terça-feira, 27 de abril de 2010

Passe adiante

Como quase todo estudante universitário – e especialmente da área de Comunicação – já tive minhas inclinações pela esquerda política brasileira. E olha que peguei já o finalzinho da ditadura (jamais esquecerei a imagem do paredão formado pela polícia armada com cassetetes e gás pronta a impedir, sob o manto do medo, qualquer movimentação, no caso, dos estudantes). A democracia foi, sem dúvida, muito bem-vinda.

Mas, convenhamos, o que se vê hoje já não é mais uma democracia. Estamos, sim, vivendo sob o porre dela. Excesso de direitos e um mínimo de deveres constroem uma sociedade fragilizada, refém da violência e – tanto quanto no outro regime – do medo.

Vivemos entocados, atrás de muros altos e, tanto quanto podemos, munidos de mil artimanhas para nos proteger da violência. Violência que se alimenta da falta de vergonha, da falta de limites, da falta de punição e da falta de leis mais severas que efetivamente funcionem. A pretexto de não punir o inocente, beneficia-se o infrator.

Barbaridades são cometidas todos os dias sob os nossos olhos chocados. Vivemos acuados. Vivemos assustados. Vivemos entristecidos. Chegamos ao ponto de questionar os nossos valores.

Felizmente, mesmo balançados, continuamos a fazer parte da corrente do bem. E mantendo princípios fundamentais, como caráter, retidão, honestidade, respeito, compaixão, solidariedade...

Precisamos, sim, é fortalecê-los.

E passar adiante.

domingo, 18 de abril de 2010

Inveja

Inveja! Que atire a primeira pedra quem não tem nem que seja um tiquinho assim ó. É claro que eu não estou falando daquela inveja capaz de secar pimenteira que algumas pessoas possuem e, segundo dizem, é capaz de arrasar um canteiro inteiro de flores. Na verdade, estou falando de invejinha – assim mesmo, no diminutivo –, de coisinha pequena.

Estou me referindo àquele incomodozinho que a gente sente quando o vizinho compra aquele carro que a gente vinha namorando há um bom tempo. Ou de quando aquela conhecida passa num concurso onde vai embolsar, só de gratificação, mais do que a gente leva seis meses para ganhar. – E por que não eu? – é inevitável não pensar, ao mesmo tempo em que – embora a gente não queira admitir – se engole aquela sensação de pesar pela conquista alheia.

De minha parte, sempre considerei esse sentimentozinho inofensivo, pois apesar dele, continuo me definindo como uma boa pessoa, incapaz de desejar o mal alheio. Mas, será isso mesmo? O dicionário é muito claro na definição do termo inveja: desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem. Pensando melhor, talvez eu tenha que rever minhas ideias a respeito. De repente, não tem isso de ser mais ou menos invejoso. E nem de se  encher a boca para dizer "eu tenho inveja, mas é uma inveja boa". Ou "não é invejona, é invejinha". 

O uso da palavra no diminutivo, de fato, não diminui seu sentido. E, sendo assim, lamento informar, mas acho que somos todos – ou pelo menos a grande maioria da humanidade –, por natureza, invejosos.

Ai de nós!