segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eu falo palavrão


Você fala palavrão? Eu sim, e às vezes acho que acabo abusando um pouquinho. Mas é que tem horas que – puta que pariu – a gente tem que desabafar. Para não explodir.

Aprendi a falar palavrão quando comecei a dirigir. E parece que isso não aconteceu só comigo, não. E nem poderia ser de outra forma, caralho, porque o trânsito aqui é mesmo uma merda. E uma boa parte dos motoristas também é filho da puta.

Tem alguns palavrões que não gosto de usar, acho ofensivo (como se tivesse algum que não fosse): corno, viado, vadia... Acho que se eu chamar alguém de viado com a intenção de xingá-lo, estou ofendendo alguém que é gay.

Uma das minhas filhas – cacete, essa fala palavrão pra caralho – recomenda o uso do palavrão como se ele tivesse uma ação terapêutica. E sabe que ela pode estar certa? Já tem estudos concluindo que falar palavrão pode amenizar a dor física, aliviar o estresse... E cá entre nós, falar um palavrãozinho de vez em quando é uma terapia verbal. Que liberta, porra!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Estou de dieta

Ou melhor, estou tentando seguir uma dieta. Preciso perder uns dez dos quase vinte quilos que ganhei ao longo dos últimos anos. Na verdade, quem está mesmo fazendo regime é minha filha. Eu entrei na onda dela. Mas... Vou confessar: tá difícil.

Com a melhor das intenções, minha cunhada, que perdeu 14 quilos dos 12 que pretendia perder (uma heroína, ela), trouxe aqui para casa uma pilha de revistas do tipo “entre em forma”. “É para ajudar, tem receitas ótimas”, justificou. Só que, convenhamos, folhear esse tipo de revista deixa a gente com a maior raiva. Não tem uma mulher gorda. Umazinha sequer. Na verdade, essas revistas só têm mulherão. São mulheres sem nenhum defeito. Lindas de morrer. Dos cabelos ao dedão do pé.

Pois são elas - essas beldades - que ilustram as matérias de títulos sugestivos que te convocam a ficar magrinha, a ficar durinha, a ganhar cinturinha, a ficar gatinha. A raiva explode quando você vê que para ficar igual a uma mulher dessas, você precisaria muito mais do que uma academia e exercícios pesados 24 horas por dia. Uma varinha de condão talvez fosse a solução. Ou então um tubo onde você pudesse, na entrada, selecionar as medidas e os atributos que gostaria de agregar ao seu corpo na saída.

Mas, quer saber? Isso tudo é bobagem, porque a vida acontece mesmo é fora das páginas da revista, onde vivem as mulheres redondinhas, com suas gordurinhas e seus mil defeitinhos. Este, sim, é o mundo real.


sábado, 1 de maio de 2010

A velhinha, o cachorrinho e as latas


A “veinha” tocou a campainha em casa. Depois de atendê-la, minha filha falou: – Ela está com o cachorrinho (que a segue pra todo lado, onde quer que ela vá). Você poderia escrever sobre isso.
Sinceramente, não sei o que escrever sobre o cachorrinho, mas posso escrever um pouquinho sobre a dona dele, a “veinha”, na verdade, uma senhorinha muito simpática que é nossa vizinha e vive às voltas de recolher lata ou fazer pequenos servicinhos aqui e ali. Não é tão velha quanto é maltratada, a pele riscada pelo sol e um tanto acho que pela dureza da vida. Pequenininha, tem os cabelos branquinhos e os mantém num coquinho, às vezes debaixo de um boné vermelho.
Nem tão velhinha, nem tão pobrezinha. Ela recebe aposentadoria como viúva e por isso mesmo não se aposentou – “para não perder o outro benefício”. Tem casa própria e a está ampliando. Nem por isso recusa uma oferta de algum alimento ou de uma roupa usada. E mantém sua rotina de ficar andando, sempre sob o sol forte, apanhando lata de casa em casa, no posto, no bar, na rua.
De vez em quando, as sacolas com latinha são tantas que ela pede para a gente guardar até ela concluir o recolhimento. Mais tarde volta e, então, num cabo de vassoura, encaixa sacola por sacola e, com o fardo sobre os ombros, retoma o caminho de casa. Isso quando não chega com o carrinho de mão carregado de latinhas e nessas ocasiões ele me parece ainda mais pequena.
Às vezes nos encontramos na feira do bairro e ela se aproxima, contente, para um abraço. Já contou que tem um filho e uma nora, embora nossas conversas girem mais sobre o tempo, sobre o preço das coisas, sobre a corrupção – e ela tem opinião bem formada sobre isso. O que me faz admirar ainda mais essa grande mulher que é essa miúda “veinha”.
Ah, o nome dela é Maria.