segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A hora da vingança


O Bob, um dos cachorrinhos que mora aqui em casa, está muito gordo. Acho que um dos motivos é porque ele tem por hábito, se a gente não cuidar, comer a ração dele e mais a do Yoshi, o cachorro mais novo. Coisas que a psicologia dos cachorros explica: mais velho na casa, o Bob tem prioridade na hora de comer; então, o Yoshi senta e espera, enquanto o Bob aproveita para comer sua própria ração e um pouco da do outro. O que chamam de instinto e eu chamo de sabotagem.
E agora o Bob vai ter que perder peso. Não por questões estéticas e sim por problemas de saúde. Alguma coisa relacionada ao átrio, às valvas (isso mesmo, valvas, e não válvulas) atrioventriculares e a uma quase cardiopatia.
Como parte da dieta, substituição da ração por uma versão light, que, pelo que eu vi na cara dele, não deve ser nada apetitosa. Diferente da ração a qual ele está acostumado, de frango, de carne ou de salmão, que eu não experimentei, mas deduzi ser bem saborosa. Tanto que ele sabota o outro na hora de comer.
E eis que é chegada a hora da vingança. O Yoshi, que não é nenhum anjinho, embora o texto até aqui faça supor, está se fartando, sozinho, da ração normal. E eu fico imaginando ele esfregando uma patinha na outra e provocando o Bob: “Vai um teco aí, boss?”
Mas, o Yoshi que se cuide, porque se a balança começar a pender para o lado dele, a restrição vai ser geral.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A indignação de sempre

Meu pai, que tem uma perna amputada há mais ou menos 20 anos, vai colocar uma prótese nova. Por conta disto, está fazendo sessões de fisioterapia no Centro de Reabilitação Dom Aquino Correa. Sou acompanhante dele e me surpreendo um pouco cada vez que vou até lá. A primeira coisa que me surpreendeu foi ver a dedicação dos funcionários aos pacientes, embora as péssimas condições de trabalho.
O sucateamento começa no prédio, muito antigo, que ameaça desmoronar. Tem uma parte dele que está fechada por conta disso. A grande maioria das pessoas que frequentam o local tem problemas de locomoção, usa cadeiras de roda, muletas, bengalas, enfim. Seria de se esperar instalações adequadas para deficientes, mas o local conta tão somente com algumas poucas adaptações. Se fosse empresa privada, com certeza já teria sido multada e ficaria impedida de funcionar.  
No setor de fisioterapia, a regra é improvisar, quando não, fazer cota para suprir algumas necessidades, como eu constatei no caso do creme hidratante de uso dos amputados. Junto ao bebedouro, no lugar dos copos, um aviso: “estamos sem copo, traga o seu de casa”. Até o tradicional cafezinho é um problema por lá. Tem dias que não tem café, tem dias que não tem açúcar e tem dias que não tem nem um, nem outro.
Na sala de enfermagem, que não é bem uma sala – está mais para um corredorzinho –, fiquei ainda mais chocada por verificar que o aparelho de pressão usado para medir a pressão dos pacientes não é da enfermaria e sim da enfermeira. E a preocupação de substituir o aparelho que está apresentando problemas é dela, “preciso comprar um aparelho novo”.
O Centro de Reabilitação está morrendo. Os funcionários têm se movimentado em vão contra o sucateamento, mas o governo do Estado continua fazendo ouvidos moucos. Da mesma maneira como tem feito com a saúde de modo geral, com a educação, com a segurança...
O descaso do poder público é realmente uma coisa alarmante. Fico indignada. Não é brincadeira o que se arrecada de impostos neste país, neste estado, neste município. É estarrecedor constatar que muito pouco, muito pouco mesmo, é devolvido aos contribuintes, na forma de serviços essenciais.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Um telegrama


Aniversário da minha cunhada e eu querendo fazer alguma coisa diferente. Decidi: vou enviar um telegrama. Telegrama é uma coisa tão antiga! (Por isso mesmo, uma homenagem bem clássica.) E tanto caiu em desuso que ninguém se lembra dele. Aliás, tem gente antiga que se surpreende porque acha que o telegrama nem existe mais. Já a gente jovem acho que nem sabe o que é isso.
Mas o telegrama está bem vivinho e saudável e dispõe de quatro modalidades: pela Internet, pelo telefone, por postagem eletrônica e por postagem na agência.
Optei pela mais cômoda, via Internet. Me cadastrei, preenchi o formulário, fiz o texto da mensagem e... deu erro. Recarreguei a página e ele apagou todos os dados. Refiz tudo de novo, a mensagem, os dados do destinatário e... deu erro. Atribuí o erro à lentidão da minha Internet e reiniciei o computador. Então, o sistema não aceitou a senha que eu tinha acabado de cadastrar; estava com erro; tentei de novo e mais uma vez, nada. Então, pedi outra senha que foi enviada por e-mail. Daí, repeti todo o procedimento e cliquei na cesta para comprar o produto. Na tela, a resposta de sempre; alguma coisa tinha dado errado.
Me armei de coragem e fui até a agência de Correios mais próxima. Depois de uns 20 minutos aguardando – e olha que eu era a segunda da fila – e após a faxineira me dar um baile com o rodo e o pano de chão que ela cismou de esfregar várias vezes no piso, atropelando a mim e os demais clientes, chegou a minha vez.
“Moça, quero enviar um telegrama”, falei para a funcionária, que ficou assim meio sem saber o que fazer. “Acho que tenho que preencher um formulário”, acrescentei. Então, ela se enfiou numa sala contígua e quando voltou disse que eu teria que aguardar o gerente, pois os formulários para telegrama estavam com ele. “Isso vai demorar?”, perguntei, tentando entender por que o gerente carregaria com ele um material que deveria estar sobre o balcão, disponível para venda. “Ah, eu não sei, ele está no horário do almoço”, ela respondeu, já chamando o próximo cliente.
Teimosa quanto uma mula, eu consegui enviar um telegrama pra minha cunhada embora tenha perdido o prazo para que ele chegasse no mesmo dia. E não importa que eu tenha precisado de mais tempo para ir até outra agência, onde, felizmente, encontrei um funcionário que sabia o que era um telegrama e que dispunha dos formulários ao alcance da mão. Minha cunhada merece. Agora, o que não dá para engolir é essa campanha dos Correios com o mote #vamaislonge. Nesse passo, me desculpem, mas acho que #nãovailonge.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sempre ela, a balança!


Sempre tive a impressão que as mulheres gordas eram mais felizes. Tive uma amiga que era o protótipo da felicidade sobre (ou sob) seus 90/95 quilos mal distribuídos em seu um metro e meio de altura. Sem dó, ela metia o corpanzil em saias e vestidos muito justos e não perdia a pose nem dentro de um minúsculo maiô.
Feito ela, conheci outras mulheres de muito peso que me pareciam muito mais felizes que muitas magras. A pele lustrosa e o sorriso invariavelmente grudado no rosto reforçavam a minha teoria. Além, é claro, de terem atrás de si companheiros que não pareciam resignados, mas antes entusiasmados com a “saúde” da parceira. Intimamente, me perguntava se a razão dessa alegria meio que permanente não se devia ao fato de poderem visitar a geladeira sem culpa e sem medo de ser feliz.
Não que eu não fosse uma pessoa feliz por ser magra nos tempos em que era magra. E no caso, era é uma conjugação bem adequada para quem pulou de um peso médio de 58 quilos para 75/76 quilos.
Mas, cá pra nós, não encontrei ainda nenhuma vantagem em ser gorda. O corpo mais pesado dificulta os movimentos. A preguiça aumentou. A agilidade diminuiu. A sensação de ter uma circunferência maior não é boa. E, quer saber? Eu preciso criar vergonha na cara e caprichar numa dieta. Mesmo porque, minha consciência está gritando cada vez mais alto toda vez que abro a geladeira.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Complicação pouca é bobagem


Acostumada a ser muito prática com as coisas, quando me divorciei, decidi manter o sobrenome Batista de casada. Por alguns motivos que me pareceram muito óbvios: 1 - simplificar, 2 - era conhecida na minha profissão por Loreci Batista e 3 - achei que seria legal para as meninas que a mãe tivesse o mesmo sobrenome delas. O que eu não sabia é que, ao contrário de facilitar, isso me traria tanta complicação.
O problema maior é que a minha identidade foi feita quando eu era muito jovem e não levei a frente nenhuma das tentativas de fazer um documento novo. Como o CPF e a habilitação carregavam o Batista, raramente precisava da identidade. Até porque a carteira de motorista virou um documento reconhecido em praticamente qualquer transação. Só que, vira e mexe, alguém cisma de exigir ou a identidade ou a certidão de casamento/divórcio.
Então, aconteceu um fato que complicou ainda mais o que já estava complicado: extraviei a certidão original; fiquei só com a cópia, geralmente recusada. Mas a coisa virou uma bagunça, mesmo, quando o DETRAN não aceitou renovar a carteira com o mesmo nome, e excluiu o meu Batista. E eu fiquei sem ter como confirmar que eu era eu. Um caos!
Não tinha jeito, precisava de uma nova identidade! Fui ao órgão competente fazer a solicitação, mas esqueci de um detalhe: faltava a certidão original. Apelei pra minha irmã, no Rio Grande do Sul, que conseguiu uma segunda via no cartório local e tão logo ela chegou, fiz o pedido de uma carteira de identidade novinha.
No dia combinado, fui buscar o documento e me informaram que ele havia sido impresso com erro. Pensei logo que se tratava do Demeneghi, frequentemente grafado errado, mas não, era o Batista que foi escrito Bastista. O simpático rapazinho que me atendeu disse que iam fazer a correção e marcou uma nova data para fazer a retirada.
Voltei hoje para buscar minha nova identidade, pronta para já sair dando um carteiraço. E não é que o erro continuava lá, mantido na nova impressão?
Ninguém me pediu desculpas, mas me prometeram fazer uma nova RG, certinha, sem erro e que até a semana que vem estará pronta. Que bom!, pensei, vou poder acertar a minha vida de cidadã, mas, por enquanto, fazendo eco ao refrão de Caetano, eu vou caminhando...
... sem lenço e sem documento!


domingo, 26 de maio de 2013

Tempero extra


Nas proximidades da minha casa, acaba de “se instalar” mais um ambulante do ramo de alimentos. Ele estacionou o reboque na beira da praça e ali oferece pastéis e caldo de cana. Desde cedo, ele está por ali, tal qual estivesse em sua própria casa, sentado numa cadeira, com as pernas apoiadas em outra, aguardando a clientela. O meu olhar desconfiado que já tentou espiar para dentro da barraquinha, duvidou da qualidade do que se serve ali.
Um pouco mais à frente, aos sábados e domingos, uma moça vende frango assado. Com os franguinhos já girando na máquina de assar, ela varre o entorno, espantando os pombos e levantando poeira. Poeira que certamente vai se depositar, uma parte dela, sobre os assados.
Tem também o vendedor de espetinhos, o de cachorro quente, o de baguncinha, a maior parte deles sem ter sequer uma bacia com água para lavar as mãos, que dirá água corrente, como manda a cartilha de boas práticas de higiene da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
As boas práticas são cobradas à exaustão dos empreendimentos legalizados, com seus donos sendo obrigados a se adequar constantemente às normas, cada vez mais exigentes, voltadas a preservar a saúde dos consumidores, através do consumo de alimentos saudáveis.
No entanto, a fiscalização é totalmente invigilante quando se trata do comércio informal, que prolifera muito à vontade diante dos olhos compassivos das autoridades e da própria sociedade. As pessoas pensam mais ou menos assim: ah, coitado, deixa ele ganhar o dinheirinho dele! É uma espécie de compaixão que fala mais alto e permite que qualquer um venda qualquer coisa em qualquer lugar sob quaisquer condições.
E quanto aos micróbios, a poeira e as impurezas todas que vão junto com a comida? Ah, essas são por conta da casa!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Solteira nunca mais



Dia desses, enquanto aguardava para fazer uma consulta médica, a atendente, ao preencher a minha ficha, perguntou: estado civil? E eu, divorciada. A resposta, tão mecânica e que eu venho respondendo a tanto tempo, dessa vez mexeu comigo e eu me vi falando em voz alta:
– Credo! Isso parece uma marca! E é pra vida inteira!
A moça riu e fez outra pergunta, obviamente sem conotação com o cadastro relativo à consulta: a senhora não quis casar de novo?
Rápido e prontamente, respondi que não.
Só que não é tão simples assim. Refletindo melhor agora, penso que deveria ter respondido de outra forma,  pois casar não é só uma questão de querer ou não.
Casar não é uma coisa que se faz assim como quem vai ao cinema, ou sai para tomar um chopp, ou faz uma pequena viagem. Ainda mais quando não é a primeira vez.
Na verdade, não aconteceu. Não tornei a casar. Então, me mantive solteira. Ou melhor, me mantive divorciada. Quer dizer, não sou casada, estou solteira, mas não sou solteira, porque sou divorciada.
E para quem não sabe, o estado civil de uma pessoa divorciada é comprovado por uma anotação, chamada de averbação, no verso da Certidão de Casamento. Depois do RG, é um dos documentos mais importantes. E é pra vida inteira. A não ser que a pessoa case novamente.
Ou seja, depois de se casar uma vez, um solteiro nunca mais será um solteiro. Será sempre um casado, se mantiver o casamento, ou um divorciado, se o interromper.
No meu caso, solteira nunca mais! Para sempre divorciada!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O ovo



Nunca gostei de deixar faltar ovo na geladeira. Compro ovo em cartela de duas dúzias e meia, que é pra nem faltar, nem passar do prazo de validade. Pois não é que errei a conta e hoje faltou ovo bem na hora de preparar o almoço? 
Como fazer panqueca sem ovo? Aliás, como fazer qualquer coisa sem ovo? Ovo é base para o bolo, para a torta salgada, para a torta doce, para o suflê, para a maionese, para o empadão, para as massas, para o peixe-bife-filé-frango-banana à milanesa, para o pão de queijo, para o pudim, para os biscoitos, para os pavês, para a rabanada...
 “Quem tem ovo, tem comida”, disse a moça do supermercado ao passar a minha compra, uma dúzia de ovos para salvar as panquecas. Sábia ela! Pois, não é verdade que o ovo salva uma refeição? Quem não se lambuza diante de uma boa omelete? E o pão com ovo, essa dobradinha de que fazem muita piada e alguns até torcem o nariz, mas que agrada tanta gente? Aqui em casa, qualquer motivo vale pra comer pão com ovo.
E o ovo cozido, então? Com ele, o cardápio fica mais rico, o pastel mais gostoso, a salada, o macarrão e o sanduíche mais encorpados.
Então, que não faltem ovos em nossas cozinhas!
E nem galinhas nos galinheiros!

domingo, 28 de abril de 2013

Eu caminho, tu caminhas...



Tenho um amigo que costuma dizer que não faz caminhada porque caminhar engorda. “Pelo menos, eu só vejo gente gorda fazendo caminhada”, brinca ele, que, ao contrário do que diz, é adepto do esporte e faz longos percursos no seu tempo livre.
Brincadeiras à parte, “caminhar é a mais simples de todas as atividades físicas e uma forma surpreendentemente eficaz de emagrecer e tonificar o corpo”, conforme estudos realizados em centros de pesquisas de vários países.
Até eu, que prefiro me exercitar girando o controle da TV ou movendo o mouse do computador ou folheando um livro ou ficando à toa, esparramada numa cadeira de fio, na cama ou no sofá, estou aderindo à prática. Os meus motivos são: não enferrujar, consumir as calorias presentes nas minhas porções diárias de chocolate, capuccino e docinhos diversos e – insisto – não enferrujar, porque, convenhamos, é chato, senão trágico, quando você começa a ouvir “crec” cada vez que movimenta a perna, o braço, ou mexe o pescoço. Parece que vai começar a quebrar.
Pois nessas caminhadas que, no meu caso, acontecem de manhã cedo, no parque, a gente vê um pouco de tudo; gente feia, gente bonita, gente nova, gente velha, gente magra, (muita) gente gorda, gente vestida adequadamente, gente que parece que esqueceu de tirar o pijama, gente charmosa, gente espalhafatosa e, o pior de tudo: quanta gente mal humorada!
Não sei os motivos que tiram o humor dessas pessoas, se acordar cedo, se o próprio exercício de caminhar, se a natureza delas. O que sei é que elas estão no contraponto de outras, que transpiram alegria que sorriem, que dão bom dia, que parecem ter mais leveza no andar.
Caminhar virou quase uma obrigatoriedade. Por trás do compromisso, geralmente está uma ordem médica, enérgica e implacável. É claro que também tem os que gostam de aderir aos modismos, os que querem impressionar alguém, os que “vou porque o fulano está indo”. Mas, que a moda pegou, pegou.
E o melhor da festa vem depois, quando a gente faz uma parada na padaria para comprar pão quentinho. Afinal, ninguém é de ferro, né?

domingo, 21 de abril de 2013

O tomate faz o show



Na esquina de casa, a caminho da padaria, lá estava ela, esparramada no chão sujo da rua: uma rodela de tomate. Para ser bem precisa, era uma bela rodela de tomate, vermelha e suculenta, daquelas que a gente coloca com gosto no prato e tem o maior prazer em degustar.
Inquiri meus botões sobre aquele desperdício e não cheguei a outra conclusão senão o fato de que aquela fatia de tomate havia escorregado para fora de um sanduíche ou de uma salada mal acondicionada para viagem. Sequer me ocorreu a ideia de que alguém pudesse cometer o disparate de jogar fora. Sim, porque isso seria uma heresia nesses tempos em que o preço do tomate está pela hora da morte.
Aliás, o tomate virou inimigo público número 1, uma glória para esse vegetal que vive a nos confundir se é fruta, verdura ou legume e que tem um histórico de passar despercebido pelas cozinhas e feiras. Nem lendário como a maçã, ou afrodisíaco como o morango, ou glamouroso como a pitaia, ou ainda popular como a banana, o tomate sempre viveu longe dos holofotes.
Agora é sua vez de brilhar, no noticiário econômico, nas piadas dos internautas, nas promoções dos supermercados e até nas propagandas de ketchup. Tem até um concurso de rádio que promete ao ouvinte ganhador uma cesta de tomates fresquinhos.  
É, o tomate está virando a mesa. E se tornando a atração principal do show.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O colar



Adoro fábulas. Entre os meus escritores de fábulas favoritos está Jean de La Fontaine, com sua cegonhas, sua raposas, seus ratos e seus cordeiros cheios de moral. Mas a minha fábula preferida é A Revolução dos Bichos, do escritor inglês George Orwell, uma sátira que retrata, através da figura de animais, a sedução do poder e as fraquezas humanas.

O que transcrevo a seguir não é exatamente uma fábula, é um texto para reflexão, de autor desconhecido pelo que consegui apurar, mas cujo conteúdo gostaria de compartilhar:

 

“O homem por detrás do balcão olhava a rua de forma distraída, enquanto uma garotinha se aproximava da loja. Ela amassou o narizinho contra o vidro da vitrine e seus olhos da cor do céu brilharam quando viu determinado objeto.
Ela entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesas azuis.
– É para minha irmã. Você pode fazer um pacote bem bonito?
O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:
– Quanto dinheiro você tem?
Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão e, feliz, disse:
– Isto dá, não dá?
Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.
– Sabe – continuou – eu quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que morreu nossa mãe, ela cuida da gente e não tem tempo para ela. Hoje é aniversário dela e tenho certeza que ela ficará feliz com o colar que é da cor dos olhos dela.
O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.
– Tome – disse para a garota – Leve com cuidado.
Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo.
Ainda não acabara o dia, quando uma linda jovem de maravilhosos olhos azuis adentrou a loja, colocou sobre o balcão o embrulho desfeito e indagou:
– Este colar foi comprado aqui?
– Sim senhora.
– E quanto custou?
– Ah! – falou o dono da loja – o preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o freguês.
– Mas minha irmã somente tinha algumas moedas. E esse colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagar por ele.
O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem:
– Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar. Ela deu tudo o que tinha!
O silêncio encheu a pequena loja, e lágrimas rolaram pela face da jovem, enquanto suas mãos tomavam o embrulho e, emocionada, ela retornava ao lar.”

quinta-feira, 28 de março de 2013

A Lulu e eu



Dia desses, aterrissou aqui em casa uma Luluzinha, um dos gibis que marcaram a minha infância e a dos meus irmãos. E eu me deliciei com as singelas historinhas da menininha de cabelos cacheados que se envolve em atrapalhadas aventuras junto com o Bolinha, a Aninha, o Carequinha, o Alvinho e outros personagens da turma. Apesar de já existir na versão jovem, onde as mudanças são radicais, a revista Luluzinha tradicional mantém as características dos personagens, a simplicidade dos cenários e a ingenuidade dos enredos que nos encantavam e divertiam.
A minha história com os gibis vai de muito tempo. Do tempo em que os meninos iam ao cinema aos domingos e aproveitavam para trocar as revistinhas. Tenho três irmãos; portanto, lá em casa eram três meninos trocando gibis no cinema todos os domingos. Então, sobrava revistinha para nós, meninas, nos fartarmos de ler.
Teve até um episódio em que decidimos ficar ricos vendendo revistas em quadrinhos. Algumas caixas de sabão para fazer o balcão e estava montada a loja que durou apenas um dia e que só não teve prejuízo total porque uma vizinha, solidária a nossa tristeza, comprou uns dois ou três exemplares.
Adulta já, o gibi virou terapia, um doce intervalo a restituir tranquilidade após jornadas de trabalho desgastante.
Minhas filhas foram apresentadas aos quadrinhos desde muito cedo, bem antes de lerem por sua própria conta. Elas cresceram em meio a pilhas de Chico Bento, Mônica, Cebolinha, Zé Carioca, Pato Donald, Recruta Zero... E, tal qual a mãe, tomaram tanto gosto que se tem uma coisa que não falta aqui em casa é uma boa quantidade de gibis.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Educação Nota Zero



Fui surpreendida esta semana por uma péssima notícia: redações que obtiveram nota máxima no Exame Nacional do Ensino Médio apresentaram graves erros de português. Palavras escritas com erros de grafia como "rasoável", "enchergar" e "trousse" apareceram em alguns textos que ganharam nota 1.000. Também foram percebidos erros de concordância em algumas redações.
Mais estarrecedor que a notícia foi a explicação do Ministério da Educação para o fato: “o texto é analisado como um todo, e o que importa mesmo é que o candidato tenha um excelente domínio do português, mesmo que ele cometa pequenos desvios gramaticais”.
Quer dizer, essa brutalidade que os estudantes cometem contra a língua portuguesa tem aval oficial. O que, bem ou mal, explica o descaso das nossas autoridades para com a educação. Uma educação que está emburrecendo nossos jovens, que mal sabem escrever, mal sabem ler e, para desespero de professores bem intencionados, são aprovados compulsoriamente, a título de engrossar os índices oficiais.
Um país que brinca com a educação desse modo não tem compromisso com o futuro. E um povo que se sujeita a isso corre um sério risco: servir de boi de manejo. O que é muito conveniente para a classe governante.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Cheiro de Páscoa



A Páscoa está chegando. Já estou sentindo o cheiro dela. Até porque, não tem como não sentir. As lojas estão abarrotadas de ovos de chocolates. E dos mais variados tipos e modelos. Tem ovo representando quase todos os sabores de chocolate. Tem ovo grande. Tem ovo pequenininho. Tem ovo com surpresinha. Tem ovo só para meninos. Tem ovo só para meninas. Tem até ovo que não é ovo, é um bombom ou é uma maletinha.
O cheiro da Páscoa me leva a fazer uma viagem pela minha infância, quando os ovos não eram de chocolate, eram de açúcar. Delicadas peças de açúcar brancas, enfeitadas com florzinhas de anilina azuis, amarelas e cor de rosa. Um pouquinho enjoativos, pelo excesso de açúcar, mas verdadeiras obras primas que faziam a alegria da criançada.
Mas o melhor da festa eram mesmo os ovinhos caseiros que a minha mãe fazia às escondidas para nos surpreender no domingo de Páscoa. Eram ovinhos de galinha guardados por semanas e então pintados com papel de seda colorido e recheados com amendoim açucarado, que no Sul chamamos de carapinha.
Depois de prontos, os ovinhos eram colocados em cestas feitas com caixas de papelão e enfeitadas com franjas coloridas, que depois eram escondidas para serem encontradas no domingo de Páscoa. O trabalho era todo da mamãe, mas o crédito era todo do coelhinho.
Que saudade!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Pobres de nós, pobres clientes!




Quando a gente sai para fazer compras, encontra de tudo, principalmente falta de atendimento. Na maior parte das vezes, a gente compra porque realmente quer comprar e não porque alguém se esforçou para vender o produto. Via de regra, o dito vendedor não sabe o preço, não sabe se tem outra cor ou tamanho, não sabe informar as características do que está vendendo. Se você não está muito determinado a comprar, sai da loja de mão vazias. Caso contrário, faz o papel dele, vendedor, ou pelo menos o que ele deveria fazer, e se atraca a uma busca incansável até encontrar o que precisa.
Lojas de telefonia, de eletrônicos e de móveis e eletrodomésticos, por exemplo, que vendem através de propaganda, entendem que você vai à loja somente para buscar o produto. Só que não é bem assim. A gente – principalmente nós da geração mais antiga –, também quer ver, pegar, testar, comparar, enfim, confirmar se é aquilo mesmo que se quer comprar. E aí é a hora do stress. Começa que o vendedor tem que ser pego no laço. Ele está sempre o mais distante possível do cliente. Quando ele vem te atender, já deixou alguém esperando e aí o cara que tá esperando lá do outro lado quer mobiliar a casa e você, apenas uma frigideira. Dá pra imaginar o resultado do atendimento.
É claro que isso tudo tem exceções e eu me sinto gratificada quando encontro pela frente um bom vendedor, um profissional que se esforça para atender os desejos do cliente, não importa se você está comprando o carro ou apenas o pneu. Porque, senão, é melhor comprar pela Internet. Contato frio por contato frio...
A bem da verdade, fala-se tanto em encantar o cliente, mas isso ainda está muito no campo da teoria, preso aos discursos, às salas de treinamento, e longe da prática. Então, quando a gente se depara com casos em que a empresa se preocupa em proporcionar um bom atendimento, temos que propagar isso.
Por isso, aproveito este post para render uma homenagem a algumas marcas que estão conectadas com esse desafio, como a Nissin-Miojo, que atendeu prontamente a uma reclamação referente a um saquinho de tempero que estava aberto dentro do pacote, telefonando e tomando todas as providências para a troca do produto, o que incluiu até mesmo o envio de uma caixinha de Sedex, já adesivada com os dados do destinatário e remetente, para despachar o produto danificado para análise, sem custo ao cliente. Junto, dois pacotinhos de macarrão e uma sacola promocional.
Procedimento semelhante foi tomado diante de uma reclamação pela Petybon, que enviou um mensageiro para fazer a substituição do produto, depois de ter apurado as informações e ter se desculpado por telefone.
Também tem o caso da Kibon, contactada por conta de um picolé com defeito, que enviou um pedido de desculpas através de um pacote de picolés entregue em casa pelo caminhão refrigerado que faz o abastecimento das lojas.
São três bons exemplos em que a atenção com o cliente está incorporada, de fato, à gestão da empresa. Que é quem ganha no final, pois na hora da compra, recebe em troca a atenção e a fidelidade do cliente. Em casa, por exemplo, essas marcas têm lugar garantido na mesa. Chova ou faça sol! 

terça-feira, 5 de março de 2013

Crime e castigo



Cada qual tem o seu pior castigo: a visita da sogra, o dia em que o salário acaba, a energia que vai embora bem na hora da novela, o pneu que fura a caminho da festa, a chateação do vizinho intrometido.
O meu pior castigo é abrir mão do açúcar. Não do açúcar propriamente dito, mas do açúcar embutido nos bombons, nas barras de chocolate, no sorvete, nos pudins, nas tortas e nos pavês, nas bombas e – ah delícia! – nas massas folhadas entupidas de creme de baunilha.
Sempre que a balança pesa demais em meu desfavor, é hora de desacelerar. É hora de apelar para uma dieta que passa longe dos meus amados docinhos. E aí começa o castigo. A cabeça dói. A boca seca. A mente trapaceia, é só uma paçoquinha!. O organismo pede! Clama! Implora!
E aí, não tem dieta que aguente! Quando me dou conta já estou cometendo aquele que é, por extensão, o meu pior crime: devorar compulsivamente o conteúdo doce da geladeira.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

É... tá na hora de voltar com o blog.



Já não era sem tempo! Depois de cinco meses fora do ar, decidi retornar com o blog. O afastamento não foi programado. Aliás, foi totalmente involuntário. Uma coisa foi se somando à outra. Primeiro, fiquei sem ideias, em seguida, sem empregada e, por fim, me envolvi com tantos assuntos e terminei perdendo muito tempo e o rumo do blog.
Mas eu voltei. E agora pra ficar. (Olha o Roberto Carlos aí, me inspirando, e eu nem sou muito fã)
Então, muita coisa aconteceu nesse tempo. Muita coisa que renderia um texto, um novo post. Como o dia em que levei uma hora e meia pra voltar pra casa em razão das benditas obras da Copa. Teve a eleição do Renan Calheiros, que indignou a mim e mais milhões de brasileiros. Também a minha briga com a Sky, que deixou a gente em casa quase 30 dias sem sinal e que só se resolveu via PROCON. Ah, e que tal o meu reencontro com a Grapette, o saudoso refrigerante que eu tomava quando criança e que conserva o mesmo slogan Quem bebe Grapette repete?
É... já está mais do que na hora de voltar com o blog!