terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Preconceitos


Essa história aconteceu quando eu era uma jovem recém formada e trabalhava numa rádio na minha cidade, onde a equipe era basicamente masculina e nenhum dos homens possuía curso superior. Além de mim, havia uma outra jornalista que se revezava comigo na função de rádio-escuta, que consistia em ouvir e reescrever notícias veiculadas nas grandes emissoras. Nós duas trabalhávamos isoladas, ela no período da manhã, eu no período da tarde, em uma salinha de onde saíamos apenas para entregar os noticiários aos locutores.
Certa ocasião, fui prestigiar uma programação esportiva que havia trazido à cidade um astro do esporte e que mereceu cobertura completa da rádio. Como eu já conhecia o cara, por ter feito uma entrevista com ele naquele dia para o jornal onde era repórter, os locutores me pediram para entrevistá-lo ao vivo. Enquanto eu fazia a entrevista, o dono da rádio chegou ao local e acompanhou a matéria. Então, ele me cobriu de elogios e disse aos locutores que queria me ver mais vezes fazendo isso. “Tem que abrir mais o microfone para essa guria”, recomendou.
Eles fizeram exatamente o contrário: nunca mais me deixaram chegar perto do microfone.