a ter que viver acuada, como muitos que conheço, para continuar exercendo o direito cada vez mais restritivo de fumar um cigarro.