quinta-feira, 4 de outubro de 2012

É preciso conservar a esperança



Existe muito fundamento quando as pessoas falam que a política não é para gente de bem; que a política não respeita escrúpulos; que fazer política é coisa de mafioso. Apoiando um candidato a vereador, tenho estado um pouquinho mais perto dessa coisa que me venderam como um antro de corrupção. E que, infelizmente, não é menos do que isso. Vale, portanto, o preço justo.
Tenho ouvido fatos capazes de ofender os princípios morais de qualquer cidadão. Nesse mercado, compra-se e vende-se de tudo: votos, candidaturas, eleitores, cargos. Os preços variam e o produto tanto pode custar alguns milhares de reais – dizem que tem casos até de contagem em milhões – como alguns poucos trocados, um tanque de combustível, uma cesta básica e até mesmo um baguncinha ou uma coca-cola.
É claro que a legislação não permite isso. Mas o famoso jeitinho brasileiro ajeita tudo. Do mesmo jeito que ajeita tantas outras violações. E eu acredito que por algum tempo essa promiscuidade que caracteriza a política ainda se refletirá nos resultados das eleições, porque está incorporada na cultura de um povo que está acostumado a tirar vantagem em tudo, sem se importar muito com as consequências.
Mas nem por isso devemos desanimar. Ao contrário, temos é que combater com mais ênfase essa prática antiga de troca de favores, começando por agir e exigir de nossos candidatos honestidade e dignidade.
Gente do bem como nós deve manter a firmeza e, antes de tudo, a esperança. Esperança de que é possível melhorar a saúde, a educação, o bairro em que vivemos, a cidade, o país. Esperança de que a vida possa, de fato, ter mais valor que o dinheiro. Esperança de que ser honesto, digno e honrado não seja motivo de envergonhar. E sim de orgulhar.

sábado, 8 de setembro de 2012

Revolta



Ao ver nosso carro arrombado, saindo do hospital onde acompanhava minha filha que não estava passando bem, quase explodi, de raiva, de desalento, de revolta. A princípio quis me culpar por ter deixado o carro na rua, mas havia mais de uma centena de carros no entorno e eu não podia esperar que isso viesse a acontecer, além de que o hospital não possui local adequado para o público deixar seus veículos e o estacionamento privado existente nas imediações está sempre lotado. Mas logo me recobrei e me eximi da culpa. Sim, porque o bandido era outro, era o cara que teve a ousadia de quebrar o vidro da porta e furtar o que lhe convinha. Então, a raiva cresceu e fiquei imaginando a cara do sujeito, a sua total falta de escrúpulo, e o quanto ele merecia ser punido por se apossar do que não lhe pertence.
Desse bandido, a minha atenção mental se voltou para o outro delinqüente, tão criminoso quanto aquele, que é o receptador. E fiquei imaginando a cara dele, a sua total falta de escrúpulo, e o quanto ele merecia ser punido por adquirir mercadoria roubada.
E então, me revoltei mais ainda, o que de pouco adianta porque faço parte de uma massa cuja voz soa fraca, uma massa que é vítima impotente num país onde reina a impunidade e onde os valores perderam seu valor. 
Eu sou do tipo que não compra nem CD/DVD pirata para não estimular a pirataria. Os princípios que aprendi com meus pais repassei para meus filhos. Vejo muitos assim como eu e acho que formamos uma corrente do bem, que paga o pato pela falta de princípios dos outros e que padece pela precária justiça humana.
É claro que já refleti que o episódio do arrombamento poderia ter envolvido um susto maior, uma arma, sangue e, quem sabe, uma tragédia. E agradeço a Deus pelos danos terem sido puramente materiais. O que não me impede de erguer a voz pedindo punição rigorosa para os ladrões, um passo importante para resgatar os valores éticos. Valores que distinguem os homens dos animais.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Eu voto na integridade



Como quase todo bom brasileiro, eu sempre procurei me manter fora das discussões políticas. Na hora de votar, me limitava a atender o pedido de algum amigo candidato ou amigo de candidato e já aconteceu de um ano ou dois depois nem me lembrar em quem havia votado. Na última eleição fiz diferente, escolhi a dedo um candidato a senador e apostei nele. Coloquei o adesivo no meu carro e fiz uma singela campanha, falando dele para os amigos mais próximos. E não me arrependi.
Meu candidato tem sido um farol a iluminar o ambiente escuro e tenebroso da política. A bem da verdade, ele está fazendo o que todo parlamentar deveria fazer e não faz. Ele faz porque, ao contrário da maioria dos seus pares, não se deixou enredar pela corrupção, uma peste que está impregnada no meio político e na elite que circula ao seu redor e que já consumiu dinheiro demais. Dinheiro que falta na saúde, na educação, na segurança e em tantos outros setores.
O meu candidato, hoje senador, chama-se Pedro Taques e, como eu, milhares de pessoas hoje o reverenciam. Pessoas que, como eu, querem mudar e mais do que querer, estão dispostas a fazer alguma coisa para mudar. Acho que já aguentamos demais, ficamos passivos demais. Está na hora de encarar o lamaçal sem medo de ser engolido por ele. E para isso não é necessário ser prefeito, nem governador, nem deputado ou senador. Basta fazer bom uso de um poder que todos nós temos nas mãos a cada vez que acontece uma eleição, o voto. E depois de eleger, usar o outro poder, o de cobrar.
De minha parte, estou comprometida com a eleição de um bom vereador, um homem do bem, com bagagem como professor, como trabalhador, como voluntário, como esportista, um homem que, em primeiro lugar, é honesto.  O meu candidato é uma pessoa íntegra que não está entrando na política para se beneficiar financeiramente, nem para favorecer alguém. E sim para representar a sociedade na busca de melhorar a educação, a saúde, o esporte, enfim, as condições de vida na cidade de Cuiabá, bem como exercer um papel fundamental, que é o de fiscalizar o bem público, visando impedir o desvio de recursos. É uma boa contribuição para a política começar a deixar de ser sinônimo de astúcia e se transformar num exercício de cidadania. Com ética, dignidade e honradez!

domingo, 22 de julho de 2012

A preço de banana




Uma propaganda me surpreendeu logo cedo: “duas pós-graduação pelo preço de uma”.
É de fato surpreendente, pois até bem pouco tempo cursar uma faculdade era coisa para poucos; uma pós-graduação, então, era para mais poucos ainda.
Hoje, as ofertas de cursos se multiplicam e os preços e condições de pagamento permitem a qualquer cidadão comum tirar seu diploma de curso superior. E fazer sua pós-graduação. Com isso, ampliou-se o acesso, então tão restrito, ao terceiro grau. O que, por um lado, é louvável, pois a educação não precisa e nem deve ser restrita a uma elite. Mas, por outro, é lamentável, pois a base do ensino, a escola fundamental, continua a produzir estudantes que mal sabem ler e escrever. Estudantes que não conseguem fazer uma simples redação e que – eu me pergunto – como são capazes de apresentar uma monografia ou defender uma tese? (Mais estranho ainda: como conseguem aprovação para levar o certificado para casa?).
O resultado disso a gente vê no mercado de trabalho, com levas de graduados e pós-graduados trabalhando em áreas para as quais se exige quando muito o segundo grau. São pessoas que, embora habilitadas por um certificado, são incapazes de corresponder com tarefas que lhes exijam um pouco mais de raciocínio, ou de conhecimento, ou de redação, ou mesmo o conteúdo do curso que cursaram.
Não basta escancarar as portas do ensino de grau superior. É preciso melhorar o ensino que vem antes. Porque vender cursos a preço e como se fosse banana só é bom para encher os cofres de quem os realiza. E para quem não pretende nada mais do que expor o diploma na parede. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

É de nascença!



A mulher alisava a mancha escura situada na extremidade da face esquerda, no pé do cabelo na região da costeleta.
– Tem dias em que a coceira é insuportável – falou, expondo, para quem quisesse ver a nódoa, segundo ela de nascença – minha mãe passou vontade de comer ameixa na minha gravidez – explicou – e eu nasci assim, com a marca da vontade dela.
As garotas em volta riram, menos uma, a que estava grávida e que a partir de então passou a viver obcecada, com medo de imprimir na pele do filhote que carregava no ventre a mancha de suas vontades, que eram tantas e as mais extravagantes possíveis.
Ainda naquele dia amanhecera com desejo de comer abacate. Mal o formulou e já chegava o marido carregando uma meia dúzia de abacates que tratou de ir logo servindo – com leite, querida? Não quero que nosso filho venha ao mundo com cara de abacate – ele falou, antes de dar uma sonora gargalhada.
Assim que chegou em casa falou ao companheiro que essa coisa de gestante passar vontade era coisa séria e que tinha visto uma prova disso na cara de uma mulher que carregava uma mancha por conta do desejo da mãe de comer ameixa. Aos prantos, disse que estava morrendo de medo do filho sair com cara de fruta. Ele riu e a tranquilizou de que tudo não passava de superstição popular.
Pois quanto mais ela refletia sobre o acontecido, mais vontades lhe eram despertadas. Tanto que o marido – coitado! – vivia correndo atrás de atender seus desejos que não se restringiam mais ao campo das frutíferas. Além de carambola, pêssego e uva, a futura mamãe incrementou seus pedidos: chocolate, torta de morango, sorvete de tamarindo – não pode ser de maracujá? –, risoto de camarão, leitão à pururuca.
  Num domingo de setembro, a futura mamãe anunciou ao futuro papai que desejava ardentemente comer rã. E à provençal. – Rã? Onde vou encontrar rã? Se você quiser saber, mamãe faz um frango à provençal que é um luxo! – ele insistiu, alegando, inclusive, que o sabor da rã é muito parecido com o do frango.
Mas ela não queria saber nem de frango nem de nada que não fosse rã.
E o pobre marido saiu em busca de satisfazer o desejo da mulher. Porém, todas as suas tentativas foram em vão. Não havia carne de rã disponível no mercado. Havia carne de jacaré.
– Jacaré tem gosto de peixe! – ele ponderou ao vendedor.
– Mas tem a consistência do frango e se temperar bem, não dá para perceber – considerou o astuto vendedor.
Vencido, ele comprou uma generosa porção de jacaré e levou para sua mãe preparar como se fosse rã. O prato ficou delicioso e a gravidazinha, satisfeita.
  Quando o bebê nasceu, uma menininha de narizinho arrebitado tal qual a mãe, o pai foi o primeiro a ver o desenho feito uma tatuagem na panturrilha da filha. Assombrado, ele constatou que o desenho retratava uma gorda e vistosa rã.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Farofa de banana



(Escrevi esta crônica, fictícia, durante o curso de Leitura e Escrita Literária -  A Crônica de Cada Um, promovido pelo SESC e tendo como professor o excelente Luiz Percival Leme Britto)

Para minha surpresa, já que não sou dada a muita frescura com essa coisa de comida, acordei com uma vontade medonha de comer farofa de banana. Nem farofa de ovo, nem farofa de bacon, nem farofa de couve, nem farofa de coisa nenhuma. Farofa de banana. Simplesmente!
Ainda de camisola e andando pela casa enquanto tomava a minha primeira xícara de café, fui espalhando a notícia para toda a família:
– Vou morrer se não comer farofa de banana! – exagerei.
– Ih mãe! sem essa de farofa, eu tô a fim é de uma bela porção de peixe frito! De Pintado, de preferência!
– Quem faz uma farofa de banana muito boa é a Dona Eulália – falou Janete, a nossa empregada, já tirando o corpo fora.
Dona Eulália é a vizinha de frente e pedi, então, a Janete que fosse até a casa dela fazer a encomenda. Janete não tardou com a resposta:
– O filho dela disse que ela foi pra Livramento e só volta na semana que vem. “Agora quãndo!, mamãe tá de catcho com um pau rodado e só quer saber de dançar rasqueado lá pras bandas de Poconé”, ela falou, imitando o rapaz, e nos fazendo rir.
Me servi de mais uma xícara de café, liguei o computador e fui pesquisar no Google uma receita de farofa de banana. Encontrei mil. Ou mais. Mas nenhuma delas me convenceu a ir perder meu tempo na cozinha. Eu não combino – nunca combinei – com fogão. Nem com nada que tenha a ver com cozinhar. Esse é um verbo que eu não gosto de conjugar. Pelo menos não na 1ª pessoa.
Mas a bandida da farofa não saía do meu pensamento. E nem das minhas narinas. Tudo cheirava à farofa de banana. O sabonete, a colônia e mesmo o chimarrão que Janete me alcançou, junto com uma ideia que ela disse que teve “assim, num estalo”:
– Sabe a mãe do meu namorado? (Eu nem sabia que ela tinha namorado). O nome dela é Rita e ela é cozinheira de mão cheia. Faz uma comida que é daqui ó! (E sacudiu o lóbulo da orelha) Pois, então, acho que ela topa fazer uma farofinha pra senhora.
Fizemos uma roda em torno de Janete enquanto ela conversava, pelo telefone, com a tal Rita.
– Sei... comprar ingredientes de primeira. O quê? A farinha de mandioca tem que buscar em Santo Antônio do Leverger? Não? Ah, entendi! é pra comprar farinha na Praça da Mandioca, que vem direto de Santo Antonio do Leverger. Sei...
A um sinal dela, minha filha pegou um bloquinho e foi anotando...
– Como é que é? A banana tem que estar bem no ponto? Ponto de quê? Sei... Entendi!  Ponto de fazer a farofa!
E enquanto nora e sogra trocavam algumas considerações sobre o namorado/filho, peguei a bolsa, as chaves do carro, e me mandei às compras.
Felizmente, o trânsito ajudou e consegui comprar os ingredientes em pouco tempo e bem a tempo de entregar o carro ao mecânico, que fora buscá-lo, como combinado, na porta de casa, para uma revisão.
Um pouco mais tarde, enquanto lia um artigo no jornal, Janete avisou:
– Rita chegou e já se instalou na cozinha. Onde, mesmo, estão os ingredientes da farofa?
– Os ingredientes da farofa? – Demorei um pouco para me sintonizar. – Ora, a farinha, a banana e tudo o mais estão ... Estão no carro. No carro que está na oficina!
Uma hora depois, estávamos todos – inclusive a Rita – no restaurante mais cuiabano de Cuiabá.
Fui a primeira a correr o buffet generoso. Um pouco disso, um pouco daquilo e quando vi, tinha construído uma montanha sobre o prato. Janete, que vinha logo atrás de mim, me alertou:
– A senhora esqueceu de servir a farofa de banana!
E eu:
– Farofa de banana? E quem, lá, quer farofa de banana com tanta coisa gostosa para comer, como esse divino Pintado frito e esse pirão de encher a boca d’água?

domingo, 24 de junho de 2012

Pula a fogueira Iaiá, pula a fogueira Ioiô!



A fogueira era o principal ingrediente das nossas festas de São João, que, no Sul do país, aconteciam sob um frio medonho, “frio de renguear cusco”, como se diz por lá. Além de calor, a fogueira proporcionava claridade, dispensando a instalação de muitas lâmpadas no campinho que servia de local para a festa.

Os preparativos demoravam o dia inteiro, embora as bandeirinhas a gente confeccionasse uns dias antes, usando papel de seda colorido e barbante para prender. Elas, as bandeirinhas, ficavam lá tremulando, dependuradas de um lado a outro do campinho, em várias voltas, garantindo o clima alegre e festivo.

Com a ajuda das mães, cozinhávamos o pinhão, torrávamos o amendoim, assávamos a batata doce. A pipoca era estourada na hora da festa e chegava fumegando. Por causa do vinho, o quentão, cheirando à canela, fornecia um calorzinho especial e tingia de vermelho nossas bochechas.

Numa dessas ocasiões, depois de tudo arranjado no campinho, lá pelo final da tarde, cada qual foi pra sua casa se preparar para voltar à noite, no horário combinado para começar a festa. Mal chegamos em casa e alguém gritou que a fogueira estava acesa. O que parecia um trote era real. Pois não é que o Bugrão, como era conhecido o menino mais levado da redondeza, acendeu a fogueira?  Então, foi aquele atropelo, com todo mundo correndo para o campinho. O jeito foi antecipar a festa. Para aproveitar o calor da fogueira.

domingo, 17 de junho de 2012

Fuja do shopping!



Quer coisa mais desgastante do que ir ao shopping em véspera de datas especiais, tipo Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados...? É um verdadeiro teste de resistência! Os problemas começam no estacionamento. Dependendo de onde você mora, é mais cômodo deixar o carro estacionado em casa.

Tem fila para tudo: para o caixa eletrônico, para a Lotérica, para os caixas das lojas, para o sorvete... Os corredores ficam lotados e não sobra um banco vago para você descansar as pernas. Se conseguir um lugarzinho no quiosque para tomar um café, vai ter que aguentar o olho de um monte de gente torcendo para você desocupar logo a cadeira. O que tira a graça de degustar qualquer coisa que seja.

Experimente usar o elevador junto com mamães empurrando os carrinhos com seus bebês, enquanto os maiorzinhos se agarram as suas pernas. “Larga! Solta! Segura! Espera! Não grita! Não chora!”. E você ali, espremido no picadeiro, torcendo para não lambuzarem tua roupa, não pisarem nos teus calcanhares, não te estraçalharem.

Haja paciência para suportar as longas esperas na praça de alimentação e disputar uma mesa para fazer um lanche, em meio a um alarido que, mal comparando, parece o setor de produção de uma serraria. Conversar, nem pensar. Você nem come. Engole a comida. E trata de sair dali. Correndo.

Na saída, mais uma fila. Para liberar o ticket do estacionamento. Então, basta andar até o carro e torcer para que as pessoas não tenham tido, também, a ideia de ir embora. Para que as guaritas de saída estejam liberadas. Então... qualquer coisa depois disso é o paraíso.

Quer um conselho? Em datas comerciais, fuja do shopping. Inverta o ditado e “deixe para amanhã o que você poderia fazer hoje”!

terça-feira, 12 de junho de 2012

A rua era das crianças



Quando eu era menina a rua era, sim, das crianças. A rua – eu me lembro muito bem disso – era o nosso palco de diversões. Ali formávamos uma roda imensa que tomava toda a largura da rua e então ficávamos girando, cantando nossas cantigas favoritas:

“Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar”

“Terezinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão”

E logo aparecia uma bola e a brincadeira mudava para um jogo, que podia ser queimada ou vôlei. E já estávamos pulando corda, jogando amarelinha, brincando de estátua, de passa-anel, de pega-pega...

Quando chovia, nos divertíamos nas enxurradas, deslizando junto com a água, fazendo diques de pedra nas sarjetas e tentando equilibrar barquinhos de papel na correnteza.

As brincadeiras varavam a tarde, entravam na noite, até que as mães enfiavam as cabeças para fora das portas para nos chamar para jantar. Nenhuma delas se preocupava, porque sempre havia uma delas de olho.  

A violência, o trânsito, o isolamento das pessoas e todos os perigos das cidades enxotaram as crianças das ruas. E tiraram um tanto da graça de ser criança.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pobres crianças!



Como dói ler esses relatos de abuso sexual contra crianças. E como são comuns. E o pior: a maior parte deles acontece dentro de casa, no lugar onde supostamente as crianças deveriam estar protegidas.
As pesquisas mostram o seu lado mais cruel quando identificam que 38% dos abusadores são os pais das crianças, ou seja, justamente aqueles a quem compete o papel de proteger a família. Em segundo lugar, vêm os padrastos e na sequência, irmãos, avôs, tio, primos... E muitas vezes o crime acontece sob o beneplácito das mães.
Pobres crianças! Sem ter para onde correr, se fecham em seu próprio mundo, um mundo povoado de medo, de dor, de culpa e de vergonha, sentimentos que passam a carregar vida afora. Fantasmas que as assombram e atormentam. Feridas que muitas vezes jamais cicatrizam.
A violência sexual contra meninos e meninas acontece desde sempre, não se sabe em que proporção, pois que eram acobertadas pelo manto da obscuridade, diferentemente de hoje, quando começam a vir à tona e seus autores punidos pela legislação recente de proteção aos direitos da criança.

Mas ainda se tem um longo caminho a percorrer. E eu acredito que poderíamos ajudar muito se nos esforçarmos para promover o resgate dos valores morais e espirituais que nos diferenciam dos animais. Embora às vezes a gente não tenha tanta certeza de quem são, na verdade, os animais. Se nós ou eles.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Contra o mau humor



Todos nós temos os nossos dias ruins. Dias em que acordamos de mal com o mundo, olhando tudo pelo avesso e achando que a vida ficou cor de cinza. Às vezes, a gente melhora e consegue, por vontade própria ou por motivos alheios, dar uma guinada e, com sorte, umas boas risadas. Noutras vezes, só uma boa noite de sono traz de volta o colorido de um dia cheio de vida.

Nessas ocasiões, é preciso ter o bom senso de não descarregar sobre os ombros dos outros a carga do nosso dia ruim. Sim, porque tem pessoas que são demasiadamente influenciadas em suas ações pelo modo como acordam. Ou seja, se acordam bem, são capazes das maiores gentilezas, se desmancham em simpatia, aprovam tudo que lhes cai às mãos, são excessivamente solidárias e parecem compreender todos os problemas do mundo. Se acordam mal, entretanto, a vida vira um inferno. Para elas e para quem está perto delas.

O problema é quando essas pessoas são juízes, enfermeiros, professores, chefes... O mau humor pode interferir negativamente em seus atos, contribuindo para condenar inocentes, trocar a medicação de pacientes, deseducar os alunos, demitir funcionários, enfim, espalhar o caos ao seu redor.

E se assim for, que eles se permitam fazer aquilo que todos nós temos vontade de fazer quando acordamos num dia ruim: voltar para a cama. De onde, num dia ruim, jamais deveríamos sair.

Assistir um vídeo como esse que garimpei na Internet também ajuda a, pelo menos, arrancar uma boa gargalhada:


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Faces da Sustentabilidade



Se tem uma coisa que meus parentes que moram do Sul estranham muito quando chegam em Cuiabá é a falta de um sistema de coleta seletiva. Eles estão acostumados a separar o lixo do que eles chamam de lixo que não é lixo. Essa separação começa na cozinha das casas e termina na rua, onde o recolhimento é feito em separado e em dias alternados.

Embora ainda não se tenha um sistema como esse por aqui, muita gente vive de recolher latinha, papelão, garrafa PET. Alguns não chegam a depender totalmente dessa atividade, mas fazem dela uma alternativa para reforçar o orçamento doméstico.

Essa turma não costuma dormir no ponto e desde cedo é vista palmilhando as ruas e metendo a mão no lixo dos outros. Eles têm muita prática e conseguem, através do tato, identificar no conteúdo dos sacos, o que lhes interessa. Nem por isso estão livres do contato com todo tipo de sujeira, cacos de vidro e outros objetos cortantes.

Aqui em casa já nos habituamos a separar alguns itens, como latas, garrafas PET, vidro, papelão e embalagens Tetra Pak, que são armazenados e depois repassados para os catadores, o que facilita o trabalho deles. Os materiais que eles não recolhem, são levados para os coletadores instalados nos supermercados.

Isso é quase nada diante dos problemas ambientais que ameaçam o planeta, mas já é um começo. E é tão básico quanto simples de executar!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sou louca por chocolate!


Eu gosto de chocolate ao leite, com flocos, com nozes, com amêndoas, com amendoim, com pimenta, com licor, com morango... Pode ser em formato de flor, de cubo, de ovo, de coelho, de gota, de coração, de moeda, em barrinha, em barrona...

Também adoro chocolate na cobertura de tortas, em cremes, em mousses, em pavês, em suflés, em bombons, em bombas, em brigadeiros, em brownie, em cupcakes, em mil-folhas, em petit gateau, em rocambole, em pizza, em sorvete, em picolé...

Chocolate, pra mim, combina com tudo, com domingo, com dia frio, com dia chuvoso, com qualquer dia, com cinema, com amigos, com gente grande, com gente pequena, com café, com movimento, com ociosidade...

Desse jeito, não acho jeito de viver sem chocolate. Sempre tem um chocolate guardado na geladeira, no armário, na gaveta.  E quando acontece do chocolate acabar, não tem outro jeito senão improvisar.

Essa receitinha que vou compartilhar aqui é genial: retire o miolo de um pão francês, preencha com banana em fatias, complete com Nutela, leve à tostadeira por alguns minutos e... bom apetite!

sábado, 12 de maio de 2012

Minha Mãe



Se minha mãe ainda estivesse aqui entre nós, com certeza, embora seus 86 anos, estaria caminhando comigo no parque, se encantando com a evolução tecnológica, jogando videogame, tirando mil proveitos da Internet, quem sabe fazendo um curso superior,  e muito provavelmente teria seu próprio blog.

Minha mãe era uma vanguardista de costumes. Num tempo em que as moças, quando muito, faziam o curso Normal e se tornavam normalistas, o que as habilitava a dar aulas, ela nos estimulou a fazer faculdade. “Mulher tem que ter profissão”, dizia, “que é para se preparar para a vida e para o caso do casamento não dar certo”.

Numa época em que os homens decidiam em quem as mulheres deveriam votar, minha mãe fez uma rebelião silenciosa e votou em outro candidato. Ironicamente, a urna apurou um único voto para o candidato do meu pai naquela seção e ele acabou descobrindo a arte dela. Ríamos muito sempre que ela contava esse fato.

A gente tinha mãe pra tudo, pra fazer pastel, cuca e rabanada, pra acobertar uma ida à boate com os amigos, pra dar um dinheirinho por fora, pra aconselhar, pra entender, pra sofrer junto com as desilusões, pra deixar dormir até mais tarde, pra deixar a gente viver intensamente todas as fases da vida.

Sim, Dona Othília era uma mãe de verdade, para nós, seus filhos, e para um montão de gente que seu coração acolheu, gente que, como eu, tem muita, muita saudade.

Ah, e eu já ia esquecendo de dizer que ela é a minha maior inspiração, como mãe e como pessoa.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Haja paciência!



Não é à toa que o trânsito está cada vez mais congestionado. Caminhando pelo meu bairro, tenho observado que as garagens das casas não abrigam mais um carro, e sim dois, pelo menos, quando não três, quatro ou cinco. Aliás, os carros já não ficam mais todos na garagem, pois elas se tornaram insuficientes para isso. Então, eles são acomodados da melhor maneira possível, em fila, sobre os canteiros do jardim, em diagonal, rente ao muro, eventualmente atravancando os caminhos e dificultando a passagem das pessoas.

Teve uma época em que havia um carro para cada família que pudesse comprar um automóvel. Hoje, cada membro da família quer ter o seu. O que é ótimo para garantir liberdade de deslocamento, principalmente numa cidade como a nossa, onde o transporte público é vergonhoso e só opta por ele quem não tem alternativa.

Por outro lado, a cidade não está suportando esse aumento contínuo da frota. O trânsito está explodindo. Estamos ficando cada vez mais tempo nas ruas e avenidas. Cada vez mais sujeitos ao risco de acidentes. Cada vez mais impacientes. Cada vez mais nervosos. Cada vez mais irritados.

E para complicar, estamos vivendo uma fase de obras, as tais obras da Copa, que implicam em novos desafios para os motoristas. Que elas sejam rápidas e eficientes e que tragam, além de um pouco de modernidade para uma cidade carente de soluções nesse campo, alívio para os condutores de veículos.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Quem “aviza” inimigo é




Uma manhã dessas fui surpreendida com um aviso pregado com cola no muro de casa. Com facilidade, já que se tratava de cola lavável, daquele tipo que até as crianças usam, descolei o papel e o conteúdo da mensagem me surpreendeu ainda mais. Tratava-se de uma campanha de difamação contra uma pessoa, um tal de Madson, que mora no bairro vizinho.

O autor das mensagens, se frequentou a escola, passou longe das aulas de Português. Segundo ele, o seu desafeto morra perto do auberge, tem cazo com o Paulo e a mãe se xama Fernanda. Ele aviza que o rapaz também está se prostoituindo por dinheiro, mexendo com drogas e é bom tomar cuidado porque ele tamboen roba.

Dois dias depois, uma nova mensagem. O texto era semelhante ao da primeira, com os mesmos erros de português e no mesmo formato, uma tira de papel tipo Xamex recortada com tesoura. Ao que parece, o texto foi digitado, copiado e colado várias vezes na página e depois fotocopiado. E já não estava grudado só no muro da minha casa, mas também no dos vizinhos.

Pobre Madson, se essa campanha continuar, ele não vai escapar de ficar defamado. Quanto ao defamador, ah, esse vai ter que voltar pra escola.

sábado, 28 de abril de 2012

Uma linda casa



Uma plaquinha pendurada na frente da casa anunciava: Vende-se esta linda casa. Isso não é coisa de imobiliária, pensei, porque senão o anúncio seria seco: VENDE-SE. E assim mesmo, com caixa alta (letra maiúscula), frio e impessoal.

Estava com pressa, mas por pouco não parei o carro. Tive vontade de conhecer aquela casa que estava sendo oferecida de uma forma tão carinhosa. Sim, porque foi isso mesmo que me pareceu. Por trás daquele anúncio, imaginei uma pessoa que estava se desfazendo de uma coisa muito preciosa, de um bem muito caro, não no sentido monetário e sim no sentido emocional.

Fiquei imaginando a dona daquela casa refletindo sobre tudo o que a casa tinha representado na sua vida. As coisas que haviam partilhado juntas. O nascimento das crianças e as brincadeiras delas no jardim. As festas de aniversário e os pedaços de bolo espalhados pelo chão. As roupas estendidas no varal recolhidas às pressas diante da ameaça de chuva. A roseira se abrindo em flor. As leituras na varanda inundada de sol.

E quase posso ver essa mulher coberta de tristeza concordar em se separar da casa que lhe traz tantas recordações. Vejo-a se despedindo, roçando as paredes com os dedos finos e percorrendo cada quarto, cada corredor, cada canto. Vejo-a fechar todas as portas e janelas e, ao final, conferir a placa onde ela própria escreveu vende-se esta linda casa.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Vencendo o medo de dirigir



Ao contrário dos meus irmãos, que começaram a dirigir muito cedo, eu nunca tive interesse por carros. Enquanto eles, os homens, mal saídos das fraldas já estavam com o pé no acelerador, nós, as mulheres, resistíamos até o último momento para pegar no volante.

Pois, quando o meu momento chegou, ou seja, quando dirigir passou a ser uma necessidade para facilitar a minha vida e a da minha família, tinha desenvolvido uma aversão tão grande que as aulas de direção se transformaram em uma agonia. Tanto que eu desisti nas primeiras tentativas, para retomar mais tarde, com muito mais horror.

Mas eu consegui tirar a primeira habilitação, depois de muitas horas de pânico e ansiedade. Entretanto, na primeira barbeiragem – uma acavaladinha no muro ao lado do portão da garagem – eu dependurei as chaves e suspendi minha carreira de motorista.

A suspensão durou um bom tempo, até eu me convencer que não tinha escapatória. Ou eu dirigia o carro que estava na garagem ou eu me adaptava ao péssimo serviço de transporte, com todos os seus inconvenientes, como as longas esperas nos pontos de ônibus, calor excessivo e a raiva provocada pela má educação de muitos usuários, cobradores e motoristas.

Entre um e outro, optei pelo carro. Nos primeiros tempos, minhas pernas tremiam do começo ao fim da viagem e minha testa ficava empapada de suor frio. Chegava em casa com o corpo inteiro doendo de tanta tensão e repetindo o refrão de que não tinha nascido para aquilo. Só que, quando me dei conta, estava xingando e gritando palavrões no trânsito. E aí não tinha mais dúvida, eu tinha virado motorista.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Para poucos




Estava aqui pensando com meus botões e me ocorreram algumas questões a respeito de casamento que considero interessantes, algumas até engraçadas, quando não com uma pitada de hipocrisia.

Pois, então, pra que é mesmo que servem as testemunhas de um casamento? Para atestar o compromisso firmado pelos noivos perante a sociedade, no caso representada pelo juiz, pelo padre, pelo pastor? Isso é óbvio. Por que é, então, que essas pessoas não são consultadas quando os casais desfazem esse compromisso?

E o bordão “até que a morte os separe”? Quer coisa mais fora de moda? Conheço gente que já está indo para o quinto, sexto casamento, sem ter ficado viúvo uma única vez. Não seria o caso de substituir a promessa de altar por “até que a vida os separe”?

Mas vamos combinar que ficou tão fácil descasar que as juras de amor eterno caem por terra na primeira discussão. E pelos motivos mais banais.  “Desculpa, meu bem, mas cansei da cor do seu batom e estou indo embora desta casa”.  “Ah, amorzinho, essa sua mania de passar manteiga no pão com a colher me encheu, quero a separação”.  

De contraponto, tem a galera da resistência – e eu tenho uma penca de amigos assim – que se mantém junto por uma vida inteira. Obviamente que suportando os defeitos, as manias e o jeito de ser um do outro. São pessoas que assumiram, por inteiro, o compromisso de viver uma vida em comum e eu até apostaria dizer que independente do contrato matrimonial que assinaram ou de quaisquer promessas que possam ter feito de amor eterno. São eles protagonistas de histórias de amor verdadeiro. E acho que esses são os poucos a quem Cecília Meireles se refere em um de seus belos poemas:

"O Amor...

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
Cecília Meireles

sábado, 14 de abril de 2012

I am very bad in english


Eu já consegui superar muitas limitações, como dirigir, parar de fumar, fazer exercícios físicos, ficar alguns períodos sem consumir doces... Mas tem uma coisa que eu não consigo superar: a dificuldade de falar inglês. Já virei até piada para minhas filhas. “Mãe, fala Harry”, provocam elas, rachando de rir com meus “Reury”, “Rery”, “Eury”...

Isso vem desde o ginásio – sim, eu sou do tempo em que o ensino fundamental era dividido entre primário e ginásio – quando tínhamos um professor que não sabia nem falar e nem ensinar inglês. Felizmente, ele também não sabia corrigir as provas, então eu ia passando de ano. Mais tarde, na faculdade, eu tive que fazer duas línguas, o espanhol, que sempre tirei de letra, e o bendito inglês, uma barreira que consegui ultrapassar a muito custo, com a ajuda dos colegas e muita – muita mesmo – consideração do professor.

Eu conheço o significado de um bom número de palavras e expressões e consigo entender muita coisa que se fala, principalmente depois que comecei a prestar mais atenção nos diálogos dos filmes e seriados. Agora, quanto a pronúncia... ah, essa eu passo. Não queira me ouvir falando friends, girl, answer, wednesday, white, sausage, married…, entre tantas outras. A não ser, é claro, que você queira dar uma boas gargalhadas.

sábado, 7 de abril de 2012

Lembranças da Páscoa


Passando com minha filha embaixo da “parreira” de ovos de Páscoa de um supermercado, ela comentou o quanto isso lhe trazia boas lembranças. Ela lembrou das manhãs de domingo de Páscoa, em que ela e a irmã saíam pela casa atrás das pistas que levavam a uma cesta cheia de ovos. O cheiro daquelas manhãs estava ali, debaixo da “parreira’ de ovos de chocolate.

As lembranças dela ativaram as minhas próprias lembranças. Ninguém fazia cestas de Páscoa igual a minha mãe! Ela começava guardando as cascas de ovo de galinha que depois eram pintadas e recheadas com amendoim açucarado. Os ovinhos eram colocados em cestinhas feitas com caixas de papelão recobertas com papel de seda colorido e franjado, que chamávamos de ninho. Então, os ninhos eram escondidos pela casa e o crédito era todo do coelhinho.

Como ficavam lindas aquelas cestinhas!

E quanto carinho havia ali dentro!

E quanto alegria traziam a nossa infância!

Que saudade!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Retratos na parede



As pessoas, antigamente, tinham o hábito de pendurar na parede da sala um retrato dos donos da casa, normalmente tirada no dia do casamento. Com um leve colorido feito à mão e adornos inexistentes no original como um brinco, uma gola ou mesmo um bigode, as fotografias se impunham como que a indicar sob quem estava o comando da residência.

Eu me lembro da foto que havia na casa dos meus avós, em que o meu avô se parecia muito mais com o meu pai do que com ele próprio. Minha avó – que tinha a cara da minha tia – ficava lá no quadro espreitando a gente. O mesmo acontecia na casa dos outros parentes, os casais estavam lá, no alto da parede, impondo respeito e comandando a família.

Hoje já não se penduram mais retratos nas paredes. Embora jamais tenham se disparado tantos clicks. Crianças, jovens, adultos... todo mundo carrega uma máquina digital na mão e aciona o botão diante das cenas mais inusitadas. Entretanto, tirando a exposição em um ou outro porta-retrato, as fotografias tem ido parar mesmo é no espaço virtual, nas redes sociais.

Também os álbuns, que folheávamos com cuidado no passado mudaram de endereço. Não estão mais nas gavetas das penteadeiras, dos armários ou das cristaleiras. Eles agora recheiam os conteúdos dos perfis na Internet ou são armazenados em um porta-retrato digital. E – o que eu acho fantástico – de forma simples e instantânea.

São os avanços da tecnologia, as vantagens e facilidades criadas pela revolução digital. Pena que – o que eu sinto muito – sem conservar o charme e a nostalgia que embalaram os meus tempos de meninice. 

sábado, 31 de março de 2012

Ah... os sabonetes!



Hoje eu trouxe pra casa um sabonete Alma de Flores. Não resisti. Ele estava lá, na seção de perfumaria do supermercado, evocando minhas lembranças. E não é que o perfume continua o mesmo? Mantendo a fórmula original, com essências de rosas, jasmins e flores de lavanda, o sabonete atravessou décadas com poucas mudanças em sua embalagem. A caixinha azul ganhou um tom esverdeado e prevaleceram, com algumas alterações, as rosas e a moça em traje de gala que enfeitam a embalagem.

Alma de Flores era um sabonete que não ficava na prateleira do nosso armazém – o mercado de propriedade dos meus pais onde eu e meus irmãos trabalhávamos desde muito cedo –, junto com os produtos de higiene. Alma de Flores ficava na vitrine do balcão, no espaço destinado aos itens mais delicados e que comumente eram usados para presentear.

Pois o danado do sabonete agora está aqui, tentando me seduzir com seu delicado perfume. Logo eu que sou apaixonada por Phebo!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Analista de Bagé



Entre os meus escritores preferidos está o gaúcho Luis Fernando Veríssimo que eu admiro principalmente pela capacidade de satirizar os costumes e por ter criado um tal de Analista de Bagé, um psicanalista grosso e cheio de tiradas capaz de fazer a gente morrer de rir. A seguir, alguns trechos das histórias desse freudiano "mais ortodoxo que caixa de maizena":

"Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar.

Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.

— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
— O senhor quer que eu deite logo no divã?
— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
— Certo, certo. Eu...
— Aceita um mate?
— Um quê? Ah, não. Obrigado.
— Pos desembucha.
— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe.
— Outro.
— Outro?
— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
— E o senhor acha...
— Eu acho uma pôca vergonha.
— Mas...
— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!"

~//~

"Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo.
— Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira... Mas acabou concordando.
— Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê! . Qual é o causo?
— Bem — disse o homem — é que nós tivemos um desentendimento...
— Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora?
— Eu não meti a espora. Não é, meu bem?
— Não fala comigo!
— Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina.
— Ela tem um problema de carência afetiva...
— Eu não sou de muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem.
— Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extraconjugais e...
— Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer um bota a mão?
— Nós somos pessoas modernas. Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende?
— Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros?
— O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela.
— Mas isto tá ficando mais enrolado que lingüiça de venda. Te deita no pelego.
— Eu?
— Ela. Tu espera na salinha."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Eu troco o BBB por um livro


Então, na tela, mais um BBB. Algo de novo? Nada. O velho festival de caras e bundas, amassos e pegação na piscina, na grama, na cama. “Heróis” mais que nutridos e entupidos de sólidos e de líquidos, se esbaldando nas pistas de dança e protagonizando o milionário show que vende carros, bebidas, alimentos, xampu, sabão e o que quer que seja.

Os brothers, cujo talento não costuma ir muito além de se exibir com pouca roupa, sacudir o traseiro e se refestelar na piscina, são exímios em promover baixarias, armadas ou não, que ganham proporções gigantescas, levando a audiência nas alturas e triplicando os ganhos da emissora. Vale tudo nesse jogo que atropela valores feito um rolo compressor.

Enquanto isso, tanta gente competente fora do ar. Artistas talentosos que poderiam nos brindar com sua arte não têm espaço na TV.

Mas, nem por isso nós, que estamos do lado de cá da tela, temos que engolir essa baboseira. É só usar o controle remoto. Para mudar o canal ou, simplesmente, para desligar a TV. De minha parte, troco o BBB por um bom livro.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Quer passar raiva? Vá ao Detran!



Hoje fui ao Detran renovar minha carteira de motorista. Como sempre, passei muita raiva. É impressionante como o serviço desse órgão é ruim. E fica cada vez pior. É tanta desorganização, tanta lentidão, tanta burocracia, tanta má vontade no atendimento, que mexe com os nervos de qualquer cidadão.

Eu não sei onde é aplicada toda a arrecadação feita pelo Detran e nem para que serviços ela se destina, mas de uma coisa eu tenho certeza: nada disso é revertido para prestar um atendimento decente aos contribuintes. Então, já é de praxe padecer nas longas filas de espera e se submeter ao processo nada dinâmico dos serviços prestados, embora as taxas de valor considerável cobradas.

“O Detran está sucateado”, falou a funcionária para quem eu pedi, emprestado, um grampeador e que me alcançou um negócio desengonçado e que não grampeava coisa nenhuma. Não é de duvidar, pelo que se vê no mau funcionamento. Mas é difícil de acreditar, quando se observa a movimentação constante de pessoas no caixa, onde, inclusive, contrariando uma tendência que impõe o uso de máquinas de débito até nas feiras livres, só é admitido o pagamento em dinheiro.