domingo, 30 de agosto de 2009

A vitória de parar de fumar


Tem quase cinco anos que eu parei de fumar. Sem dúvida, foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz na vida. Já ouvi algumas pessoas dizerem que para elas foi fácil; um dia resolveram parar e... pronto. Comigo as coisas não foram tão simples assim. O primeiro ano foi o pior. A vontade de fumar vinha todos os dias, todas as noites, todas as horas. Depois, foi amenizando. Três anos depois, eu ainda acariciava uma carteira de Carlton com saudade.

Imagino que todo mundo lembra a data que parou de fumar. Eu lembro até a hora. Era meia noite do dia 31 de dezembro. Sim, foi uma resolução de Ano Novo. Fumei até a meia noite e, então, parei. Definitivamente. Até então, como todo bom fumante, eu já tinha feito mais de cem tentativas de parar. Todas frustradas. E a cara deslavada de enfrentar as pessoas depois de ter anunciado pra todo mundo que ia largar o cigarro? Aliás, isso é típico dos fumantes. A falta de dignidade.

Eu também tentei a estratégia de reduzir o número de cigarros fumados por dia. Começava a contagem regressiva: 17, 16, 15, 14, 13, 12. Jamais ultrapassei o número 12. Ao contrário, sempre que chegava nele, a contagem retrocedia: 35, 36, 37... Qualquer coisa servia de pretexto para voltar a fumar no ritmo de antes. Mas, um dia eu consegui a determinação que eu precisava. Aliás, determinação é a palavra chave. Não existe outra. E, no meu caso, ela foi motivada quando eu percebi que o valor que estava dando ao cigarro era demasiado. Havia coisas muito mais valiosas como a vez em que, depois de ter conseguido ficar três dias sem fumar, a minha filha me deu um abraço seguido de uma observação que ficou martelando na minha cabeça: “mãe, como você está cheirosa!”. Decerto que eu vivia fedendo. Em outra ocasião, eu, que adoro dançar, tive que parar na metade de um vanerão, por falta de fôlego.

Dizem que todo ex-fumante é um chato. Eu procuro não ser. Mas, às vezes, eu não consigo resistir e me meto a aconselhar, principalmente os mais jovens, a parar de fumar, porque o cigarro não vale a pena. Invariavelmente, a resposta é a mesma: “eu paro quando eu quiser”. Eu também parei quando eu quis. Depois de quase trinta anos de um estrago irreparável na minha pele, que me faz aparentar uns dez anos mais velha; no meu pulmão, recheado de fuligem; na minha energia, que bloqueia o meu esforço físico; e, ainda, na convivência com minha família, com meus amigos, que muitas vezes eu sacrifiquei por conta de fumar um cigarrinho.