segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A hora da vingança


O Bob, um dos cachorrinhos que mora aqui em casa, está muito gordo. Acho que um dos motivos é porque ele tem por hábito, se a gente não cuidar, comer a ração dele e mais a do Yoshi, o cachorro mais novo. Coisas que a psicologia dos cachorros explica: mais velho na casa, o Bob tem prioridade na hora de comer; então, o Yoshi senta e espera, enquanto o Bob aproveita para comer sua própria ração e um pouco da do outro. O que chamam de instinto e eu chamo de sabotagem.
E agora o Bob vai ter que perder peso. Não por questões estéticas e sim por problemas de saúde. Alguma coisa relacionada ao átrio, às valvas (isso mesmo, valvas, e não válvulas) atrioventriculares e a uma quase cardiopatia.
Como parte da dieta, substituição da ração por uma versão light, que, pelo que eu vi na cara dele, não deve ser nada apetitosa. Diferente da ração a qual ele está acostumado, de frango, de carne ou de salmão, que eu não experimentei, mas deduzi ser bem saborosa. Tanto que ele sabota o outro na hora de comer.
E eis que é chegada a hora da vingança. O Yoshi, que não é nenhum anjinho, embora o texto até aqui faça supor, está se fartando, sozinho, da ração normal. E eu fico imaginando ele esfregando uma patinha na outra e provocando o Bob: “Vai um teco aí, boss?”
Mas, o Yoshi que se cuide, porque se a balança começar a pender para o lado dele, a restrição vai ser geral.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A indignação de sempre

Meu pai, que tem uma perna amputada há mais ou menos 20 anos, vai colocar uma prótese nova. Por conta disto, está fazendo sessões de fisioterapia no Centro de Reabilitação Dom Aquino Correa. Sou acompanhante dele e me surpreendo um pouco cada vez que vou até lá. A primeira coisa que me surpreendeu foi ver a dedicação dos funcionários aos pacientes, embora as péssimas condições de trabalho.
O sucateamento começa no prédio, muito antigo, que ameaça desmoronar. Tem uma parte dele que está fechada por conta disso. A grande maioria das pessoas que frequentam o local tem problemas de locomoção, usa cadeiras de roda, muletas, bengalas, enfim. Seria de se esperar instalações adequadas para deficientes, mas o local conta tão somente com algumas poucas adaptações. Se fosse empresa privada, com certeza já teria sido multada e ficaria impedida de funcionar.  
No setor de fisioterapia, a regra é improvisar, quando não, fazer cota para suprir algumas necessidades, como eu constatei no caso do creme hidratante de uso dos amputados. Junto ao bebedouro, no lugar dos copos, um aviso: “estamos sem copo, traga o seu de casa”. Até o tradicional cafezinho é um problema por lá. Tem dias que não tem café, tem dias que não tem açúcar e tem dias que não tem nem um, nem outro.
Na sala de enfermagem, que não é bem uma sala – está mais para um corredorzinho –, fiquei ainda mais chocada por verificar que o aparelho de pressão usado para medir a pressão dos pacientes não é da enfermaria e sim da enfermeira. E a preocupação de substituir o aparelho que está apresentando problemas é dela, “preciso comprar um aparelho novo”.
O Centro de Reabilitação está morrendo. Os funcionários têm se movimentado em vão contra o sucateamento, mas o governo do Estado continua fazendo ouvidos moucos. Da mesma maneira como tem feito com a saúde de modo geral, com a educação, com a segurança...
O descaso do poder público é realmente uma coisa alarmante. Fico indignada. Não é brincadeira o que se arrecada de impostos neste país, neste estado, neste município. É estarrecedor constatar que muito pouco, muito pouco mesmo, é devolvido aos contribuintes, na forma de serviços essenciais.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Um telegrama


Aniversário da minha cunhada e eu querendo fazer alguma coisa diferente. Decidi: vou enviar um telegrama. Telegrama é uma coisa tão antiga! (Por isso mesmo, uma homenagem bem clássica.) E tanto caiu em desuso que ninguém se lembra dele. Aliás, tem gente antiga que se surpreende porque acha que o telegrama nem existe mais. Já a gente jovem acho que nem sabe o que é isso.
Mas o telegrama está bem vivinho e saudável e dispõe de quatro modalidades: pela Internet, pelo telefone, por postagem eletrônica e por postagem na agência.
Optei pela mais cômoda, via Internet. Me cadastrei, preenchi o formulário, fiz o texto da mensagem e... deu erro. Recarreguei a página e ele apagou todos os dados. Refiz tudo de novo, a mensagem, os dados do destinatário e... deu erro. Atribuí o erro à lentidão da minha Internet e reiniciei o computador. Então, o sistema não aceitou a senha que eu tinha acabado de cadastrar; estava com erro; tentei de novo e mais uma vez, nada. Então, pedi outra senha que foi enviada por e-mail. Daí, repeti todo o procedimento e cliquei na cesta para comprar o produto. Na tela, a resposta de sempre; alguma coisa tinha dado errado.
Me armei de coragem e fui até a agência de Correios mais próxima. Depois de uns 20 minutos aguardando – e olha que eu era a segunda da fila – e após a faxineira me dar um baile com o rodo e o pano de chão que ela cismou de esfregar várias vezes no piso, atropelando a mim e os demais clientes, chegou a minha vez.
“Moça, quero enviar um telegrama”, falei para a funcionária, que ficou assim meio sem saber o que fazer. “Acho que tenho que preencher um formulário”, acrescentei. Então, ela se enfiou numa sala contígua e quando voltou disse que eu teria que aguardar o gerente, pois os formulários para telegrama estavam com ele. “Isso vai demorar?”, perguntei, tentando entender por que o gerente carregaria com ele um material que deveria estar sobre o balcão, disponível para venda. “Ah, eu não sei, ele está no horário do almoço”, ela respondeu, já chamando o próximo cliente.
Teimosa quanto uma mula, eu consegui enviar um telegrama pra minha cunhada embora tenha perdido o prazo para que ele chegasse no mesmo dia. E não importa que eu tenha precisado de mais tempo para ir até outra agência, onde, felizmente, encontrei um funcionário que sabia o que era um telegrama e que dispunha dos formulários ao alcance da mão. Minha cunhada merece. Agora, o que não dá para engolir é essa campanha dos Correios com o mote #vamaislonge. Nesse passo, me desculpem, mas acho que #nãovailonge.