domingo, 17 de outubro de 2010

Pobres mulheres!

Acabei de ler A cidade do sol, de Khaled Hosseini, um romance que tem como palco o Afeganistão. Embora fictícia, a história retrata a realidade de uma nação marcada pela violência. Um país que após se livrar da ocupação russa caiu nas mãos do terrorismo talibã e viu suas colinas verdejantes se cobrirem de sangue e desolação.

Não menos real as agruras vividas pelas protagonistas do amargo romance de Hosseini, num país em que uma mulher pode valer tanto quanto uma cabra e cujas funções básicas se resumem a lavar e cozinhar para o marido, bem como aliviá-lo em suas necessidades sexuais, e procriar.

Prometidas ainda meninas, vendidas ou entregues a troco de dívidas, quiçá de bananas, as pobres mulheres do Afeganistão passam a pertencer aos seus maridos que delas podem dispor da maneira que melhor lhes convier. E tudo isso sob o beneplácito do governo e da religião.

Tal qual na ficção, mulheres são agredidas dentro de casa e fora dela pelos motivos mais banais. Praticamente tudo lhes é proibido; portanto praticamente tudo é motivo de punição.

Para nós, ocidentais, é difícil imaginar uma mulher conviver com tantas restrições. Já pensou se tivéssemos que ver o mundo por detrás de uma burca? E se não pudéssemos estudar, nem trabalhar fora? E se para ir ao shopping, à padaria ou mesmo à mercearia da esquina precisássemos da companhia de um mahram (pai, irmão ou marido)? Provavelmente, muitas de nós nesse imenso universo de mulheres que criam seus filhos sozinhas (ou porque estão divorciadas, ou porque foram abandonadas, ou mesmo porque nunca tiveram quem assumisse a paternidade de seus rebentos) morreríamos, junto com nossos filhos, de fome.

As barbaridades cometidas contra as mulheres no Afeganistão, como de resto em uma série de outros países, estão na contramão do processo de evolução da humanidade. E aqueles homens que as cometem, acobertados por leis covardes e pelo radicalismo religioso ignoram o que é o nosso termômetro do bem e do mal: a consciência. A consciência que nos guia e nos diferencia. Dos animais.

domingo, 26 de setembro de 2010

Porque acredito em reencarnação

Eu sempre tive lá minhas pendengas com os assuntos de ordem religiosa. Nasci e me criei católica. Fui batizada, crismada e fiz a primeira comunhão, tudo dentro dos conformes. Mas, confesso que nunca me conformei muito com os trâmites do catolicismo. A pior parte era a bendita confissão. Eu tinha a maior dificuldade para inventar um pecado para contar ao padre. Inventar, sim, porque não? Quantos pecados pode cometer uma criança que não mata, não rouba, não cobiça, não levanta falso testemunho, etc?

Quantas vezes me peguei suando frio na fila do confessionário, pensando nalgum pecado que pudesse ser usado para obter o perdão do padre. “Perdoe-me porque pequei padre; briguei com meu irmãozinho”. Não, esse eu já tinha usado na vez anterior. “Desobedeci minha mãe?”. Esse era um bom pecado, mas isso, de fato, não tinha acontecido. O jeito era apelar para o “falei nome feio”, que sempre caía bem, mesmo que eu não tivesse pronunciado sequer um “puta que pariu”.

A confissão traumática, a cantilena repetitiva das missas, entre outras coisinhas, terminaram por me desviar do caminho. Um caminho que estou reencontrando aos poucos através de outras crenças. Uma delas, a da reencarnação.

Mais espiritualista do que propriamente espírita, penso que o fenômeno da reencarnação explica as tantas diferenças entre os homens, as afinidades, as divergências, as vontades não satisfeitas, as anomalias, as misérias extremas.

Creio que estejamos todos sujeitos à mesma balança. E que todo o mal praticado haverá de ser compensado pelo bem, senão nesta, em uma outra oportunidade, que nos é dada através da reencarnação.

Isso me parece muito justo e espero, através do estudo, conseguir fazer com que essa linha de pensamento seja determinante nos meus atos, pelo menos na maioria deles. Ou até onde a minha ignorância permitir.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nostalgia

Hoje amanheci com vontade de fazer poesia. E fiz:

Era de manhã e
Por sobre o muro veio o cheiro de relva molhada,
Evocando lembranças,
Atiçando saudades
De um tempo que não volta,
Jamais.
Bisbilhoteira,
Espiei pelo portão de bronze recortado.
Sem que me vissem,
Meninos corriam por entre as árvores do jardim florido.
Meninos travessos,
Meninos danados.
Ora anjos endemoninhados,
Ora demônios angelicais,
Eu os invejei.
O que será que eles têm
Que eu não tenho mais?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Os tempos mudaram

As pessoas da minha geração foram educadas para tratar os adultos por Senhor ou Senhora. Isso valia para os pais, os avós, os tios, os vizinhos, enfim, para todo mundo. E era sinônimo de respeito.

Hoje, chamar de senhora uma mulher de 40 anos ou mais é quase uma ofensa. Isso vale para os filhos, para os sobrinhos, para os amigos dos filhos e até mesmo para os atendentes de loja, para o cabeleireiro, para o padeiro.

É delicioso ser tratada de você, principalmente se do outro lado está alguém jovem e cheio de vida, pois é assim que nós – as cinquentonas e outras onas – nos sentimos. Se nos chamarem de moça, então, é a glória.

Já foi o tempo em que idade madura era igual uma cadeira de balanço, mais um par de óculos e uma peça de crochê.

E para quem pensa que chamar uma vovó de você é falta de respeito, está na hora de se modernizar. Aliás, acho que as pessoas que mexem com o público em suas ocupações deveriam atentar para esse aspecto e substituir o envelhecido e desgastado senhora pelo jovial e contemporâneo você. Uma mudança de tratamento que senhora nenhuma, por mais emburrada que esteja, irá resistir.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Elogiar mais e criticar menos

Uma consulta médica, hoje em dia, não dura mais do que 10 minutos. O médico olha na sua cara, pergunta o que você tem (por eles – médicos –, a gente já chegava no consultório com o diagnóstico pronto), faz um rápido exame e passa uma receita. E se você começar a fazer muita pergunta, ele já vai amarrando a cara e estendendo a mão, quando não já abrindo a porta, para, educadamente, te expulsar do consultório.

Dr. Su não tem nada a ver com esses daí. Ele é daquele tipo que te recebe com um sorriso e já vai perguntando como vai o resto da família. A consulta só termina quando ninguém – nem médico e nem paciente – tem mais nada para falar. E também não importa quantas pessoas estão aguardando a vez do lado de fora. Na sua vez, você é rei (ou rainha) e é tratado como tal.

Dá para imaginar tanta atenção vinda de um médico? Pois, no caso do Dr. Su, dá para esperar até um pouco mais. Ele costuma esclarecer sobre a medicação que prescreve – composição, efeitos colaterais, etc – e ainda deixa em aberto um possível retorno, mesmo que após 30 ou 40 dias. “Se a secretária reclamar, diz a ela que já está tudo acertado com o Dr. Su”, instrui. Ah, e tem ainda mais uma coisinha: a consulta dele é mais barata em relação aos especialistas de sua área.

Bem, mas eu não estou aqui fazendo propaganda para o Dr. Su, até porque ele não precisa disso e o consultório dele vive lotado até à tampa. O que eu pretendia mesmo era comentar que é muito bom que existam médicos como o Dr. Su e que fatos como esse precisam ser ditos, precisam ser exaltados, precisam ser comemorados.

Temos o péssimo hábito de ficar remoendo episódios desagradáveis. Damos mais valor aos erros do que aos acertos. Preferimos falar mais dos defeitos do que das qualidades. Temos que começar a mudar isso. Aprender a ocupar o nosso tempo falando mais do que é bom e menos do que é ruim. Elogiar mais e criticar menos. E não ter medo de enaltecer, nem de admirar. Nada. Nem ninguém.

Em todo caso, não se acanhe de pedir, se tiver interesse, que passo o telefone do Dr. Su com o maior gosto.

domingo, 15 de agosto de 2010

Celular, esse intrometido!

Esqueci o celular no carro e fiquei mais ou menos uns 40 minutos longe dele. Quando me dei conta que estava sem ele, vivi um breve momento de quase terror. Mil pensamentos me assaltaram e me senti como se estivesse no deserto do Saara, sem a mínima condição de me comunicar. “E se acontecer alguma coisa em casa? E se o fulano me ligar? E se o sicrano precisar falar comigo? E se...?”.

Gente, eu estava apenas na rua, no centro da cidade e a caminho do banco. Quer dizer, em plena civilização, entre milhares de pessoas e com acesso fácil a qualquer meio de comunicação. Passado o pânico, refleti e concluí que estamos ficando reféns desse aparelhinho que às vezes mais atrapalha do que ajuda. São tantas as ligações indesejáveis! Tem gente que liga com tamanha urgência para te avisar de algo que você já sabia desde o dia anterior, quando não para antecipar uma preocupação que poderia ter ficado para o dia seguinte.

Eu já me peguei levando esse intrometido para o banheiro e não durmo sem antes conferir se ele está por perto. Aliás, ultimamente ando com dois aparelhos, um que está saindo de circulação e o novo. Como não passei a agenda inteira para o substituto, me sinto na obrigação de carregar os dois. Conheço pessoas que carregam três.

Que inferno é esse em que nos metemos? As pessoas da minha geração devem se lembrar que telefone era coisa de pouco uso, restrito a informar acontecimentos importantes. Quem tinha um em casa fazia a gentileza de emprestá-lo para a vizinhança inteira, que dele podia se valer principalmente para receber notícias de familiares distantes.

Hoje, ter um celular é praticamente uma obrigação. Quem não tem, é visto com reservas. É quase um estranho no ninho. É peça rara. Sei de poucas pessoas que não têm um celular e eu as invejo e admiro. Porque elas têm uma grande vantagem: estão livres de serem monitoradas 24 horas por dia.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Serviço de merda


Estou tentando desde a semana passada fazer o cancelamento de um cartão de crédito e acho que a hora que eu conseguir vou fazer um bolo com velinhas. Pra comemorar.

A história começou no banco, que não pode fazer o cancelamento do crédito. Isso tem que ser feito no 0800 que fica no verso do cartão. Beleza! – pensei – isso é mamão com açúcar. Que Nada! – descobri – isso é um tremendo abacaxi.

Bem, na primeira ligação, depois de eu fornecer todos os dados fui informada de que precisava ligar num outro 0800. Depois de algumas tentativas infrutíferas em que o atendimento não se completava e a voz da secretária eletrônica ia sumindo – acho que a danada estava sem bateria – consegui falar com outro atendente que solicitou meus dados novamente – depois de me passar outro número de protocolo. A propósito, estou colecionando números de protocolo, se alguém precisar...

Pois bem, me falaram que por se tratar de uma conta jurídica, eu tinha que falar no 0800 para o qual tinha ligado inicialmente. Mas esse 0800 me garantiu que não era com eles e que eu tinha mesmo que falar no outro número. Entre lá e cá e cá e lá, se foram bem umas 10 ligações, até eu descobrir que não estava usando a nomenclatura do serviço corretamente. Agora, sim, ficou fácil – pensei – e lasquei: – moça, eu desejo bloquear a função crédito do meu cartão de crédito.

Seguiu-se a mesma cantilena: – Seu nome completo? Um momento... Obrigado por aguardar... Data de nascimento? Um momento... Obrigada por aguardar... Nome da empresa? Um momento... Obrigada por aguardar... Senhora, o serviço está indisponível no momento... A senhora pode tentar mais tarde...

Puta merda! – exclamei, mas não desisti. Passados uns 10 minutos tentei de novo e em seguida de novo e, aí sim, parei. – Me venceram, por hoje – decretei.

Ao voltar à carga, mais uma penca de ligações, novos números de protocolo – a coleção aumentou – e uma novidade: – senhora, seus dados não conferem. – como assim, que dados não conferem? – ah, isso só a sua agência pode responder.

Quer dizer que me enrolaram até aqui e só agora identificaram que meus dados não conferem? Isso é caso para a Ouvidoria, outro 0800, cuja secretária eletrônica também está com a bateria fraca. E mais: só atende mediante o número do protocolo. Fiquei em dúvida sobre qual número fornecer e decidi, então, ligar para o 0800 disponível para reclamações, que confirmou o veredicto: procure sua agência. Como na agência é praticamente impossível falar pelo telefone, vou ter que ir até lá.

Enquanto isso, tenho que reconhecer uma coisa: em nenhum momento faltou educação aos frios atendentes. Eles são bem treinados para manter a calma e a educação e oferecer um serviço de merda.

sábado, 31 de julho de 2010

Nota Zero


Um primo e mais três amigos estiveram em Cuiabá esta semana, vindo de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Membros do clube Gaudérios do Asfalto, ambos tem o motociclismo por hobby e fizeram a viagem montados em belíssimas e potentes motos. Uma grande alegria essa visita, que irá terminar em Brasília, num grande encontro de motociclistas de todo o Brasil.

Mas, eu gostaria de comentar aqui algo que os deixou impressionados, afora a beleza da cidade e os encantos naturais da região: o descaso com o turismo.

Meus amigos elegeram a terça-feira para conhecer Chapada dos Guimarães e encontraram fechadas as portas de uma das principais atrações: o Véu de Noiva. Eles e outras dezenas de turistas foram barrados pelo aviso de que “o Véu de Noiva fica fechado para visitação às segundas e terças-feiras”. Meu primo tentou conversar com o guarda do local, que não quis nem ouvir as alegações – de que as pessoas se deslocam dos lugares mais distantes para conhecer aquele ponto turístico – e já foi respondendo com truculência: “acho que vocês não entenderam...”.

O que mais chateou os visitantes é que ninguém cogitou essa possibilidade quando eles procuraram informações a respeito. Informações que eles também tiveram dificuldades em conseguir, pois no hotel onde ficaram hospedados não havia sequer um folheto. “Quem sabe na padaria”, sugeriram os funcionários do hotel.

“Que vexame!”, pensei.

E é claro que meus conterrâneos, que passaram quatro dias no Mato Grosso do Sul, chegaram a uma constatação: “Nesse aspecto, Bonito está dando de 10 x 0 em vocês”.

“Que feio!”, tive que admitir.


domingo, 25 de julho de 2010

Argh! A campanha política está nas ruas!

Uma cena patética logo cedo a poucos quarteirões de casa: uma mulher esparramada em uma cadeira no canteiro da avenida, sob um guarda-sol, apoiando ou simplesmente fazendo a guarda de uma placa de propaganda política. A mesma cena eu vi repetida no decorrer do dia em outros canteiros de outras avenidas.

O que me pareceu mais engraçado é que aquelas pessoas pareciam estar na casa delas: uma garrafa térmica com água ou suco ao lado, sacolas que provavelmente tinham um lanchinho dentro e até uma rodinha de bate-papo com conhecidos.

Não faço ideia de quanto elas estão ganhando para fazer esse trabalho, mas não tenho dúvida de que vou ajudar a pagar essa conta. Aliás, os gastos com a campanha começaram mesmo pra valer. Vi inúmeros carros desfilando hoje pela rua, carregando, em grandes adesivos, a cara de candidatos às eleições desse ano. Confesso que já enjoei da cara de alguns deles no começo da campanha. Vai ser duro aguentar até o fim. Mas, o pior ainda é saber que o dinheiro para pagar essa farra toda sai do meu, do seu, do nosso bolso.


quarta-feira, 7 de julho de 2010

Bebida com bula?

Domingo de manhã, perto das nove horas, num curto trajeto, me deparo com dois acidentes. Num deles, uma caminhonete tombada em um local de farta sinalização, deixava claro a imprudência motivada pelo consumo de álcool. No outro, que mandou os ocupantes todos para o pronto socorro e por pouco não deu perda total nos dois veículos, rendeu um comentário cômico – não fosse trágico – por parte de uma testemunha que presenciou o acidente: “a mulher saiu do carro toda machucada, mas em nenhum momento largou a latinha de cerveja que estava segurando na mão”.

São tantos acidentes que poderiam ser evitados... São tantos carros destruídos... São tantas pessoas machucadas... São tantas vítimas fatais...

Imagine quanta coisa poderia ser evitada se houvesse um pouquinho mais de consciência por parte de quem assume o volante sem ter condição para tal.

Lembro de uma ocasião em que lamentei não ter impedido – se é que eu conseguiria – que um casal embriagado saísse dirigindo. A dupla não foi além da primeira esquina. Se espatifou num ponto de ônibus e consumiu o trabalho de muita gente em função do tamanho dos estragos. Nenhum dos dois morreu, mas eles chegaram bem perto.

E não se trata de gente jovem, não. São pessoas maduras, que saíram da fase de risco há muito tempo.

Tomar um choppinho ou uma cervejinha é, de fato, uma delícia – não vou negar, até porque sou consumidora. Mas a bebida talvez tivesse que vir acompanhada de uma bula.

Ora, ora, que bobagem! Ninguém, jamais, iria ler a dita cuja. No máximo, iria colocar a danada virada para baixo, do mesmo jeito que se faz com a carteira de cigarros, que é para não ver aquelas figuras horrorosas que sugerem riscos de impotência, aborto, câncer e outros problemas decorrentes do tabagismo. Ou você já viu alguém parar de fumar por conta daqueles desenhos apelativos que estampam as embalagens?

É, acho que nem bula, nem estampa, nem nada...

Apenas um pouco mais de juízo!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O mal não tem cara

De manhã cedo – cerca de 7 horas – uma senhora pediu um copo d’água no portão de casa. Achei isso muito estranho e mil pensamentos vieram-me à cabeça – ninguém pede água na casa dos outros a essa hora da manhã –, mas, embora receosa, alcancei-lhe a água por entre as grades do portão. Assim que levou o copo à boca e tirou uns três goles, ao mesmo tempo em que segurava o celular como se estivesse falando com alguém, a mulher despencou no chão. Levei um tremendo susto, mais por medo de uma encenação do que pelo fato em si da mulher estar ali caída, possivelmente precisando de ajuda. Corri de volta pra dentro de casa, chamando mais gente e quando retornei, um vizinho já estava socorrendo a mulher.

Assim que acordou do desmaio, ela explicou que é do interior, está doente e faz tratamento de saúde em Cuiabá. Estava procurando a casa onde iria se hospedar, mas acabou se perdendo. O próprio vizinho ligou para uma amiga dela e combinou de deixá-la em um ponto de referência. E eu fiquei ali, condoída, morrendo de remorso e pensando: que mundo é este em que a gente fica com medo de alcançar um copo d’água ou de socorrer uma pessoa que desmaia no portão de nossa casa?

Mas, depois de refletir um pouquinho, concluí que o mundo em que estamos vivendo é esse mesmo. E não combina com a nossa bondade, com o nosso sentimento de compaixão, com o nosso desejo de ajudar.

O perigo está morando cada vez mais perto e bate na nossa porta com a cara mais deslavada do mundo. E, sem qualquer escrúpulo, aposta justamente no nosso coração mole e dele se aproveita para promover o mal.

Então, ainda convém ter cautela. Mesmo que – e isso é muito triste – ao custo de perder uma oportunidade de fazer o bem.


terça-feira, 22 de junho de 2010

Ninguém merece!

Sabe aquela fama que os órgãos públicos têm de atender mal? Pois tem alguns que fazem jus ao conceito com honra ao mérito. Um deles, sem dúvida, é o DETRAN. Lá os servidores parecem não conhecer a palavra servir, de onde deriva sua função. Aliás, no DETRAN o mau atendimento é superdimensionado e eu acho que até o mais tranquilo dos mortais perde a paciência.

Dia desses estive lá, na sede – sim, porque há postos avançados instalados nos shoppings e ao procurar um desses fui surpreendida pela notícia de que ele havia fechado – e peguei a senha de nº 398. Um senhor me deu a senha dele, a 339, pois estava cansado de esperar (estava lá há 1h e ½). Eu também me cansaria se tivesse que esperar mais de 59 pessoas serem atendidas. Porém, com o novo número, logo fui atendida, o que provavelmente teria ocorrido de qualquer forma, porque as pessoas desistiram de aguardar e foram – quase todas – embora.

O mais interessante é que a informação que fui buscar lá foi contestada dias depois por outro funcionário (em ida a outro posto do DETRAN) e eu fiquei sem saber o que fazer. Vou ter que voltar novamente e estou reunindo paciência para tal.

Mas, vou falar, ninguém merece pagar tão caro – qualquer um que tenha um veículo sabe o que destina para o DETRAN anualmente em IPVA, licenciamento, renovação de CNH, transferência, multas... – por um serviço tão ruim.

A droga é que – e isso decerto é o que justifica o abuso – a gente não pode dar um basta e procurar a concorrência, que é o que faríamos se estivéssemos comprando um sapato, uma geladeira ou qualquer outro bem junto a uma empresa privada.

Então, tem que engolir. O que não significa que não se possa reclamar, né?


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eu falo palavrão


Você fala palavrão? Eu sim, e às vezes acho que acabo abusando um pouquinho. Mas é que tem horas que – puta que pariu – a gente tem que desabafar. Para não explodir.

Aprendi a falar palavrão quando comecei a dirigir. E parece que isso não aconteceu só comigo, não. E nem poderia ser de outra forma, caralho, porque o trânsito aqui é mesmo uma merda. E uma boa parte dos motoristas também é filho da puta.

Tem alguns palavrões que não gosto de usar, acho ofensivo (como se tivesse algum que não fosse): corno, viado, vadia... Acho que se eu chamar alguém de viado com a intenção de xingá-lo, estou ofendendo alguém que é gay.

Uma das minhas filhas – cacete, essa fala palavrão pra caralho – recomenda o uso do palavrão como se ele tivesse uma ação terapêutica. E sabe que ela pode estar certa? Já tem estudos concluindo que falar palavrão pode amenizar a dor física, aliviar o estresse... E cá entre nós, falar um palavrãozinho de vez em quando é uma terapia verbal. Que liberta, porra!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Estou de dieta

Ou melhor, estou tentando seguir uma dieta. Preciso perder uns dez dos quase vinte quilos que ganhei ao longo dos últimos anos. Na verdade, quem está mesmo fazendo regime é minha filha. Eu entrei na onda dela. Mas... Vou confessar: tá difícil.

Com a melhor das intenções, minha cunhada, que perdeu 14 quilos dos 12 que pretendia perder (uma heroína, ela), trouxe aqui para casa uma pilha de revistas do tipo “entre em forma”. “É para ajudar, tem receitas ótimas”, justificou. Só que, convenhamos, folhear esse tipo de revista deixa a gente com a maior raiva. Não tem uma mulher gorda. Umazinha sequer. Na verdade, essas revistas só têm mulherão. São mulheres sem nenhum defeito. Lindas de morrer. Dos cabelos ao dedão do pé.

Pois são elas - essas beldades - que ilustram as matérias de títulos sugestivos que te convocam a ficar magrinha, a ficar durinha, a ganhar cinturinha, a ficar gatinha. A raiva explode quando você vê que para ficar igual a uma mulher dessas, você precisaria muito mais do que uma academia e exercícios pesados 24 horas por dia. Uma varinha de condão talvez fosse a solução. Ou então um tubo onde você pudesse, na entrada, selecionar as medidas e os atributos que gostaria de agregar ao seu corpo na saída.

Mas, quer saber? Isso tudo é bobagem, porque a vida acontece mesmo é fora das páginas da revista, onde vivem as mulheres redondinhas, com suas gordurinhas e seus mil defeitinhos. Este, sim, é o mundo real.


sábado, 1 de maio de 2010

A velhinha, o cachorrinho e as latas


A “veinha” tocou a campainha em casa. Depois de atendê-la, minha filha falou: – Ela está com o cachorrinho (que a segue pra todo lado, onde quer que ela vá). Você poderia escrever sobre isso.
Sinceramente, não sei o que escrever sobre o cachorrinho, mas posso escrever um pouquinho sobre a dona dele, a “veinha”, na verdade, uma senhorinha muito simpática que é nossa vizinha e vive às voltas de recolher lata ou fazer pequenos servicinhos aqui e ali. Não é tão velha quanto é maltratada, a pele riscada pelo sol e um tanto acho que pela dureza da vida. Pequenininha, tem os cabelos branquinhos e os mantém num coquinho, às vezes debaixo de um boné vermelho.
Nem tão velhinha, nem tão pobrezinha. Ela recebe aposentadoria como viúva e por isso mesmo não se aposentou – “para não perder o outro benefício”. Tem casa própria e a está ampliando. Nem por isso recusa uma oferta de algum alimento ou de uma roupa usada. E mantém sua rotina de ficar andando, sempre sob o sol forte, apanhando lata de casa em casa, no posto, no bar, na rua.
De vez em quando, as sacolas com latinha são tantas que ela pede para a gente guardar até ela concluir o recolhimento. Mais tarde volta e, então, num cabo de vassoura, encaixa sacola por sacola e, com o fardo sobre os ombros, retoma o caminho de casa. Isso quando não chega com o carrinho de mão carregado de latinhas e nessas ocasiões ele me parece ainda mais pequena.
Às vezes nos encontramos na feira do bairro e ela se aproxima, contente, para um abraço. Já contou que tem um filho e uma nora, embora nossas conversas girem mais sobre o tempo, sobre o preço das coisas, sobre a corrupção – e ela tem opinião bem formada sobre isso. O que me faz admirar ainda mais essa grande mulher que é essa miúda “veinha”.
Ah, o nome dela é Maria.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Passe adiante

Como quase todo estudante universitário – e especialmente da área de Comunicação – já tive minhas inclinações pela esquerda política brasileira. E olha que peguei já o finalzinho da ditadura (jamais esquecerei a imagem do paredão formado pela polícia armada com cassetetes e gás pronta a impedir, sob o manto do medo, qualquer movimentação, no caso, dos estudantes). A democracia foi, sem dúvida, muito bem-vinda.

Mas, convenhamos, o que se vê hoje já não é mais uma democracia. Estamos, sim, vivendo sob o porre dela. Excesso de direitos e um mínimo de deveres constroem uma sociedade fragilizada, refém da violência e – tanto quanto no outro regime – do medo.

Vivemos entocados, atrás de muros altos e, tanto quanto podemos, munidos de mil artimanhas para nos proteger da violência. Violência que se alimenta da falta de vergonha, da falta de limites, da falta de punição e da falta de leis mais severas que efetivamente funcionem. A pretexto de não punir o inocente, beneficia-se o infrator.

Barbaridades são cometidas todos os dias sob os nossos olhos chocados. Vivemos acuados. Vivemos assustados. Vivemos entristecidos. Chegamos ao ponto de questionar os nossos valores.

Felizmente, mesmo balançados, continuamos a fazer parte da corrente do bem. E mantendo princípios fundamentais, como caráter, retidão, honestidade, respeito, compaixão, solidariedade...

Precisamos, sim, é fortalecê-los.

E passar adiante.

domingo, 18 de abril de 2010

Inveja

Inveja! Que atire a primeira pedra quem não tem nem que seja um tiquinho assim ó. É claro que eu não estou falando daquela inveja capaz de secar pimenteira que algumas pessoas possuem e, segundo dizem, é capaz de arrasar um canteiro inteiro de flores. Na verdade, estou falando de invejinha – assim mesmo, no diminutivo –, de coisinha pequena.

Estou me referindo àquele incomodozinho que a gente sente quando o vizinho compra aquele carro que a gente vinha namorando há um bom tempo. Ou de quando aquela conhecida passa num concurso onde vai embolsar, só de gratificação, mais do que a gente leva seis meses para ganhar. – E por que não eu? – é inevitável não pensar, ao mesmo tempo em que – embora a gente não queira admitir – se engole aquela sensação de pesar pela conquista alheia.

De minha parte, sempre considerei esse sentimentozinho inofensivo, pois apesar dele, continuo me definindo como uma boa pessoa, incapaz de desejar o mal alheio. Mas, será isso mesmo? O dicionário é muito claro na definição do termo inveja: desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem. Pensando melhor, talvez eu tenha que rever minhas ideias a respeito. De repente, não tem isso de ser mais ou menos invejoso. E nem de se  encher a boca para dizer "eu tenho inveja, mas é uma inveja boa". Ou "não é invejona, é invejinha". 

O uso da palavra no diminutivo, de fato, não diminui seu sentido. E, sendo assim, lamento informar, mas acho que somos todos – ou pelo menos a grande maioria da humanidade –, por natureza, invejosos.

Ai de nós!

domingo, 7 de março de 2010

As novas donas do asfalto


A cada dia vejo aumentar o número de mulheres pilotando moto nas ruas da cidade. Principalmente nos semáforos é que a gente vê que elas, as motoqueiras, estão cada vez mais presentes no trânsito. São as novas donas – ou seriam damas? – do asfalto.

A par de seu porte elegante – boa parte delas metidas em terninhos e, invariavelmente, sobre uma moto do tipo Biz - elas têm uma particularidade que as distingue no trânsito: andam no ritmo dos carros. Também não ficam ziguezagueando entre os veículos e muito menos furam o sinal.

Eu sempre dirigi devagar. “A tia anda em 20”, exageravam meus sobrinhos. E nesse meu ritmo, consegui evitar muitos acidentes. Uma ou outra ocorrência foi inevitável, sempre por conta da imprudência de outros motoristas.

Na minha concepção, carro (ou moto) é apenas um meio de facilitar a vida, de proporcionar uma locomoção mais rápida. Não mágica. Assim é que acho que essas mulheres em suas “motinhas” estão muito mais livres de se envolverem em acidentes, ao contrário da grande maioria dos motoqueiros que faz da moto uma arma e pensa que pode tudo. Até o ponto em que os vemos estatelados no asfalto e, drasticamente, mudando o destino de sua viagem.