sábado, 28 de abril de 2012

Uma linda casa



Uma plaquinha pendurada na frente da casa anunciava: Vende-se esta linda casa. Isso não é coisa de imobiliária, pensei, porque senão o anúncio seria seco: VENDE-SE. E assim mesmo, com caixa alta (letra maiúscula), frio e impessoal.

Estava com pressa, mas por pouco não parei o carro. Tive vontade de conhecer aquela casa que estava sendo oferecida de uma forma tão carinhosa. Sim, porque foi isso mesmo que me pareceu. Por trás daquele anúncio, imaginei uma pessoa que estava se desfazendo de uma coisa muito preciosa, de um bem muito caro, não no sentido monetário e sim no sentido emocional.

Fiquei imaginando a dona daquela casa refletindo sobre tudo o que a casa tinha representado na sua vida. As coisas que haviam partilhado juntas. O nascimento das crianças e as brincadeiras delas no jardim. As festas de aniversário e os pedaços de bolo espalhados pelo chão. As roupas estendidas no varal recolhidas às pressas diante da ameaça de chuva. A roseira se abrindo em flor. As leituras na varanda inundada de sol.

E quase posso ver essa mulher coberta de tristeza concordar em se separar da casa que lhe traz tantas recordações. Vejo-a se despedindo, roçando as paredes com os dedos finos e percorrendo cada quarto, cada corredor, cada canto. Vejo-a fechar todas as portas e janelas e, ao final, conferir a placa onde ela própria escreveu vende-se esta linda casa.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Vencendo o medo de dirigir



Ao contrário dos meus irmãos, que começaram a dirigir muito cedo, eu nunca tive interesse por carros. Enquanto eles, os homens, mal saídos das fraldas já estavam com o pé no acelerador, nós, as mulheres, resistíamos até o último momento para pegar no volante.

Pois, quando o meu momento chegou, ou seja, quando dirigir passou a ser uma necessidade para facilitar a minha vida e a da minha família, tinha desenvolvido uma aversão tão grande que as aulas de direção se transformaram em uma agonia. Tanto que eu desisti nas primeiras tentativas, para retomar mais tarde, com muito mais horror.

Mas eu consegui tirar a primeira habilitação, depois de muitas horas de pânico e ansiedade. Entretanto, na primeira barbeiragem – uma acavaladinha no muro ao lado do portão da garagem – eu dependurei as chaves e suspendi minha carreira de motorista.

A suspensão durou um bom tempo, até eu me convencer que não tinha escapatória. Ou eu dirigia o carro que estava na garagem ou eu me adaptava ao péssimo serviço de transporte, com todos os seus inconvenientes, como as longas esperas nos pontos de ônibus, calor excessivo e a raiva provocada pela má educação de muitos usuários, cobradores e motoristas.

Entre um e outro, optei pelo carro. Nos primeiros tempos, minhas pernas tremiam do começo ao fim da viagem e minha testa ficava empapada de suor frio. Chegava em casa com o corpo inteiro doendo de tanta tensão e repetindo o refrão de que não tinha nascido para aquilo. Só que, quando me dei conta, estava xingando e gritando palavrões no trânsito. E aí não tinha mais dúvida, eu tinha virado motorista.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Para poucos




Estava aqui pensando com meus botões e me ocorreram algumas questões a respeito de casamento que considero interessantes, algumas até engraçadas, quando não com uma pitada de hipocrisia.

Pois, então, pra que é mesmo que servem as testemunhas de um casamento? Para atestar o compromisso firmado pelos noivos perante a sociedade, no caso representada pelo juiz, pelo padre, pelo pastor? Isso é óbvio. Por que é, então, que essas pessoas não são consultadas quando os casais desfazem esse compromisso?

E o bordão “até que a morte os separe”? Quer coisa mais fora de moda? Conheço gente que já está indo para o quinto, sexto casamento, sem ter ficado viúvo uma única vez. Não seria o caso de substituir a promessa de altar por “até que a vida os separe”?

Mas vamos combinar que ficou tão fácil descasar que as juras de amor eterno caem por terra na primeira discussão. E pelos motivos mais banais.  “Desculpa, meu bem, mas cansei da cor do seu batom e estou indo embora desta casa”.  “Ah, amorzinho, essa sua mania de passar manteiga no pão com a colher me encheu, quero a separação”.  

De contraponto, tem a galera da resistência – e eu tenho uma penca de amigos assim – que se mantém junto por uma vida inteira. Obviamente que suportando os defeitos, as manias e o jeito de ser um do outro. São pessoas que assumiram, por inteiro, o compromisso de viver uma vida em comum e eu até apostaria dizer que independente do contrato matrimonial que assinaram ou de quaisquer promessas que possam ter feito de amor eterno. São eles protagonistas de histórias de amor verdadeiro. E acho que esses são os poucos a quem Cecília Meireles se refere em um de seus belos poemas:

"O Amor...

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
Cecília Meireles

sábado, 14 de abril de 2012

I am very bad in english


Eu já consegui superar muitas limitações, como dirigir, parar de fumar, fazer exercícios físicos, ficar alguns períodos sem consumir doces... Mas tem uma coisa que eu não consigo superar: a dificuldade de falar inglês. Já virei até piada para minhas filhas. “Mãe, fala Harry”, provocam elas, rachando de rir com meus “Reury”, “Rery”, “Eury”...

Isso vem desde o ginásio – sim, eu sou do tempo em que o ensino fundamental era dividido entre primário e ginásio – quando tínhamos um professor que não sabia nem falar e nem ensinar inglês. Felizmente, ele também não sabia corrigir as provas, então eu ia passando de ano. Mais tarde, na faculdade, eu tive que fazer duas línguas, o espanhol, que sempre tirei de letra, e o bendito inglês, uma barreira que consegui ultrapassar a muito custo, com a ajuda dos colegas e muita – muita mesmo – consideração do professor.

Eu conheço o significado de um bom número de palavras e expressões e consigo entender muita coisa que se fala, principalmente depois que comecei a prestar mais atenção nos diálogos dos filmes e seriados. Agora, quanto a pronúncia... ah, essa eu passo. Não queira me ouvir falando friends, girl, answer, wednesday, white, sausage, married…, entre tantas outras. A não ser, é claro, que você queira dar uma boas gargalhadas.

sábado, 7 de abril de 2012

Lembranças da Páscoa


Passando com minha filha embaixo da “parreira” de ovos de Páscoa de um supermercado, ela comentou o quanto isso lhe trazia boas lembranças. Ela lembrou das manhãs de domingo de Páscoa, em que ela e a irmã saíam pela casa atrás das pistas que levavam a uma cesta cheia de ovos. O cheiro daquelas manhãs estava ali, debaixo da “parreira’ de ovos de chocolate.

As lembranças dela ativaram as minhas próprias lembranças. Ninguém fazia cestas de Páscoa igual a minha mãe! Ela começava guardando as cascas de ovo de galinha que depois eram pintadas e recheadas com amendoim açucarado. Os ovinhos eram colocados em cestinhas feitas com caixas de papelão recobertas com papel de seda colorido e franjado, que chamávamos de ninho. Então, os ninhos eram escondidos pela casa e o crédito era todo do coelhinho.

Como ficavam lindas aquelas cestinhas!

E quanto carinho havia ali dentro!

E quanto alegria traziam a nossa infância!

Que saudade!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Retratos na parede



As pessoas, antigamente, tinham o hábito de pendurar na parede da sala um retrato dos donos da casa, normalmente tirada no dia do casamento. Com um leve colorido feito à mão e adornos inexistentes no original como um brinco, uma gola ou mesmo um bigode, as fotografias se impunham como que a indicar sob quem estava o comando da residência.

Eu me lembro da foto que havia na casa dos meus avós, em que o meu avô se parecia muito mais com o meu pai do que com ele próprio. Minha avó – que tinha a cara da minha tia – ficava lá no quadro espreitando a gente. O mesmo acontecia na casa dos outros parentes, os casais estavam lá, no alto da parede, impondo respeito e comandando a família.

Hoje já não se penduram mais retratos nas paredes. Embora jamais tenham se disparado tantos clicks. Crianças, jovens, adultos... todo mundo carrega uma máquina digital na mão e aciona o botão diante das cenas mais inusitadas. Entretanto, tirando a exposição em um ou outro porta-retrato, as fotografias tem ido parar mesmo é no espaço virtual, nas redes sociais.

Também os álbuns, que folheávamos com cuidado no passado mudaram de endereço. Não estão mais nas gavetas das penteadeiras, dos armários ou das cristaleiras. Eles agora recheiam os conteúdos dos perfis na Internet ou são armazenados em um porta-retrato digital. E – o que eu acho fantástico – de forma simples e instantânea.

São os avanços da tecnologia, as vantagens e facilidades criadas pela revolução digital. Pena que – o que eu sinto muito – sem conservar o charme e a nostalgia que embalaram os meus tempos de meninice.