sexta-feira, 27 de maio de 2011

O homem da cobra

Há quanto tempo eu não via um “homem da cobra”, aquele artista-vendedor de medicamentos que se apresenta nas praças das cidades e que popularizou a expressão “fala mais que o homem da cobra”. Pois bem, o homem da cobra estava lá, numa barraquinha na feira de domingo, polarizando a atenção das pessoas e prometendo mostrar uma tal cascavel que, embora eu tenha permanecido um tempo por ali, cansei de esperar para ver. Também não confirmei se ele serviu a poção que estava sendo preparada num pilão onde de pouco em pouco ele acrescentava uma pitada de diferentes tipos de ervas, e que prometeu compartilhar gratuitamente com quem quisesse.

Com um cocar na cabeça e se passando por índio – embora de índio ele não tivesse nada mais do que o enfeite no cocuruto – o sujeito falava tanto quanto o homem da cobra e ilustrava sua conversa com figuras estampadas em folhas amareladas e puídas que despertavam a atenção dos passantes. Fotografias e desenhos de partes do corpo humano tomadas de úlceras, para cujos males ele indicava o remédio, povoavam aquelas páginas. Algumas fotografias de índios nus também faziam parte do acervo mostrado, com a indicação de que se tratava de parentes seus. “Esta é minha sobrinha, aquele é meu irmão”, apontava nas fotos desgastadas, atribuindo a boa forma física da “parentela” aos costumes indígenas e ao uso constante das ervas.

Enquanto desfiava um rosário de doenças que podem acometer o ser humano, o homem exibia uma coleção de vidros contendo vermes, lombrigas e outros bichos extraídos, segundo ele, de pessoas doentes. E o povo se acotovelava para ver aquele espetáculo de horror. É assombroso como as pessoas têm prazer diante da visão do que é sinistro.

Bem, como não fiquei para o chá, não vi a cobra. E nem o que esse marketing todo rendeu ao dono da cobra. Quem sabe num outro domingo...

2 comentários:

  1. Será que você ia gostar desse "chá"?
    Fiquei curiosa!

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  2. Quando era rapazinho cheguei a ver alguns, camelôs utilizando a tal da cobra. Como sou alérgico a esse animal e seus assemelhados, não me apraz vir a ve-los de quando em quando.

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