quarta-feira, 10 de setembro de 2014

No busão


Hoje, depois de muito tempo – digamos uns 15 anos – me enchi de coragem e tomei um ônibus do transporte coletivo. Melhor dizendo, e usando a linguagem coloquial, tomei o busão.
É claro que eu fiz isso no meio da tarde, em horário em que os ônibus circulam mais leves, com pouca lotação, e acabei até me divertindo.
Mal entrando no veículo dei de cara com gente conhecida. Lá estavam, sorrindo, logo atrás da roleta, meus amigos Fábio e Maninha, e a viagem já virou festa. A despeito dos solavancos que por pouco não me derrubaram no corredor. Mão firme no corrimão, me entretive na conversa e nem vi o tempo passar e por pouco não perdi o ponto de desembarque.
Na volta, mais um encontro inesperado, com a amiga Maria, no terminal do CPA. Foi ela quem me indicou onde embarcar, pois, embora tenha tentado, não consegui decifrar as placas da precária sinalização. Se é que não fiquei atrapalhada por conta do cheiro insuportável de urina que infesta aquele local.
Embora fora do horário de pico, não tive como não me chocar com a falta de educação de motoristas e usuários. Respeito é uma prática pouco utilizada no transporte coletivo. E faz uma falta medonha.
Do pouco que vi, posso calcular quanto desapontamento, raiva e frustração passam os usuários que lidam com a rotina do transporte coletivo, submetendo-se a empurrões, xingamentos, mau humor, desconforto, violência física e mental.
Andar de ônibus, pelo jeito, é para quem tem coragem, perseverança e, obviamente, não tem outro meio de locomoção. E para gente como eu que escolhe o melhor horário para circular e tem interesse por novas histórias para contar.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Pague ou morra... de raiva!


Por conta de uma transferência de titularidade, não recebi a fatura e, por um descuido, não fiz o pagamento da conta da Sky. Sem medo de cometer exagero, me senti caçada feito um animal, ou mesmo um bandido que cometeu uma atrocidade. Em menos de 20 minutos recebi cobrança por e-mail, por telefone, por mensagem no celular e pela tela da televisão.
Fiquei com medo de sair à sacada e me deparar com um balão sobrevoando o prédio onde moro com a mensagem padrão: “Senhora Loreci, não identificamos o pagamento da sua fatura. Regularize seu pagamento sob pena de perder o sinal”.
Na porta da rua, recuei. – E se a polícia federal está me aguardando do lado de fora do portão? – pensei e minha imaginação até construiu uma barricada de artilharia pesada do outro lado da rua. A essas alturas eu já estava em pânico e com medo até de sair do lugar. Mas reagi, respirei fundo e providenciei o pagamento imediatamente.
Parece brincadeira, mas não é. Na verdade, é muito sério isso. É uma forma tão intimidadora de cobrança que dá até raiva. Aliás, acho que a gente paga, mesmo, é de raiva.
Essa história me remeteu a uma outra, quando tive a infeliz ideia de financiar um veículo para outra pessoa. Junto com o financiamento, assumi uma parcela extra de raiva todo mês. O indivíduo não pagava a fatura e quem era cobrada era eu. Passava a maior parte do mês recebendo ligações em casa, no trabalho, na casa dos outros, quando não, sendo incluída no cadastro do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito).
Essa situação vexatória se prolongou por vários meses, até o veículo ser quitado, porque a pessoa em questão não conseguia transferi-lo para seu nome, por motivos óbvios.
E chego à conclusão agora que provavelmente é para esse tipo de mau pagador que a estratégia de cobrança da Sky é dirigida, embora eu duvide de sua eficácia, porque ela intimida gente como eu, que paga suas contas em dia. Caloteiros do tipo desse meu amigo não se amedrontam nem se alvoroçam quando cobrados. No máximo, caso se sintam constrangidos, processam os autores da cobrança e reclamam danos morais.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Que bafão!


... e, então, aconteceu isso: quando olhei para baixo vi que estava com um sapato de cada par.
– Pelo menos são da mesma cor? – perguntou minha filha quando contei pelo WhatsApp.
– Sim – respondi – e os dois têm um laço em cima, embora um deles seja dourado.
Quer dizer: perfeitamente visível a diferença. Qualquer um que olhasse para meus pés perceberia a diferença.
Sem ter como consertar o problema, passei o resto da manhã e um pedaço da tarde com os sapatos trocados.
Sempre que podia, virava discretamente um pé ou o outro, até o ponto em que acabei me esquecendo totalmente do fato.
Não sei se alguém percebeu e se percebeu não me deixou perceber que havia percebido. Mas fiquei imaginando o que pensaria uma pessoa que visse a cena:
“Olha só aquela próxima, já está até calçando sapato trocado!”
“Coitada! Vai ver estragou um dos sapatos!”
“Como é que deixam sair de casa assim?”
“Será que ela quer chamar atenção?”
“Que perigo! Uma hora dessas pode sair pelada!”
“Que bafão! Eu morreria de vergonha!”
Pois eu não morri de vergonha.
Mas quase morri de rir. De mim mesma!

domingo, 6 de abril de 2014

Pé no chão


Quase não acreditei quando a vi, passando por uma rua num bairro da cidade: uma casa com cerca de madeira, quintal de chão batido, florezinhas amarelas e vermelhas e... uma saudade medonha!
Assim eram nossas casas nos meus tempos de guria. Com portõezinhos fechados na tramela que podiam ser abertos pelo lado de fora, enfiando-se a mão pelos vãos. E que às vezes rangiam por falta de graxa.
E me lembrei da Dona Filhinha, que em meio as flores do seu quintal tinha um poço artesiano, de manivela, daqueles que o balde desce cantando e sobe transbordando de água.
E me lembrei dos bolos feitos de terra, das fazendinhas com gado de osso, das incursões pelos quintais alheios à cata de “preciosidades” que pudessem incrementar as brincadeiras.
E dos pés de caqui, onde nos pendurávamos para brincar de circo.
E das frutinhas de sinamomo que os meninos usavam nos bodoques.
E dos pés de pitanga que adoçavam ainda mais os nossos piqueniques.
E dos nossos próprios pés no chão.
E não tive como não me lembrar das prisões em que transformamos nossas casas, atrás de altos muros e grossas grades de ferro, com pátios inteiros de concreto e sem uma única árvore para fazer sombra, colher uma fruta ou fazer um balanço pra criança brincar.


quinta-feira, 20 de março de 2014

Eu e a panela de pressão


Nunca me dei muito bem com as panelas. Na divisão de tarefas, sempre me couberam melhor a vassoura, o balde e o pano de chão. Provavelmente pela reconhecida falta de habilidade com elas, as panelas.
Com o passar do tempo, às vezes pela necessidade e gradativamente pelo prazer, fui me afeiçoando a elas e exercitando, com elas, meus acanhados dotes culinários. Um macarrãozinho aqui, um arrozinho ali, um bifinho acolá e... uma lacuna imensa no cardápio: o feijão.
Por conta de um acidente doméstico que eu não cheguei a presenciar, mas que me traumatizou em razão do rombo provocado no teto de casa em decorrência de uma explosão, a panela de pressão sempre me amedrontou. E se transformou numa barreira entre eu e o feijão (cozinhar feijão em panela comum, não dá, né?).
Os anos foram passando e sempre que colocar a comida na mesa dependia de mim, a lacuna estava lá, gritando nos meus ouvidos a bendita ausência do feijão. Vez ou outra pedia a minha cunhada ou à vizinha que cozinhassem o feijão para mim, o que elas faziam na minha própria panela de pressão.
E assim foi até que um belo dia eu decretei que estava na hora de mudar isso. “Depois de superar tantos desafios, não será uma panela de pressão que irá me vencer”, filosofei e meti a mão na massa, digo no feijão. E deu certo, tão certo que nunca mais faltou feijão na mesa. Até sobrou ousadia para preparar um prato que amo de paixão: lagarto de panela de pressão!

terça-feira, 11 de março de 2014

O Dia do Primeiro


Acho que toda mãe tem que ter um pouco de psicologia. Minha mãe mesmo era exímia nessa arte. Ela sabia acalmar e comandar a criançada como ninguém. Era jeitosa com os pequenos desde que eles eram bebezinhos. E eu aprendi com ela várias “técnicas” que me ajudaram muito, embora eu não tivesse nem de longe a paciência dela.
Educar filhos requer um bocado de habilidade. As diferenças entre eles são gritantes e a individualidade de cada um tem que ser preservada. Mas, o bicho pega mesmo é quando eles entram em rota de colisão, disputando a mesma coisa: o único brinquedo, escolher o canal da televisão, definir quem senta na direita ou na esquerda, enfim, o que é muito comum quando existe pouca diferença de idade entre os irmãos, como aconteceu com as minhas filhas.
Pois em casa, antes da gente morrer de raiva, ficou estipulado o Dia do Primeiro, que funcionava assim: num dia uma, no outro dia a outra, elas viviam o Dia do Primeiro e, então, isso determinava a primazia em tudo, inclusive escolher quem sairia primeiro da cama, quem tomaria o banho primeiro, quem comeria a última bolacha do pacote... Como elas iam de ônibus escolar para o colégio, até isso entrou pra lista: a que estava no Dia do Primeiro tinha a “grande” vantagem de entrar primeiro no ônibus!
A coisa ficou tão rigorosa e elas levavam isso tão a sério que o Dia do Primeiro passou a valer para absolutamente tudo, inclusive para coisas tão banais quanto abrir e fechar a porta, acender e apagar a luz, entrar e sair do elevador...
As brigas diminuíram consideravelmente, porque, afinal, ambas sabiam muito bem que, embora tivessem que se submeter ao reinado da outra num dia, no outro, eram a própria rainha.
Resumindo: Foi uma mão na roda esse tal Dia do Primeiro! 

sábado, 1 de março de 2014

Gripe


Acordei assim: nariz escorrendo, garganta doendo, corpo ruim... Até o meu café cappucinno que abre o meu dia com mais sabor estava com gosto amargo.
– Droga de gripe – pensei, já me preparando para um dia maçante.
Quer coisa mais sem-graça do que gripe? A cabeça fica pesada, os ossos parecem ter sido moídos, os olhos ficam lacrimejando e o nariz escorre sem parar.
Com todos esses sintomas, o melhor mesmo seria ficar o dia inteiro de molho, como bem sugeria uma antiga propaganda: “Gripe? Vitamina C e cama”. Só que isso quase sempre é impossível, então...
Mas, por mais incrível que possa parecer, conheço uma pessoa que não apenas é defensor da gripe, como recomenda uma boa gripe para efeitos de promover uma limpeza no organismo.
Esse meu amigo é reflexologista e, segundo ele, através da gripe, eliminamos, junto com as secreções, impurezas do organismo que provocam doenças.
“Bons tempos eram aqueles em que as crianças viviam ranhentas”, diz ele, “ranhentas, mas saudáveis”.
Pois não é que fui uma ranhentinha dessas quando criança? Eu, meus irmãos e todos os meus vizinhos. O que não nos impedia de brincar e correr o dia inteiro, parando de vez em quando para limpar o nariz num lencinho ou mesmo na manga do casaco.
E, quer saber, não me lembro de frequentarmos consultórios médicos. Acho até que jamais estive em um durante toda a minha infância. Ao contrário das crianças que, hoje em dia, não dão folga ao pediatra.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Preconceitos


Essa história aconteceu quando eu era uma jovem recém formada e trabalhava numa rádio na minha cidade, onde a equipe era basicamente masculina e nenhum dos homens possuía curso superior. Além de mim, havia uma outra jornalista que se revezava comigo na função de rádio-escuta, que consistia em ouvir e reescrever notícias veiculadas nas grandes emissoras. Nós duas trabalhávamos isoladas, ela no período da manhã, eu no período da tarde, em uma salinha de onde saíamos apenas para entregar os noticiários aos locutores.
Certa ocasião, fui prestigiar uma programação esportiva que havia trazido à cidade um astro do esporte e que mereceu cobertura completa da rádio. Como eu já conhecia o cara, por ter feito uma entrevista com ele naquele dia para o jornal onde era repórter, os locutores me pediram para entrevistá-lo ao vivo. Enquanto eu fazia a entrevista, o dono da rádio chegou ao local e acompanhou a matéria. Então, ele me cobriu de elogios e disse aos locutores que queria me ver mais vezes fazendo isso. “Tem que abrir mais o microfone para essa guria”, recomendou.
Eles fizeram exatamente o contrário: nunca mais me deixaram chegar perto do microfone.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Aparências


Uma vez, um amigo me perguntou se eu havia observado que o carro dele e o meu eram os mais velhos no pátio da empresa em que trabalhávamos. De fato eu não havia me dado conta disso, mas também não me incomodei nem um pouquinho porque, embora rodando com um carrinho já meio passado do ponto, minha geladeira estava cheia, minhas filhas estudavam em escola particular e eu dormia com o ar condicionado ligado. Não era o caso de todos os proprietários de veículos novos daquele local, mas eu sabia que uma boa parte deles comia mal, vivia mal e andava sempre com a corda no pescoço, sem um tostão no bolso. Quando não tinha que deixar o carro em casa por falta de combustível ou documentação em dia.
E continuo vendo muito disso por aí, gente que vive de aparências, que prefere andar no auge da moda ou desfilando grifes fora do alcance dos seus recursos ou ostentando coisas que seu salário não paga, enquanto se ressente de conforto e qualidade de vida para si e para a família.
Pra mim, por exemplo, conforto é sinônimo de ar condicionado, chuveiro quente, comida farta, casa que não chove dentro, combustível para ir e vir, boa educação, entre outras coisas que auxiliam as pessoas a ter uma boa noite de sono, a manter a saúde e a promover bem estar e desenvolvimento.
É claro que isso tudo tem muito a ver com as prioridades que cada qual estabelece para si, mas essa história me lembra muito aquilo que se diz do camarada que come sardinha e arrota camarão.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Falando de pão


Eu me criei comendo pão caseiro, pão rechonchudo, pão farto, pão gigantesco, quase de metro, na altura e no comprimento. Minha mãe, minha vó, minhas tias, todo mundo fazia um pão que dava gosto só de olhar. E que era até difícil de fatiar. Saído quentinho do forno, daqueles fornos de lenha que compunham a paisagem de qualquer quintal, o pão, era só o tempo de esfriar um tiquinho, já era distribuído em fatias, coberto de manteiga e mel, nata e geleia, ou mesmo puro, com um naco de queijo e um pedaço de salame.
Com o tempo, os fornos do quintal foram sendo substituídos pelo fogão à gás e o pão virou coisa de se comprar, virou pão d’água, pão de sal, pão francês ou pão cacetinho, como é conhecido no Rio Grande do Sul. E virou o pão consumido por, creio que, 10 em cada 10 brasileiros.
Pois esse pãozinho nosso de cada dia, em razão de seus altos índices de carboidratos, parece estar com os dias contados. Virou o vilão das dietas e da saúde de seus consumidores. Médicos em massa desaconselham seu consumo e tá assim de gente torcendo o nariz pra ele.
Em seu lugar, são indicados o pão preto, o pão integral, o pão de centeio, o pão light, o pão de aveia, o pão 7 grãos, o pão 13 grãos... Todos eles com sua dose de gostosura, alguns nem tanto, porém, uns mais, outros menos, todos sinônimos de alimento saudável.
Mas, convenhamos, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, pois, conforme andei me informando esse bandido do pão francês tem lá seus atenuantes. Em primeiro lugar porque os carboidratos são erroneamente classificados como os responsáveis pelo ganho de peso e substituídos por gorduras nos alimentos industrializados, contribuindo para que as dietas sejam ainda mais calóricas, mesmo sem a presença deles. Também há o fato de que os carboidratos são recomendados por todas as associações internacionais de Nutrição e Saúde, devendo compor em torno de 50% das calorias ingeridas diariamente em dietas balanceadas.
A vantagem decorrente do consumo do pão integral é pela simples razão de que, enquanto a farinha de trigo utilizada no pão branco passa por um processo de clareamento e refinamento, a outra mantém a casca do trigo, muito rica em fibras que, entre outros benefícios, ajuda a regular o intestino e a controlar o colesterol ruim.
Mas, segundo alguns especialistas, engana-se quem pensa que o pão integral é o menos calórico. Por ser feito com a farinha integral, ele contém mais calorias que o branco. Porém, uma fatia de pão integral sacia mais que duas de pão branco.
Quer saber? Chega de história, tô indo ali comer um pãozinho da hora, com margarina (light) e mortadela, que isso é bom demais!


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Peça de museu



“É do disque água?”. Essa pergunta a gente ouve várias vezes por dia aqui em casa quando atende o telefone. O nosso número residencial consta em uma lista de distribuidores de água mineral, o que justifica o engano. Eu já nem me incomodo mais. Aproveito para fazer propaganda do serviço de entrega de água de um amigo. Acho até que preciso discutir com ele um percentual a título de comissão.
Bem, tirando o primeiro motivo que faz a campainha do telefone fixo disparar, vamos ao segundo, que é a venda de serviços da Net. A Net liga dia sim e outro também. E não adianta explicar e nem xingar os vendedores porque é sempre uma pessoa nova ligando, de posse, provavelmente, de uma lista com os nomes de quem ainda não adquiriu o produto. Já implorei para tirar o número da lista, mas não adianta. Cheguei ao ponto de pensar em assinar o dito serviço, desde que parem de ligar.
O telefone também é acionado por outras companhias de telefonia, por bancos e por associações assistenciais (A senhora está bem? Que bom, não é? Queremos lhe convidar para participar da nossa campanha do leite...). Tem também os trotes, as tentativas de golpe (Tudo bem, tia? Quem está falando é o seu sobrinho que mora mais longe...) e os “desculpe, foi engano”.
De vez em quando – e muito de vez em quando, mesmo – atendemos uma ligação de algum amigo ou parente que deseja falar com algum de nós.
O telefone fixo está caindo totalmente em desuso. Já nem sei mais se vale a pena mantê-lo funcionando. A sua melhor função que era facilitar o acesso principalmente dos parentes que estão longe está perdendo para a popularização dos celulares, que permitem falar horas num interurbano pelo preço de uma ligação local.
E pensar que possuir um telefone fixo era coisa para poucos. Ficava-se anos na fila aguardando a liberação de uma linha. Além de que o seu uso era limitado à troca de informações importantes. Tempo em que o telefone servia só e unicamente para isso.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Fumaça solitária


Ainda bem que eu já parei de fumar!
Com certo alívio, por já não fazer mais parte desse grupo, tenho acompanhado o quanto está sendo difícil para um fumante pitar o seu cigarrinho em paz. Praticamente não se pode fumar mais em lugar algum. E o fumante está sendo sufocado, não pela fumaça do cigarro e sim pela ferrenha cruzada contra o fumo, que fecha portas aos fumantes até onde não existem portas.
Não se fuma mais nos escritórios, nas salas de espera, nos supermercados, nos shoppings centers, nos restaurantes. E nem nos barzinhos, que perderam sua atmosfera esfumaçada temperada pelo odor forte do fumo.
Acho que, com isso, ganhamos todos, fumantes e não fumantes, mais saúde, mais disposição física, mais facilidade para respirar, menor incidência de doenças como câncer de pulmão, infarto e derrame cerebral, entre outros benefícios.
Mas, como ex-fumante, posso garantir que um gole de chopp ou de cerveja tem outro sabor quando acompanhado de uma longa e arrebatadora baforada de cigarro. A gente até se acostuma a degustar uma bebida sem ela, como é o meu caso e de tantos outros ex-fumantes e apreciadores de um chopp gelado. Mas, que de vez em quando bate uma saudade, isso bate.
Mesmo assim, prefiro essa nova condição, a ter que viver acuada, como muitos que conheço, para continuar exercendo o direito cada vez mais restritivo de fumar um cigarro.