segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Analista de Bagé



Entre os meus escritores preferidos está o gaúcho Luis Fernando Veríssimo que eu admiro principalmente pela capacidade de satirizar os costumes e por ter criado um tal de Analista de Bagé, um psicanalista grosso e cheio de tiradas capaz de fazer a gente morrer de rir. A seguir, alguns trechos das histórias desse freudiano "mais ortodoxo que caixa de maizena":

"Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar.

Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.

— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
— O senhor quer que eu deite logo no divã?
— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
— Certo, certo. Eu...
— Aceita um mate?
— Um quê? Ah, não. Obrigado.
— Pos desembucha.
— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe.
— Outro.
— Outro?
— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
— E o senhor acha...
— Eu acho uma pôca vergonha.
— Mas...
— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!"

~//~

"Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo.
— Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira... Mas acabou concordando.
— Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê! . Qual é o causo?
— Bem — disse o homem — é que nós tivemos um desentendimento...
— Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora?
— Eu não meti a espora. Não é, meu bem?
— Não fala comigo!
— Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina.
— Ela tem um problema de carência afetiva...
— Eu não sou de muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem.
— Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extraconjugais e...
— Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer um bota a mão?
— Nós somos pessoas modernas. Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende?
— Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros?
— O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela.
— Mas isto tá ficando mais enrolado que lingüiça de venda. Te deita no pelego.
— Eu?
— Ela. Tu espera na salinha."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Eu troco o BBB por um livro


Então, na tela, mais um BBB. Algo de novo? Nada. O velho festival de caras e bundas, amassos e pegação na piscina, na grama, na cama. “Heróis” mais que nutridos e entupidos de sólidos e de líquidos, se esbaldando nas pistas de dança e protagonizando o milionário show que vende carros, bebidas, alimentos, xampu, sabão e o que quer que seja.

Os brothers, cujo talento não costuma ir muito além de se exibir com pouca roupa, sacudir o traseiro e se refestelar na piscina, são exímios em promover baixarias, armadas ou não, que ganham proporções gigantescas, levando a audiência nas alturas e triplicando os ganhos da emissora. Vale tudo nesse jogo que atropela valores feito um rolo compressor.

Enquanto isso, tanta gente competente fora do ar. Artistas talentosos que poderiam nos brindar com sua arte não têm espaço na TV.

Mas, nem por isso nós, que estamos do lado de cá da tela, temos que engolir essa baboseira. É só usar o controle remoto. Para mudar o canal ou, simplesmente, para desligar a TV. De minha parte, troco o BBB por um bom livro.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Quer passar raiva? Vá ao Detran!



Hoje fui ao Detran renovar minha carteira de motorista. Como sempre, passei muita raiva. É impressionante como o serviço desse órgão é ruim. E fica cada vez pior. É tanta desorganização, tanta lentidão, tanta burocracia, tanta má vontade no atendimento, que mexe com os nervos de qualquer cidadão.

Eu não sei onde é aplicada toda a arrecadação feita pelo Detran e nem para que serviços ela se destina, mas de uma coisa eu tenho certeza: nada disso é revertido para prestar um atendimento decente aos contribuintes. Então, já é de praxe padecer nas longas filas de espera e se submeter ao processo nada dinâmico dos serviços prestados, embora as taxas de valor considerável cobradas.

“O Detran está sucateado”, falou a funcionária para quem eu pedi, emprestado, um grampeador e que me alcançou um negócio desengonçado e que não grampeava coisa nenhuma. Não é de duvidar, pelo que se vê no mau funcionamento. Mas é difícil de acreditar, quando se observa a movimentação constante de pessoas no caixa, onde, inclusive, contrariando uma tendência que impõe o uso de máquinas de débito até nas feiras livres, só é admitido o pagamento em dinheiro.