quinta-feira, 20 de março de 2014

Eu e a panela de pressão


Nunca me dei muito bem com as panelas. Na divisão de tarefas, sempre me couberam melhor a vassoura, o balde e o pano de chão. Provavelmente pela reconhecida falta de habilidade com elas, as panelas.
Com o passar do tempo, às vezes pela necessidade e gradativamente pelo prazer, fui me afeiçoando a elas e exercitando, com elas, meus acanhados dotes culinários. Um macarrãozinho aqui, um arrozinho ali, um bifinho acolá e... uma lacuna imensa no cardápio: o feijão.
Por conta de um acidente doméstico que eu não cheguei a presenciar, mas que me traumatizou em razão do rombo provocado no teto de casa em decorrência de uma explosão, a panela de pressão sempre me amedrontou. E se transformou numa barreira entre eu e o feijão (cozinhar feijão em panela comum, não dá, né?).
Os anos foram passando e sempre que colocar a comida na mesa dependia de mim, a lacuna estava lá, gritando nos meus ouvidos a bendita ausência do feijão. Vez ou outra pedia a minha cunhada ou à vizinha que cozinhassem o feijão para mim, o que elas faziam na minha própria panela de pressão.
E assim foi até que um belo dia eu decretei que estava na hora de mudar isso. “Depois de superar tantos desafios, não será uma panela de pressão que irá me vencer”, filosofei e meti a mão na massa, digo no feijão. E deu certo, tão certo que nunca mais faltou feijão na mesa. Até sobrou ousadia para preparar um prato que amo de paixão: lagarto de panela de pressão!

terça-feira, 11 de março de 2014

O Dia do Primeiro


Acho que toda mãe tem que ter um pouco de psicologia. Minha mãe mesmo era exímia nessa arte. Ela sabia acalmar e comandar a criançada como ninguém. Era jeitosa com os pequenos desde que eles eram bebezinhos. E eu aprendi com ela várias “técnicas” que me ajudaram muito, embora eu não tivesse nem de longe a paciência dela.
Educar filhos requer um bocado de habilidade. As diferenças entre eles são gritantes e a individualidade de cada um tem que ser preservada. Mas, o bicho pega mesmo é quando eles entram em rota de colisão, disputando a mesma coisa: o único brinquedo, escolher o canal da televisão, definir quem senta na direita ou na esquerda, enfim, o que é muito comum quando existe pouca diferença de idade entre os irmãos, como aconteceu com as minhas filhas.
Pois em casa, antes da gente morrer de raiva, ficou estipulado o Dia do Primeiro, que funcionava assim: num dia uma, no outro dia a outra, elas viviam o Dia do Primeiro e, então, isso determinava a primazia em tudo, inclusive escolher quem sairia primeiro da cama, quem tomaria o banho primeiro, quem comeria a última bolacha do pacote... Como elas iam de ônibus escolar para o colégio, até isso entrou pra lista: a que estava no Dia do Primeiro tinha a “grande” vantagem de entrar primeiro no ônibus!
A coisa ficou tão rigorosa e elas levavam isso tão a sério que o Dia do Primeiro passou a valer para absolutamente tudo, inclusive para coisas tão banais quanto abrir e fechar a porta, acender e apagar a luz, entrar e sair do elevador...
As brigas diminuíram consideravelmente, porque, afinal, ambas sabiam muito bem que, embora tivessem que se submeter ao reinado da outra num dia, no outro, eram a própria rainha.
Resumindo: Foi uma mão na roda esse tal Dia do Primeiro! 

sábado, 1 de março de 2014

Gripe


Acordei assim: nariz escorrendo, garganta doendo, corpo ruim... Até o meu café cappucinno que abre o meu dia com mais sabor estava com gosto amargo.
– Droga de gripe – pensei, já me preparando para um dia maçante.
Quer coisa mais sem-graça do que gripe? A cabeça fica pesada, os ossos parecem ter sido moídos, os olhos ficam lacrimejando e o nariz escorre sem parar.
Com todos esses sintomas, o melhor mesmo seria ficar o dia inteiro de molho, como bem sugeria uma antiga propaganda: “Gripe? Vitamina C e cama”. Só que isso quase sempre é impossível, então...
Mas, por mais incrível que possa parecer, conheço uma pessoa que não apenas é defensor da gripe, como recomenda uma boa gripe para efeitos de promover uma limpeza no organismo.
Esse meu amigo é reflexologista e, segundo ele, através da gripe, eliminamos, junto com as secreções, impurezas do organismo que provocam doenças.
“Bons tempos eram aqueles em que as crianças viviam ranhentas”, diz ele, “ranhentas, mas saudáveis”.
Pois não é que fui uma ranhentinha dessas quando criança? Eu, meus irmãos e todos os meus vizinhos. O que não nos impedia de brincar e correr o dia inteiro, parando de vez em quando para limpar o nariz num lencinho ou mesmo na manga do casaco.
E, quer saber, não me lembro de frequentarmos consultórios médicos. Acho até que jamais estive em um durante toda a minha infância. Ao contrário das crianças que, hoje em dia, não dão folga ao pediatra.