segunda-feira, 2 de julho de 2012

Farofa de banana



(Escrevi esta crônica, fictícia, durante o curso de Leitura e Escrita Literária -  A Crônica de Cada Um, promovido pelo SESC e tendo como professor o excelente Luiz Percival Leme Britto)

Para minha surpresa, já que não sou dada a muita frescura com essa coisa de comida, acordei com uma vontade medonha de comer farofa de banana. Nem farofa de ovo, nem farofa de bacon, nem farofa de couve, nem farofa de coisa nenhuma. Farofa de banana. Simplesmente!
Ainda de camisola e andando pela casa enquanto tomava a minha primeira xícara de café, fui espalhando a notícia para toda a família:
– Vou morrer se não comer farofa de banana! – exagerei.
– Ih mãe! sem essa de farofa, eu tô a fim é de uma bela porção de peixe frito! De Pintado, de preferência!
– Quem faz uma farofa de banana muito boa é a Dona Eulália – falou Janete, a nossa empregada, já tirando o corpo fora.
Dona Eulália é a vizinha de frente e pedi, então, a Janete que fosse até a casa dela fazer a encomenda. Janete não tardou com a resposta:
– O filho dela disse que ela foi pra Livramento e só volta na semana que vem. “Agora quãndo!, mamãe tá de catcho com um pau rodado e só quer saber de dançar rasqueado lá pras bandas de Poconé”, ela falou, imitando o rapaz, e nos fazendo rir.
Me servi de mais uma xícara de café, liguei o computador e fui pesquisar no Google uma receita de farofa de banana. Encontrei mil. Ou mais. Mas nenhuma delas me convenceu a ir perder meu tempo na cozinha. Eu não combino – nunca combinei – com fogão. Nem com nada que tenha a ver com cozinhar. Esse é um verbo que eu não gosto de conjugar. Pelo menos não na 1ª pessoa.
Mas a bandida da farofa não saía do meu pensamento. E nem das minhas narinas. Tudo cheirava à farofa de banana. O sabonete, a colônia e mesmo o chimarrão que Janete me alcançou, junto com uma ideia que ela disse que teve “assim, num estalo”:
– Sabe a mãe do meu namorado? (Eu nem sabia que ela tinha namorado). O nome dela é Rita e ela é cozinheira de mão cheia. Faz uma comida que é daqui ó! (E sacudiu o lóbulo da orelha) Pois, então, acho que ela topa fazer uma farofinha pra senhora.
Fizemos uma roda em torno de Janete enquanto ela conversava, pelo telefone, com a tal Rita.
– Sei... comprar ingredientes de primeira. O quê? A farinha de mandioca tem que buscar em Santo Antônio do Leverger? Não? Ah, entendi! é pra comprar farinha na Praça da Mandioca, que vem direto de Santo Antonio do Leverger. Sei...
A um sinal dela, minha filha pegou um bloquinho e foi anotando...
– Como é que é? A banana tem que estar bem no ponto? Ponto de quê? Sei... Entendi!  Ponto de fazer a farofa!
E enquanto nora e sogra trocavam algumas considerações sobre o namorado/filho, peguei a bolsa, as chaves do carro, e me mandei às compras.
Felizmente, o trânsito ajudou e consegui comprar os ingredientes em pouco tempo e bem a tempo de entregar o carro ao mecânico, que fora buscá-lo, como combinado, na porta de casa, para uma revisão.
Um pouco mais tarde, enquanto lia um artigo no jornal, Janete avisou:
– Rita chegou e já se instalou na cozinha. Onde, mesmo, estão os ingredientes da farofa?
– Os ingredientes da farofa? – Demorei um pouco para me sintonizar. – Ora, a farinha, a banana e tudo o mais estão ... Estão no carro. No carro que está na oficina!
Uma hora depois, estávamos todos – inclusive a Rita – no restaurante mais cuiabano de Cuiabá.
Fui a primeira a correr o buffet generoso. Um pouco disso, um pouco daquilo e quando vi, tinha construído uma montanha sobre o prato. Janete, que vinha logo atrás de mim, me alertou:
– A senhora esqueceu de servir a farofa de banana!
E eu:
– Farofa de banana? E quem, lá, quer farofa de banana com tanta coisa gostosa para comer, como esse divino Pintado frito e esse pirão de encher a boca d’água?

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